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O terceiro episódio do podcast Morte e Vida Javari, lançado pela Agência Pública no último dia 5, repassa a epopeia, muitas vezes trágica, do povo indígena Korubo, cuja história se confunde com a própria história da demarcação da terra indígena Vale do Javari.
O podcast conta como, no final dos anos 1980, a descoberta, por um padre católico, de um massacre contra três indígenas Korubo, no rio Itaquaí, deu força a um movimento da sociedade civil pela demarcação do território tal qual o conhecemos hoje, com 8,5 milhões de hectares, do tamanho de Portugal.
O novo episódio do podcast, que vai ao ar nesta quarta-feira (19), revela também, como um lembrete sobre a incrível diversidade étnica do Vale do Javari, o aparecimento, em uma aldeia Marubo, de um novo grupo indígena isolado sobre o qual os especialistas ainda pouco conhecem.
EP 3 Em busca de Mayá
A Terra Indígena Vale do Javari é considerada a região que concentra o maior número de povos isolados no planeta. A Funai contabiliza cerca de uma dezena de registros confirmados. O contato com os Korubo nos anos 1990, que viveram por décadas sem aceitar contato com a sociedade não indígena, deu concretude a essa riqueza socioambiental única e admirável.
Em 1996, o primeiro dos grupos Korubo até então isolados foi contatado pela primeira vez por uma expedição liderada pelo sertanista Sydney Possuelo, da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 2023 rebatizada Fundação Nacional dos Povos Indígenas.
Outros dois grupos Korubo foram contatados na década de 2010. A última expedição do gênero, em 2019, foi liderada pelo indigenista da Funai Bruno Pereira, que em 5 de junho de 2022 seria assassinado por pescadores ilegais ao lado do jornalista britânico Dom Phillips. Uma outra parte dos Korubo, possivelmente subdividida em dois grupos, ainda permanece em situação de isolamento voluntário na floresta.
Os Korubo são, portanto, considerados um povo de recente contato. Mas foi um longo e trágico caminho até o contato. Ao longo do século passado, com o Javari cada vez mais tomado por seringueiros e madeireiros, ocorreram inúmeros atritos e massacres. A antropóloga Delvair Melatti certa vez se referiu aos Korubo como “uma sociedade em guerra”.
No podcast, o indigenista Fabrício Amorim explica que, quando “a guerra com os não indígenas se intensificou, os Korubo mataram e foram mortos. Na verdade, foram muito mais mortos, há relatos de massacres por parte de madeireiros, na época, e eles [indígenas] revidaram”.
Amorim descreve os Korubo como “o escudo do Javari”, pois eles sempre estiveram, há muitas décadas, na confluência dos rios Itaquaí e Ituí, que é a principal porta de entrada da terra indígena para quem sai da cidade de Atalaia do Norte.
Uma das principais atribuições da Funai na região do Vale do Javari é fazer um acompanhamento constante da situação geral do povo Korubo. Portanto foi com grande surpresa que, durante o trabalho de campo para o podcast, no ano passado, nós soubemos de graves problemas de saúde que atualmente atingem os Korubo.
Nesses enfrentamentos, morreram inclusive defensores genuínos dos indígenas, como o pai de Kel Wadick, a quem eu conheci no Javari. Kel é um dos exemplos mais impressionantes de um indigenista que levou até o final o lema do marechal Cândido Rondon: “Morrer se preciso for, matar nunca”.
Na tentativa de ouvir a história dos Korubo pela voz e pela memória de uma de suas principais lideranças, Mayá, contatada ainda em 1996, nós fomos ao encontro dela. Eu queria falar com Mayá há mais de três décadas, desde quando seu nome apareceu no noticiário pela primeira vez como a “líder guerreira do povo caceteiro”. Os Korubo receberam esse apelido porque usavam um cacete de madeira no ataque aos seus inimigos.
Mas não é nada fácil chegar até Mayá, que fica quase o ano todo morando em sua aldeia a cerca de 3 horas de barco desde Atalaia do Norte. Primeiro é necessário cumprir uma série de requisitos exigidos pela Funai. O desfecho dessa viagem você também acompanha no terceiro episódio do podcast Morte e Vida Javari.