Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Reportagem

EUA falam sobre preconceito contra comunidade gay no Brasil

Relatório diplomático aponta mais entraves políticos da parte de evangélicos do quie de católicos; para EUA, faltam leis que protejam contra crimes de ódio

Reportagem
9 de julho de 2011
17:00
Este artigo tem mais de 13 ano

Um documento de fevereiro de 2010 sob o título “desafios aos direitos gays” avalia que existem “brechas” que deveriam ser  transpostas pelo  governo brasileiro para melhor proteger os direitos da comunidade LGBT. O maior desafio, segundo a visão dos americanos, é a falta de legislação que os proteja contra a discriminação por orientação sexual.

“Da mesma maneira, enquanto o acesso a serviços públicos e proteção tem aumentado em algumas regiões, ativistas  LGBT se preocupam que crimes contra a comunidade continuem não sendo reportados”, diz o documento.

Em conversa com o assessor político do consulado de São Paulo, Luiz Mott, pesquisador, professor de antropologia e fundador do Grupo Gay da Bahia, informou que 200 pessoas da comunidade LGBT morrem por ano no Brasil. “O Brasil continua sendo o país campeão de assassinatos de homossexuais, mais de cem gays e transgêneros são assassinados anualmente, homicídios violentos que podem perfeitamente ser tipificados como crimes de ódio,” disse o professor e ativista Luiz Mott, reproduzido no telegrama.

Evangélicos são grande desafio

De acordo com o documento, ativistas reclamaram da influência da comunidade evangélica como um “desafio significativo”. Lula Ramirez, um ativista LGBT do grupo Cidadania, Orgulho Respeito, Soliedariedade e Amor (CORSA), afirmou ao assessor político do consulado que as igrejas evangélicas levantaram esses temas com o Congresso brasileiro mais do os católicos.

No relato vazado pelo WikiLeaks, a embaixada americana reconhece que o movimento contra a discriminação por orientação sexual tem adquirido muita visibilidade no Brasil. O documento cita que o movimento LGBT  brasileiro obteve atenção internacional em grande escala, em 2000 quando a Parada do Orgulho Gay em São Paulo contou, pela primeira vez, com a participação de 100.000 pessoas.

Mas o documento aponta que a maior visibilidade não tem se traduzido em maior força política. O consulado de São Paulo ouviu segundo quem entidades como a sua sofrem com a falta de representação política a nível nacional.

Mesmo assim, os americanos vêem avanços no nível legais em nível local.O documento cita São Paulo como um exemplo de um estado que tem estendido proteção legal a população LGBT. Em 2000, menciona o texto, foi estabelecida uma unidade de investigação de crimes de intolerância, incluindo aqueles por homofobia.

Em 2001, o estado de São Paulo adotou uma lei administrativa que impede a discriminação, inclusive no mercado de trabalho, por orientação sexual. A lei não tem poder judiciário e não pode criminalizar o ofensor mas ela permite que a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania multe companhias ou indivíduos que intimidam ou discriminem contra pessoas LGBT.

O documento diz ainda que ativistas se contentam com o progresso que tem sido feito em outros estados brasileiros como Pernambuco e Bahia para extender a  proteção dos direitos da população LGBT. O tratamento igual para prisioneiros que recebem visitants nas prisões é citado como um grande avanço.

No entanto, conclui o documento, “com pouco apoio para avançar na legislação, o progresso em relação à equidade de direitos e acesso aos serviços vai ocorrer a médio prazo apenas nos níveis local e estadual”.

O Brasil está em processo de decidir se passará ou não o novo Projeto de Lei da Câmara Federal (PLC) 122/2006, que propõe a criminalização da homofobia.  A lei busca combater as mais variadas manifestações que podem constituir homofobia. Para cada modo de discriminação, prevê-se uma pena específica, que  pode atingir até 5 anos de reclusão. No entanto, o projeto segue parado no Senado federal.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes