Na quarta-feira (6) à tarde, indígenas de todas as regiões do país marcharam até o Congresso Nacional. Eles fazem parte do 18º Acampamento Terra Livre (ATL), que desde segunda (4) muda o tom do planalto central reunindo na Esplanada mais de 7 mil indígenas de 200 povos. Na pauta do acampamento, está a defesa da demarcação das terras indígenas e a oposição ao PL 191/2020, que libera a mineração e a geração de energia em terras indígenas; e o PL 490/07, do Marco Temporal, que limita o reconhecimento de novas terras tradicionalmente habitadas por povos nativos e pode levá-los a perder os meios para sua sobrevivência.
No dia anterior à marcha, o ATL 2022 lançou uma carta aberta contra o projeto que libera a mineração sem permitir aos povos a decisão final sobre o destino de suas próprias terras. As lideranças argumentam que “o governo atual quer promover a especulação imobiliária sobre os territórios indígenas e incentivar a invasão do agronegócio” e conclamam os parlamentares a barrar o projeto.
Para a deputada Joênia Wapichana, os PLs são “totalmente contrários ao interesse público, só afetam a vida dos mais fracos, dos mais vulneráveis, dos povos indígenas e de quem defende o meio ambiente”. Ela considera que o governo Bolsonaro prioriza projetos que “não condizem com a realidade da sociedade brasileira”.
Outras lideranças concordam, como o líder Kayapó, Doto Takak Ire, da terra indígena Menkragnoti, nos estados do Mato Grosso e Pará. “É um processo criminoso, e, se for o caso do Congresso aprovar [o PL 191], a gente vai ter que ir ao Supremo, pedir pro Supremo barrar esse papel que quer destruir o nosso futuro, o nosso sonho”.
Doto Takak Ire defende a importância da mobilização: “A gente está junto aqui para ajudar os parentes que estão necessitando de uma terra e de uma floresta para sobreviver”. “Peço para os parentes indígenas e não-indígenas ajudar a fortalecer o nosso acampamento Terra Livre”, finaliza em entrevista à Agência Pública.
Os povos tradicionais estão acampados na área externa do Complexo Cultural Funarte, no Eixo Monumental, em Brasília, desde a segunda-feira (4). Cada povo selecionou um espaço para montar suas barracas, onde se pintam e se arrumam para as atividades do dia. Antes do início das plenárias, povos de diferentes estados brasileiros são convidados a performar suas danças típicas e trazer suas principais demandas. Entre os corredores de barracas se falam várias línguas — no Brasil existem 274 línguas indígenas — , e mesmo o chamado para iniciar a marcha e outras atividades é traduzido para que ninguém seja deixado de fora. Espalhadas pelo acampamento também estão lojas onde os indígenas vendem artesanato e convidam o público a fazer as pinturas de suas etnias.
A programação vai até o dia 14 de abril e propõe atividades de debate sobre diversos temas ligados à causa, como a necessidade de ocupar a política — os candidatos indígenas serão divulgados no próximo dia 12 —, a emergência climática, a defesa das vidas dos povos isolados e de recente contato, a atuação da juventude, a inclusão no sistema educacional e a diversidade dentro do movimento.
O ATL ocorre desde 2004, mas esta é a primeira edição presencial depois da pandemia de covid-19, na qual o evento aconteceu virtualmente. O último ATL teve como foco a defesa da vida e o combate à pandemia de covid-19. “Vimos mais de 1.000 dos nossos caírem para a pandemia e sentimos a dor da perda de nossos velhos”, escreveu no site oficial a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organizadora do evento.
Acompanho o acampamento pela Agência Pública desde o primeiro dia e segui a marcha até o Congresso junto à fotojornalista Andressa Anholete.