Chicas da América Latina ganharam uma bolsa para ficarem na Casa Pública enquanto desenvolvem um projeto que relaciona discussão de gênero e jornalismo de dados. Em parceria com a Agência Pública, a revista Gênero e Número promove um programa de residências com o apoio das Chicas Poderosas, uma rede de mulheres que promovem encontros e iniciativas de fomento ao jornalismo inovador protagonizado por mulheres na América Latina.
Gia Castello, da Argentina e Kennia Velazquez, do México, chegaram no último dia 10 de novembro no Rio de Janeiro com um enorme sorriso no rosto. As duas participantes foram selecionadas para passar duas semanas na Casa Pública para receber mentoria da equipe da Gênero e Número e construir juntas uma narrativa digital que vai abordar violência contra mulheres na América do Sul. O projeto será publicado na próxima edição da revista em novembro.
Entre as questões relacionadas à igualdade de gênero, Giulliana Bianconi, co-diretora da Gênero e Número, entende que a violência contra mulher é um problema que atravessa barreiras culturais na região.
”Vemos que a violência, os crimes contra mulheres que estão no noticiário brasileiro não é especial do Brasil. Existem algumas questões que precisam ser discutidas além do Brasil, porque vêm dessa cultura latina, existe essa proximidade” diz.
Giulliana conta que o conteúdo da edição vai ter perspectiva regional, com o olhar de repórteres latino americanas. Segundo ela, a Gênero e Número foi pensada com o objetivo de dar prioridade para iniciativas de ”irmãs latinas” não só pela aproximação geográfica, mas também política, econômica, social e principalmente jornalística. ”Entendemos que isso faz muito sentido, vemos que existe um movimento de mídia independente e inovadora na América Latina, e é isso que buscamos”, conta.
Equatoriana que atualmente reside em Buenos Aires, Gia trabalha com realidade virtual de forma independente e usa a potência da imersão 3D no jornalismo. Ela espera conseguir explorar as possibilidades do jornalismo de dados para trabalhar temas como gravidez na adolescência. ”Na Argentina, trabalho muito com conteúdo audiovisual, e a Gênero e Número trabalha muito com dados, a ideia é fazer essa troca. Em meu caso, minha experiência de dados é pouca, então acho que vou sair dessa residência com uma ferramenta a mais na minha mala.”
Já Kennia, que trabalha com produção de reportagem no jornal mexicano Zona Franca, quer aprender a usar os dados para narrativas mais longas do jornalismo. “Gostaria de otimizar meus conhecimentos para produzir um jornalismo mais potente e que possa ajudar os gestores a enxergar a real gravidade da violência de gênero no meu país”.
Segundo ela, os dados são muito limitados no estado onde mora e que há um atraso comum que pode chegar a oito meses quando solicitam um dado. ”Não se sabe quantas mulheres têm sido agredidas sexualmente, não são números divulgados”, revela.
As duas jornalistas estão hospedadas no segundo andar da Casa Pública e durante a sua estadia elas poderão participar da programação cultural de jornalismo da Pública. No último dia 10, as Chicas aproveitaram a oportunidade para participar de um encontro de jornalistas internacionais promovido na Casa Pública.
Além de trocar experiências e passar por uma emersão cultural e jornalística no espaço físico da casa, elas vão contribuir no workshop “Entrevistando bases de dados”, na próxima quinta-feira, dia 17, a partir das 18h. As vagas são limitadas às primeiras 40 inscrições que devem ser feitas através do seguinte link: http://bit.ly/workshop-GN.
Durante três horas, a equipe da revista Gênero e Número vai conduzir na Casa Pública uma formação básica para o manuseio e o uso de grandes bases. Entre as bases de dados que serão apresentadas estão algumas que já foram trabalhadas pela revista, como a base de dados utilizada para a edição sobre mulheres no esporte e também sobre representação de gênero na política.
“Para ter uma matéria de profundidade, precisamos aprender a trabalhar com os dados, filtrar uma base até chegar a certos pontos. Vamos mostrar como olhar para uma base de dado e saber o que extrair dela”, conclui a co-diretora Giulliana.