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Reportagem

Conheça os chefões da máfia da FIFA

O guia de Andrew Jennings para ativistas: nunca diga “Fifa”, nomeie e envergonhe cada um dos bandidos, ensina o jornalista britânico

Reportagem
8 de janeiro de 2013
17:00
Este artigo tem mais de 11 ano

Em todos os bares do mundo torcedores de futebol, irritados pela contínua corrupção da Fifa, gritam “A Fifa é uma máfia!”

Mas máfia? Agora eles foram longe demais, não?

Não. Confie nos torcedores. Eles fazem um bom julgamento. Quando a presidente Dilma recebe os líderes do futebol mundial ela está acolhendo uma gangue que preenche todos os requisitos na definição acadêmica do que vem a ser um Sindicato do Crime Organizado.

1.  A máfia

Olhe para o mundo do presidente Blatter: um chefe poderoso, compromissado com o próprio enriquecimento através de atividades criminosas que envolvem corrupção e propinas no fechamento de contratos. E ainda há a manipulação de resultados das partidas e a extorsão de bilhões de dólares de governos ingênuos – como o do Brasil.

Essa família criminosa tem até mesmo tribunais privados da Fifa e um sistema de disciplina que não pode ser contestado nos tribunais civis. E tem a cultura omertà, um código de honra e silêncio – você já ouviu algum funcionário da Fifa denunciado seus chefes?

Você já ouviu falar das Cinco Famílias de Nova Iorque, que dominavam a máfia italiana nos EUA sob um poderoso chefão? Pois a Fifa tem seis “famílias”. São as confederações que dominam cada continente: a Conmebol na América Latina, a Concacaf no Caribe, América do Norte e Central, a Uefa na Europa, a AFC na Ásia, A CAF na África e a OFC na Oceania.

Como os mafiosos de Nova Iorque, cada grupo é semi-autônomo e comanda seu próprio crime organizado, mas todos devem uma fidelidade suprema ao Capo di tutti i capi em Zurique.

Sempre me perguntam: “Depois de você ter exposto tanta corrupção na Fifa, como o Blatter ainda está no poder?”

Aqui vai a resposta. Não importa o que os torcedores, a mídia ou os políticos pensem ou digam sobre esses impostores, Blatter é intocável.

A Fifa é o conjunto de 209 associações nacionais. Elas, e ninguém mais, têm o poder de voto nos congressos da Fifa. A máquina de Blatter é lubrificada por doações para “desenvolvimento” de milhões de dólares para essas associações, que não são auditados, e pelo enorme comércio clandestino dos preciosos ingressos da Copa do Mundo, que vão parar debaixo do tapete.

O presidente Blatter se refere à sua “família do futebol”. Vamos corrigir isso: é a Família do Futebol do Crime Organizado.

Mas o que sabemos sobre Don Blatter e seus gângsteres que eles não querem que seja publicado?

Dois anos atrás uma fonte na Europa me deu uma lista de 170 propinas pagas para os funcionários do alto escalão da Fifa, totalizando o incrível valor de US$ 100 milhões.

Os nomes de João Havelange e Ricardo Teixeira estavam naquela lista e eu tenho orgulho de ter ajudado a forçar a saída do velho do COI e de seu ex-genro da CBF.

Curiosamente, a lista de propinas revela que mais de US$10 milhões foram pagos em dinheiro vivo para uma pessoa anônima. Anos atrás me contaram que Blatter era esperto o suficiente para não deixar rastro de documentos sobre as suas propinas. Então será essa sua lista de propinas nos contratos de marketing? Claro que ele nunca responde às  minhas perguntas.

E tem outra coisa que eu descobri sobre Don Blatter. Ele é um predador sexual, e costuma se aproveitar das funcionárias do seu império na Fifa. Elas são convocadas para uma suíte nos melhores hotéis do mundo e na porta do quarto são confrontadas com a visão do Líder Máximo abrindo seu robe de seda – e revelando seu equipamento de pontuação.

2.  Os membros da organização criminosa

Agora, vamos nomear e envergonhar o assessor pessoal de Blatter, Walter Gagg. Walter trabalha para Blatter na Fifa desde os anos 70 e como seu chefe, vê as mulheres no futebol como oportunidades sexuais. Uma vez Walter compartilhou uma amante com Havelange. Quando o presidente descobriu, a mulher foi demitida.

Walter toma mais cuidado agora e fica longe das vítimas de Blatter. Seus alvos são mulheres bem jovens. Um amigo em Zurique me deu alguns e-mails de Walter. Ele havia deixado os e-mails no seu computador e eles acabaram sendo fonte de diversão para todo mundo no prédio da Fifa.

Mas cuidado! Walter tem um novo título – chefe da segurança dos estádios – e ele usa isso como uma desculpa para visitar o Brasil e dar uma olhada nas garotas.

Uma foto pode valer mil palavras. Olhe para o caso amoroso entre Ricardo Teixeira e o secretário geral da Fifa, Jerome Valcke. Se o brasileiro é, como vocês sabem, um ladrão, fraudador e mentiroso certificado que voou para a Flórida para escapar da Justiça, o que isso diz sobre o secretário-geral do futebol?

Isso mesmo! Você acertou! Valcke é um mentiroso profissional. A reputação dele foi jogada no lixo em um tribunal de Manhattan em 2006 quando o MasterCard processou a Fifa por mentir para eles sobre um contrato de patrocínio. Em segredo, Jerome Valcke, então Diretor de Marketing da Fifa, estava fazendo acordos sujos com o rival Visa.

O advogado Martin Hyman, do MasterCard, disse ao juiz “Nós aprendemos com o Grupo de Marketing da Fifa sobre os seis graus de prevaricação: mentiras brancas, mentiras comerciais, blefes, mentiras puras, mentiras diretas e perjúrio. O senhor Valcke mentiu até quando testemunhou sobre suas mentiras. Mas no mundo da Fifa, isso é perfeitamente normal.”

O juiz concordou e condenou Valcke como mentiroso. O presidente Blatter não teve escolha e demitiu Valcke. Isso foi em dezembro de 2006.

Mas seis meses depois um novo Chefe Executivo da Fifa foi nomeado. Adivinhe? Era Jerome Valcke.

Por que Blatter mudaria de ideia? Estaria Valcke o chantageando?

Pode ser. Em abril de 2001, Valcke fazia parte de um grupo de empresários tentando fazer negócios com a Fifa. Durante as negociações – que acabaram fracassando – Blatter enviou uma carta a Valcke (e nós temos essa carta) com um surpreendente comentário: “A posição da Fifa de nenhuma maneira será alterada por ameaças ou tentativas de chantagem”.

Chantagem é crime, não é? É isso o que os mafiosos fazem. Então Valcke deve ser da Máfia.

3.  De tio para sobrinho

A Família Fifa do Crime Organizado realmente quer dizer família. Sepp Blatter tem o poder de ganhar os lucrativos direitos televisivos para a Copa de qualquer canal do mundo. Ele deu 50% destes direitos para a Infront, uma empresa suíça de marketing de esportes. O chefe da empresa é seu sobrinho, Philippe Blatter.

Mas o sobrinho Philippe ganha ainda mais. O tio Sepp tem o ajudado a adquirir um investimento na empresa Byrom que – comercializando sob o nome MATCH – tem o monopólio do negócio lucrativo das acomodações para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

São aqueles camarotes exclusivos que estão sendo construídos no Maracanã e em outros estádios para os homens de negócios mais ricos do mundo.

Atenção, amigo brasileiro: não pense nem por um segundo que você poderia comprar um lugar ali e provar a experiência gourmet que eles oferecem. Contente-se com um hambúrguer medíocre do McDonald’s e com um lugar, se você tiver sorte, atrás do gol.

A empresa Byrom é dos irmãos mexicanos Jaime e Enrique. Sua família tem tradição no futebol mexicano, e eles são melhores amigos do recebedor-de-propinas Havelange.

Aqui um pouco sobre a Big One. Ela é a agência de ingressos oficial da Fifa. Incrivelmente, controla a venda de todos os ingressos para 2014.

Ainda nesse ano eu vou escrever a história (eu tenho os documentos!) sobre o que exatamente eles, da Big One, fizeram para persuadir os líderes da Fifa a dar essas maravilhosas e lucrativas concessões.

Então o sobrinho presidencial está indo muito bem com o evento que está sendo pago pela população que paga impostos no Brasil. Eu tenho que perguntar, será que ele está pagando propina para o tio Sepp?

A verdade é que o Brasil está sendo seriamente ferrado.

Os Byrom fracassaram em 2010 na Copa da África do Sul, porque cobraram muito caro por pacotes de acomodação. Eles admitem que a perda foi de pelo menos US$ 50 milhões. Agora, planejam recuperar o que perderam em 2014 e aindalucrar mais. O tio e seu companheiro Ric Trapaceiro convenceram Lula a garantir para a Byrom e outros parasitas da Fifa isenção nos impostos brasileiros sobre seus lucros. Talvez os torcedores devessem protestar na frente do escritório de Jaime e Enrique no Rio.

Tem mais. Você sabia que existe um clube maçônico secreto para empresários conhecido como Corporação McKinsey? Eles falam uma língua com barulhos incompreensíveis, que chamam de “jargão da administração”. E também parecem se assemelhar à máfia.

A McKinsey foi contratada por Sepp Blatter no final dos anos 90 para “reorganizar” a Fifa. Ele assinou cheques gordos para a McKinsey.

Adivinhe de novo! O sobrinho Philippe era então sócio da McKinsey. Além dele, tinha um camarada chamado Markus Kattner. Depois de alguns anos, o sobrinho Philippe passou a ser chefe na Infront. O Sr. Kattner também deixou a McKinsey – para se tornar o Diretor de Finanças na Fifa. Pense no quanto ele deve saber sobre os acordos de dinheiro sujo feitos no bunker de Blatter em Zurique.

Esperamos que jornalistas brasileiros – e torcedores – façam algumas perguntas a ele.

4.  O Bullying da Fifa

Homens minúsculos se envaidecem e se tornam arrogantes quando vão trabalhar para a Fifa. Um típico exemplo é o Sr. Jörg Vollmüller, que detém o grande título de Chefe do Departamento de Comércio Legal da Fifa.

E o que ele faz? Ameaça governos que não se curvam à Fifa e a seus patrocinadores, como a Coca-Cola. “Beije a bunda de Blatter”, ele diz, “ou vocês não vão ter a Copa do Mundo”.


 O governo Lula então se viu forçado a beijar a bunda de Blatter, de Ricardo Teixeira, de José Maria Marin e Marco del Nero – e de sua namorada, Carolina Galan – além de Joanna Havelange e João Havelange.

No meu site tem um exemplo das cartas de bullying que o sr. Vollmüller gosta de escrever. Essa é para a associação de futebol da Holanda, dizendo que o governo holandês não está beijando bundas o suficiente, já que não dá abonos tributários o suficiente e, portanto, não vai levar a Copa do Mundo.

De fato, não levou.

Eu gostaria de ver o Sr. Vollmüller andando por uma favela e instruindo os moradores a se mudarem porque Sepp Blatter quer construir uma estrada ou um hotel. Aí nós veríamos o quão valentão ele é.

Atenção: tenham cuidado também com Franz Beckenbauer. A partir de agora ele vai entrar e sair do Brasil, procurando boas oportunidades de negócio. Olhe atentamente e você vai ver que um passo atrás de Franz está um cavalheiro volumoso com cabelo branco à escovinha. Voilá. Conheçam Fedor Radmann. Fedor é da “Máfia de Munique”, uma subdivisão da Família Fifa do Crime Organizado.

Fedor é famoso por entregar malas com grandes quantias de dinheiro, com o propósito de ajudar os funcionários do esporte a votar da maneira que ele quer.

Foi ele quem entregou as malas de propina para os líderes da Fifa em 2000, definindo a decisão de dar a Copa do Mundo de 2006 para a Alemanha. Eu sei disso porque tenho os documentos.

O dinheiro veio do magnata da TV alemã, Leo Kirch, que também pagou US$1 milhão para um amigo de Havelange no Rio, Elias Zaccour. O dinheiro foi para uma conta de Zaccour em um banco em Luxemburgo. E depois de lá, para onde? Ricardo? Sepp? João?

Outro mafioso da Fifa é o homem-da-mala, Jean-Marie Weber. Ele trabalhou como cobrador júnior para o lendário empresário alemão Horst Dassler – da família Adidas – que fundou a empresa de marketing ISL, que parecia subornar quase todo líder esportivo do mundo para fechar um negócio. Quando Dassler morreu, apenas Weber tinha a lista de funcionários gananciosos.

Ao longo dos anos, Jean-Marie Weber levou em malas US$100 milhões para Havelange, Teixeira e Blatter – e até entregou um pagamento que foi parar na sede da Fifa por engano. Blatter sabia das propinas e ao permitir que seus colegas as recebessem, garantiu seus longos anos no poder.

Quem mais levou dinheiro do homem-da-mala Weber?

O diretor do Comitê de Organização para 2014 da Fifa é um verdadeiro buraco negro para dinheiro sujo. É ninguém menos que o presidente do Conmebol desde 1986, o paraguaio Nicolas Leoz. Ele recebeu, comprovadamente, cinco propinas que totalizam US$ 730 mil de Weber. Eu acho que havia muito mais, mas Leoz conseguiu esconder as contas nas quais o dinheiro foi parar.

O vice de Leoz no comitê para a Copa do Mundo de 2014 é outra esponja de propinas. Issa Hayatou comanda o futebol na África quando não está tirando dinheiro de ninguém. Eu denunciei ambos em um programa da TV BBC em 2010, mas não houve até agora nenhuma atitude da família da máfia Fifa para expulsá-los.

Então, amigo brasileiro, proteja também suas economias, chaves de carro, laptops, celulares e sapatos.

5.  Vaias em nome da Copa

Nós podemos estar excluídos do poder do futebol mas ainda temos nossas vozes nas ruas e estádios. As campanhas e o slogan “Fora Teixeira” ajudaram a perseguir aquele bandido para fora de sua casa no Rio até o seu esconderijo em Boca Ratón, na Flórida – um nome muito apropriado.

Blatter odeia ser tratado desrespeitosamente. E vocês, torcedores, têm muito poder em seus pulmões. Blatter foi vaiado durante a Copa do Mundo na Coréia. Com medo de um repeteco, ele não ousou aparecer para entregar o troféu na final da Copa da Alemanha em 2006. Também tem sido vaiado na Inglaterra.

Seria ótimo ler o slogan “Vaie Blatter” pintado em todos os muros no Brasil. Ao lado, poderia estar rabiscada a verdadeira equação: “FIFA = Máfia”.

Então vamos começar já, praticando, respirando fundo, e: BUUUUUUUUUUUUUU!

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