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O histórico de Zambelli e seu assessor investigado no caso do hacker Walter Delgatti

23 de agosto de 2023
14:00
Este artigo tem mais de 1 ano

Jean Hernani Guimarães Vilela era auxiliar parlamentar júnior do gabinete da liderança do governo de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso quando sua esposa, Monica Romina Santos de Sousa, abriu uma empresa de marketing digital na qual é a única sócia. No entanto, a empresa, localizada em Águas Claras, no Distrito Federal, leva o nome do esposo no registro da Receita Federal: Hernani Filmes e Marketing Digital Ltda. Em funcionamento desde abril de 2022, ao menos 13 deputados do Partido Liberal (PL) já foram clientes da empresa nas últimas eleições, que lucrou mais de R$340 mil reais, segundo dados da Justiça Eleitoral. Entre os clientes, está Carla Zambelli (PL-SP). 

No início deste ano, Jean Hernani se tornou secretário parlamentar da deputada, assumindo o posto após passagem pelo gabinete da liderança do governo de Bolsonaro. Neste mês, ele foi alvo de quebra de sigilo bancário e busca e apreensão, apontado pelas investigações da Polícia Federal (PF) como um dos envolvidos nas transações financeiras com o hacker Walter Delgatti, que teria sido pago por Zambelli para inserir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em coletiva, a deputada negou o crime.

A decisão de Moraes que ordenou as ações da PF registra que teria partido de Hernani uma transferência de R$ 3 mil ao hacker em outubro de 2022 pelos serviços prestados — período em que ele ainda era da liderança do governo no Congresso. Para o ministro Moraes, a invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) teria como objetivo “expor eventuais vulnerabilidades dos sistemas do Poder Judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação”. 

Procurado pela Pública, Hernani afirmou que “Walter foi contratado para execução e melhorias no site da deputada Carla, e que recebeu um valor de entrada e não executou os serviços”. Hernani encaminhou à reportagem o que seria a proposta de trabalho encaminhada por Delgatti.

Reprodução de apresentação feita por Delgatti sobre o sistema eleitoral

Antes de trabalhar para Zambelli, Jean Hernani atuou como fotógrafo para a ex-deputada Joice Hasselmann quando ela era líder do governo no Congresso.

Em agosto de 2020, Zambelli apresentou uma notícia crime à Procuradoria Geral da República (PGR) argumentando que Hasselmann teria ordenado que seus servidores criassem “perfis falsos em redes sociais com o fim de realizar postagens com ofensas à honra de seus adversários políticos”. Como funcionário de Hasselmann à época, Hernani foi citado na denúncia da atual chefe. Ouvido pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, ele confirmou a denúncia de Zambelli contra Hasselmann, mas o inquérito foi arquivado. 

No caso de sua esposa Monica, ela prestou serviços de criação e manutenção de redes sociais para Zambelli como pessoa física entre junho de 2021 e março de 2022, faturando R$26 mil via cota parlamentar no período. Já com a empresa ativa, prestou serviços para Zambelli entre outubro de 2022 a abril de 2023, faturando R$ 94 mil.

Como citado no início do texto, foram 13 os deputados — oito se elegeram — que contrataram a empresa de Monica nas eleições para serviços de redes sociais: Silvia Waiãpi (PL-AP); Cabo Gilberto Silva (PL-PB); Coronel Meira (PL-PE); General Girão (PL-RN); Coronel Chrisóstomo (PL-RO); Daniela Reinehr (PL-SC); Netinho da Bahia (PL-BA); Coronel Aginaldo (PL-CE); Tio Trutis (PL-MS); Major Fabiana (PL-RJ); Capitão Araújo Lima (PL-SE) e Bruno Zambelli (PL-SP) — irmão de Carla Zambelli — eleito deputado estadual por São Paulo.

De acordo com nota enviada à Pública assinada pelo casal, apenas Mônica é a sócia porque Hernani tinha uma empresa MEI em seu nome e teve um “problema financeiro com ela”. “Minha esposa, Monica é administradora e cuida de tudo na empresa, eu faço os trabalhos e lido diretamente com os clientes”. Sobre os contratos com os candidatos, o casal alega ter feito “um trabalho árduo” para convencê-los que a empresa era qualificada. “Foram meses de negociação até conseguirmos os contratos”, diz. As respostas do casal na íntegra podem ser lidas aqui.

Também um assessor de Bruno Zambelli — Renan Cesar Silva Goulart — é investigado pelos mesmos motivos que Jean Hernani. Ambos, de acordo com investigação da PF citada na denúncia de Moraes, teriam transferido um total R$13.500,00 a Delgatti. Hoje (23), a relatora da CPMI do 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama, pediu a quebra de sigilo telefônico e telemático, e o acesso aos relatórios de inteligência financeira, elaborados pelo Coaf, de Carla e Bruno Zambelli, além do assessor do deputado estadual, Renan Cesar. Os requerimentos serão analisados pela CPMI na sessão de amanhã, quinta-feira (24). 

Em retorno, o deputado Coronel Meira afirmou que contratou a empresa de Monica Romina para serviços de “comunicação visual com edição de vídeos” depois de avaliação de portfólio e custo com outras concorrentes. “Nossa relação com a empresa mencionada está exclusivamente ligada ao trabalho de comunicação visual que sempre foi executado com rigor”, complementou o deputado.

Todos os citados foram procurados pela Pública. Caso se manifestem, o texto será atualizado.

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Reprodução

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