Buscar

Nas suítes privativas dos estádios reformados com dinheiro público, milionários e empresas pagam 2,3 milhões de dólares por ingresso vendido por associada da FIFA

Reportagem
28 de junho de 2013
17:18
Este artigo tem mais de 10 ano

Fotos revelam o estilo de vida efervescente que a Fifa oferece ao público endinheirado que vem ao Brasil para a Copa do Mundo. Essa semana, o secretário geral da FIFA, Jerôme Valcke, anunciou que a Maison Taittinger terá exclusividade para abastecer de champanhe os compradores dos pacotes VIP Hospitality.

Essas suítes, em estádios como o Maracanã, custam mais de 2,3 milhões de dólares para todo o campeonato. Esse folheto de propaganda de circulação limitada foi disponibilizado pela FIFA apenas para os 250 indivíduos e empresas mais ricos do mundo, com condições de usufruir a vida nas su’ites milionárias que aparecem nas ilustrações.

De modo chocante revelam que são poucos os consumidores ricos que realmente querem ver o futebol. Enquanto os jogos rolam, eles irão bebericar champanhe em copos flute, falar de negócios e se entreter, todo o tempo de costas para o campo!

As suítes privativas, as mais caras, tem assentos para oito visitantes. O folheto mostra dois deles assistindo ao jogo e os outros seis comendo, conversando e fazendo pedidos ao garçom sem demonstrar o menor interesse pelo espetáculo no gramado.

Os clientes se sentarão em poltronas confortáveis e terão a seu dispor “bar e serviço de alimentação luxuosos, um brinde comemorativo, um kit vip de hospitalidade e serão recebidos por hostesses”.

No Studio Bossa Nova a situação é ainda pior. Ali são 14 visitantes, bebendo, comendo e conversando – mas apenas dois entretidos com o futebol.

Os clientes ainda podem optar por ‘poltronas especialmente acolchoadas’, as Business Seats, com bar de primeira linha e alimentação de alta qualidade.

O contrato para vender esse estilo, digamos, borbulhante de torcer é de exclusividade da companhia MATCH que tem laços há muito estabelecidos com o presidente da FIFA, Sepp Blatter, e seu sobrinho Philippe Blatter.

Os irmãos Jaime e Enrique Byrom, mexicanos que vivem em Londres, tem 85% da MATCH Hospitality e a Infront, companhia de Philippe Blatter sediada em Zurique, tem 5%. O grupo japonês Dentsu também tem 5%. O Dentsu era sócio da ISL, a companhia de marketing hoje falida que pagou propinas de mais de 100 milhões de dólares aos diretores da FIFA, incluindo Havelange e Teixeira.

Os irmãos Byrom foram premiados com os melhores ingressos do MATCH Hospitality. Os preços são altos mesmo para milionários porque a companhia Byrom perdeu cerca de 50 milhões de dólares na Copa da África do Sul em 2010 e estão determinados a recuperar esse dinheiro no Brasil – e realizar grandes lucros também. Há um ano os Byrom se gabavam de que o programa Hospitality já tinha atingido o recorde de 262 milhões de dólares vendidos.

Vamos ver agora se os estrangeiros ricos não terão receio de ocupar suas suítes Hospitality. O cheiro do gás lacrimogêneo não combina com champanhe e salada de lagosta.

Os Byrom tem 12 mil ingressos Hospitality para o Jogo de Abertura, mais 12 mil ingressos para dois jogos do grupo do Brasil e outros 110.500 para jogos de outras equipes favoritas. Se o Brasil for para a próxima rodada – de 16 times – vai jogar duas partidas para as quais os Byrom tem 20 mil ingressos. A FIFA também os brindou com 33 mil ingressos para outras partidas dessa rodada.

Se o Brasil passar para as quartas de final, os Byrom terão mais 20 mil ingressos para essas duas partidas – e mais 16 mil para outros jogos dessa rodada. Ele também tem 24 mil ingressos para as duas semifinais. Para a final no Rio, eles têm pelo menos 12 mil ingressos.

Aparentemente, os Byrom se apropriaram da maior parte da Copa 2014. Eles vão operar a venda de ingressos da FIFA e distribuir cerca de 3,3 milhões ingressos.

A FIFA também garantiu aos Byrom o privilégio de operar a agência oficial de hospedagem para 2014.

Em seu site, os Byrom se anunciam como operadores da “hospedagem, ingressos, hospitality, soluções de TI, tours para visitantes, e oferta de alimentação para as seleções, delegações, patrocinadores, membros da mídia e torcedores”.

Preste atenção: eles colocaram os torcedores por último.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes