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Fundadoras, conselheiros, editores e repórteres revelam os bastidores dos 10 anos da Agência Pública, em livro lançado pela editora Elefante, já em pré-venda

Da Redação
4 de maio de 2022
16:20
Este artigo tem mais de 2 ano

No final de 2010, o Wikileaks sacudiu o mundo com o lançamento do Cablegate, o vazamento de milhares de telegramas trocados entre os Estados Unidos e suas embaixadas ao redor do globo que desnudou a diplomacia internacional, revelando os verdadeiros interesses do governo americano e de outros países. Entre os jornalistas que participaram desse gigantesco furo estava uma única brasileira, Natalia Viana, que, além dos documentos do Cablegate referentes ao Brasil, trouxe na bagagem uma nova maneira de fazer jornalismo, fora das amarras da mídia empresarial que vivia uma violenta crise econômica provocada pela Internet. 

Essa é uma das histórias que contamos no livro “Furos, Mentiras e Segredos Revelados – 10 anos de reportagens da Agência Pública”, publicado em parceria com a Editora Elefante, que já está em pré-venda com desconto aqui. Com prefácio de Fabiana de Moraes e introdução de Eugênio Bucci – ambos professores, jornalistas e conselheiros da Pública – e posfácio do jornalista Carlos Azevedo, o livro traz em dez capítulos o que aprendemos e vivemos desde nossa fundação, inspirada pelo Wikileaks e grandes mestres do jornalismo, até consolidar um novo modelo, sustentável e independente, de fazer jornalismo investigativo de qualidade e relevante para a democracia, os direitos humanos e o combate da desigualdade. 

Fundadoras, conselheiros, editores e repórteres revelam os bastidores dos 10 anos da Pública, em livro lançado pela editora Elefante, em pré-venda até 30/5

Tudo que a gente queria, e ainda quer, é fazer jornalismo de grande qualidade técnica, comprometido com as pessoas, principalmente as mais vulneráveis, sem partidarização política nem amarras comerciais. “Jornalismo por inteiro, além do mercado”, como define na introdução do livro, nosso conselheiro Eugênio Bucci. 

Em 15 de março de 2011, ao receber o Troféu Mulher Imprensa por seu trabalho com o Wikileaks, Natalia anunciou a fundação da Agência Pública, marcando nossa data de nascimento como primeira agência brasileira de jornalismo investigativo independente sem fins lucrativos, com reportagens distribuídas gratuitamente sob licença creative commons e financiada por doações — de fundações internacionais e nacionais e do público. 

Criar uma ONG, aprender a fazer projetos de financiamento, usar as redes para divulgar nosso conteúdo e convencer os veículos tradicionais a republicar nossas reportagens (hoje temos mais de mil republicadores dentro e fora do Brasil) estão entre os conhecimentos compartilhados por Marina Dias, nossa diretora de comunicação, no livro. É esse modelo que nos permite cumprir nossa missão: investigar, investigar e investigar – sobretudo os poderosos, denunciando corrupção, racismo, misoginia, autoritarismo, violações de direitos humanos.

Esse tem sido nosso lema desde que éramos três ou quatro para cobrir os megaeventos esportivos, como conta o hoje repórter sênior Ciro Barros, até a redação com mais de 20 jornalistas capaz de reunir uma força-tarefa de repórteres e editores para revelar o maior escândalo de exploração sexual de meninas e mulheres por um grande empresário no país, o fundador das Casas Bahia, Samuel Klein. Crimes perpetuados por décadas sob o silêncio de muita gente, incluindo a imprensa, que não raro silenciam sobre as violações cometidas por empresários e empresas, tema do capítulo escrito pelo diretor e editor, Thiago Domenici.

Entre as empresas investigadas pela Pública ao longo desses dez 10 anos estão 55 mineradoras, 22 do setor do agronegócio, 21 de energia e 12 de defesa e segurança. Só a mineradora Vale foi alvo de 19 investigações – de espionagem a jornalistas e movimentos sociais à contaminação ambiental e expulsão de comunidades, além dos desastres provocados – de Mariana e Brumadinho aos atropelamentos frequentes em suas ferrovias.

A paixão pela reportagem, o apego à investigação criteriosa, a consciência do papel do jornalismo para minorar injustiças e fortalecer a democracia, o comando generoso das mulheres, a independência que rejeita qualquer tipo de pressão — financeira ou política, a ética no trato com as fontes e diante do leitor.  Foram esses princípios e qualidades que nos levaram a nossas maiores conquistas: a inovação na cobertura da Amazônia, respeitando o protagonismo de povos indígenas e comunidades tradicionais; a adoção de padrões feministas nas reportagens sobre gênero, fazendo também a relação entre política e os grupos religiosos, como mostra o capítulo escrito por Andrea Dip; as denúncias sobre violência policial e racismo, presentes em todos os escalões da Justiça, tema do repórter José Cícero da Silva; a revelação de segredos da ditadura militar, que está no último capítulo do livro. Com o foco nas violações de direitos humanos, o jornalismo guiado por dados se tornou fundamental para expor injustiças, caso da reportagem que mostrou a diferença entre a vacinação de negros e brancos, uma das seis matérias da Pública citadas no relatório da CPI da Pandemia. Em um dos capítulos do livro, Bruno Fonseca, editor e um dos autores da reportagem, reflete sobre a ligação entre o jornalismo de dados e o jornalismo de campo, que gasta a sola do sapato.

Nesses dez anos ganhamos em impacto e relevância, influenciando cada vez mais o cenário jornalístico e o debate democrático. Todos os que se interessam não apenas por jornalismo, mas pelo que aconteceu no Brasil desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff até a ascensão da extrema direita com o governo Bolsonaro, terão neste livro uma oportunidade de rever por dentro a década que passou e acompanhar os bastidores de reportagens essenciais, como a investigação sobre as ligações do FBI com a Lava Jato, o uso massivo de agrotóxicos – incluindo aqueles proibidos no resto do mundo – pelo agronegócio; a violência obstétrica; a campanha ilegal feita pelo governo Bolsonaro sobre remédios sem eficácia para a Covid. 

Para os jornalistas e estudantes que também sonham em fazer jornalismo independente, revelamos o que aprendemos como empreendedoras e jornalistas na construção desse projeto incrível que se tornou, por fim, realidade. Há método e técnica no que fazemos, como revelamos ao leitor. Mas sabemos que nossa força veio da solidariedade com os que sofrem e da fidelidade a quem somos: repórteres mulheres, ciosas de sua liberdade e do compromisso do jornalismo em denunciar as injustiças. Acreditamos em um novo cenário de mídia, com muita gente trabalhando por um jornalismo feito com coração, coragem e persistência que, acreditamos, terá sempre o condão de mudar o mundo.

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