Quer receber os textos desta coluna em primeira mão no seu e-mail? Assine a Newsletter da Pública, enviada sempre às sextas-feiras, 8h. Para receber as próximas edições, inscreva-se aqui.
Cheguei otimista das férias, tiradas às vésperas das manifestações contra a anistia aos golpistas e ao PL da blindagem, que voltaram a reunir multidões saudavelmente patriotas em cidades e capitais brasileiras. Em algumas delas, embaladas por música brasileira de primeira. Viva a primavera.
Digo que a mobilização tem saúde porque ali se defendeu sem ódio mas com firmeza o interesse de todos os brasileiros que querem viver em uma democracia – do repúdio ao golpe de Estado à negativa de conceder permissão para que os parlamentares desfrutem da impunidade de seus crimes.
Uma ofensiva contra a “mentalidade tacanha” do Congresso, como qualificou Gleisi Hoffmann ao explicar a derrota do governo na votação desta quarta-feira na Câmara, que derrubou o IOF e também o aumento de impostos de setores mais do que suspeitos: bets e fintechs – muitas delas integrantes do crime organizado.
Em contraste com as bandeiras dos Estados Unidos, empunhadas pelos que gostariam de livrar Jair Bolsonaro e os generais golpistas da cadeia, retomamos, naquele domingo, o verde-amarelo sequestrado por falsos patriotas.
Para completar, os que conspiravam contra o país tomaram um golaço da nossa diplomacia. Saíram murchos, depois que o presidente dos Estados Unidos ligou para o presidente do Brasil na última segunda-feira.
Afinal, a lealdade ideológica tem limite quando se trata de negócios entre os maiores países das Américas – e o preço do café também.
Lula, que já vinha recuperando a popularidade por desempenhar com dignidade o papel de chefe de Estado no embate com Donald Trump, viu suas chances de reeleição aumentarem. De acordo com a pesquisa Genial/Qaest divulgada ontem (9), ele bate todos os possíveis oponentes em 2026, inclusive Tarcísio de Freitas, consolidando uma vantagem de 12 pontos sobre o governador de São Paulo.
Tarcísio, que de bobo e democrata não tem nada, largou os paulistas envenenados com metanol (ah! que tomem Coca Cola) e se mandou para conspirar
com o centrão, ainda curtindo a ressaca da aprovação unânime, pressionada pelas manifestações, da isenção ampliada do Imposto de Renda – um alento para milhões de trabalhadores e um pequeno passo em direção à almejada justiça tributária.
O recado do “candidato a candidato” do bolsonarismo em 2026 (Bolsonaro ainda não largou o osso) a águias e tacanhos foi claro: vamos deixar o governo sem dinheiro para o país desabar junto com a popularidade de Lula. De quebra, afagamos nossos aliados com um pé na exploração da pobreza e outro na criminalidade. A saber, bets e fintechs, essas últimas repetidamente detectadas em tenebrosas transações com o crime organizado.
Afinal, ao contrário dos tomadores de drinques, o PCC tem presunção de inocência, como explicitou o governador ao declarar com todas as letras que a facção nada tinha a ver com o metanol na bebida antes mesmo da conclusão das investigações.
Prepare seu coração democrata porque agora rasteiras e caneladas vão se suceder, não apenas em direção ao governo, mas o que é pior, contra o interesse público. Pode sobrar só para a Polícia Federal combater corrupção e crime organizado e para o STF restabelecer a governabilidade e os princípios constitucionais.
Pautas mais progressistas como o fim da escala 6×1 e o passe livre nos transportes tendem a emperrar no Congresso, que tem a grana como bandeira.
Mas o Brasil segue, com um tropeço aqui e ali, para o mais esperado compromisso internacional do país neste ano, a COP30, de Belém. Apesar das previsíveis propagandas da Petrobras para jogar verde no petróleo e do passa-pano para o agronegócio desmatador, Lula chega forte à conferência presidida pelo Brasil.
E aqui, vale lembrar: o mais bonito da conferência do clima e também o mais complicado, como sempre diz a colega Giovana Girardi, é que tudo ali é resolvido por consenso, o que acaba por reduzir os avanços ao mínimo denominador comum. Um ritmo frustrante para a emergência climática mas um processo totalmente baseado no diálogo para resolver problemas. E isso é valioso.
O multilateralismo é a resposta à violência e ao autoritarismo como sabe Lula.
Não é pouco no mundo dominado pela arrogância de Donald Trump, mas que aconselha colocar os óculos na esperança como cantava Elis Regina.
Funciona melhor quando reunimos forças para ir às ruas pelo país que queremos e admiramos a coragem lúcida da Flotilha da Liberdade pela Palestina que, sem desistir de remar, nos mostra o quão longe ainda estamos da paz.
PS. O Bom dia, Fim do Mundo voltou cheio de informação e esperança nesta primavera. Estaremos mobilizados pela COP30, não perca a nova temporada. Nos tocadores de podcast, no YouTube da Pública, na TVT, Canal Universitário e C3 TV.