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A fuga de Zambelli e o julgamento das estrelas do golpe

Ao fugir do país para escapar à prisão, Zambelli pode atrapalhar Bolsonaro de novo

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6 de junho de 2025
17:00

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A deputada Carla Zambelli foi posta de lado pela família Bolsonaro depois de sacar uma pistola e para cima de um jornalista negro em um bar que disse “Amanhã é Lula, papai” na véspera das eleições de 2022. Não foi rejeitada pela truculência, mas por sua atitude ter contribuído para a derrota de Jair Bolsonaro – na visão do ex-presidente.

Bolsonarista histórica, filiada ao PL, Zambelli brevemente deve ser condenada a 5 anos e 3 meses de prisão pelo STF por esse caso – já há maioria para condená-la, mas o processo está paralisado por um pedido de vistas do ministro Kassio Nunes Marques.

Será a segunda condenação da deputada, que fugiu no início desta semana para os Estados Unidos através da Argentina depois que o STF a sentenciou a 10 anos de prisão pela contratação de um hacker para invadir o Conselho Nacional de Justiça e inserir documentos falsos com o objetivo de desacreditar o Judiciário.

Em entrevistas, Zambelli deixou claro que saiu do país para escapar da cadeia. Com passaporte italiano, a fugitiva já estaria naquele país de acordo com Paulo Figueiredo, articulador dos golpistas nos Estados Unidos. O ministro Alexandre de Moraes decretou sua prisão preventiva e a PF incluiu a deputada no alerta vermelho da Interpol – resta saber se a Justiça do país dirigido por Georgia Meloni, de extrema direita, vai colaborar.

Imagino que, com esses antecedentes, o STF esteja de olhos bem abertos para os réus que serão julgados a partir de segunda-feira que vem (9), as “estrelas do golpe”, de Jair Bolsonaro aos generais Augusto Heleno e Braga Netto. Afinal, o ex-presidente já ensaiou uma fuga quando passou duas noites na embaixada da Hungria, em fevereiro do ano passado, depois de seu passaporte ter sido apreendido em uma operação da PF sobre a tentativa de golpe.

Mais uma tensão para Jair Bolsonaro e sua turma em um momento decisivo do processo que se inicia com o novo depoimento do delator Mauro Cid, amparado não apenas por provas, mas por depoimentos fortes das testemunhas de acusação que, ao contrário das testemunhas da defesa, que se limitaram a dizer que nada viram ou ouviram sobre a trama do golpe, trouxeram detalhes novos dos fatos descritos no processo.

Para quem não teve tempo ou paciência para acompanhar os depoimentos das 52 testemunhas ouvidas pela PGR e pelo STF – com participação pessoal do ministro Alexandre de Moraes em todas as oitivas –, sugiro que assista ao mais importante deles, disponível em vídeo, o do ex-comandante da FAB (Forças Aéreas Brasileiras), brigadeiro Baptista Jr.

Segundo ele, a escalada para o golpe passou por várias reuniões com os comandantes das Forças Armadas, após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, em que se discutiu até a possibilidade de prisão do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, e confirmou que o general Freire Gomes ameaçou prender Jair Bolsonaro caso houvesse um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para impedir a posse do presidente eleito, Lula.

O brigadeiro também disse que os ataques que sofreu dos golpistas depois de se recusar a participar da trama partiram do general Braga Netto, preso preventivamente desde dezembro de 2024, e que dará o seu depoimento da cadeia na semana que vem.

Já há especulações na imprensa de que a fuga de Zambelli possa trazer novas prisões preventivas para evitar problemas similares com os réus do processo do golpe. Para Jair Bolsonaro, a escapada da deputada já trouxe impactos negativos. Nesta quinta-feira que escrevo, ele deve depor em dois inquéritos: o que investiga seu filho Eduardo por atividades contra o Judiciário brasileiro nos Estados Unidos com o objetivo de atrapalhar o processo contra o pai no STF; e aquele aberto na quarta-feira passada para investigar a fuga da deputada.

Não parece um cenário alvissareiro para o ex-presidente, que coleciona novas suspeitas antes mesmo de depor no processo que pode condená-lo à prisão.

A Pública vai acompanhar de perto os depoimentos de Bolsonaro e de mais sete réus que respondem no STF por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Sempre com informações contextualizadas, bem apuradas e com detalhes sobre os bastidores desse julgamento que, pela primeira vez, pode condenar um ex-presidente e seus generais por crimes contra a nossa democracia. Siga e apoie a nossa cobertura!

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