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Nota

Escala 6×1: audiência sobre redução de jornada foca em relatos de exaustão do trabalhador

9 de dezembro de 2024
04:00

“Meu pai, um trabalhador inválido da construção civil; minha mãe faleceu no chão de fábrica. E ambos já não estão mais aqui. […] Logo cedo, as jornadas exaustivas me deixaram sem o convívio familiar e a própria sorte no mundo.” O relato da advogada trabalhista do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), Patrícia Shimano Ikuno, foi apenas um dos que comoveram os participantes da audiência pública sobre a escala 6×1 e a proposta de redução para jornadas 4×3 realizada nesta semana na Câmara dos Deputados. 

A defensora conta que a mãe, que trabalhava em uma fábrica no Japão, precisava sustentar a casa no Brasil, pois o marido, pai de Ikuno, era inválido. Ela convivia com o medo constante de perder o emprego, que a ocupava seis dias por semana e, sem poder faltar ao expediente, não tinha tempo para cuidar da saúde. “E ela nem podia fazer isso, ela precisava levar o sustento para dentro de casa. As famílias aqui no Brasil, muitas, enfrentam a mesma situação”, lembrou.

A proposta em discussão no Brasil seria a de reduzir a atual carga de 44 horas semanais para 36, o que poderia viabilizar três dias semanais de descanso. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), da deputada Erika HIlton (PSOL-SP), já teve apoio de quase 3 milhões de pessoas que assinaram uma petição pública sobre o projeto, protocolado em 1º de maio, Dia do Trabalhador.

Mobilizações trabalhistas estiveram presentes no plenário em apoio à PEC da deputada Erika Hilton, que propõe o fim da jornada de trabalho 6×1

“Nós estamos promovendo essa discussão pela dignidade da vida do trabalhador. Nós estamos promovendo essa discussão porque uma vida foi dificultada, sucateada, vulnerabilizada, sonhos e projetos particulares foram abandonados para que se colocasse o arroz e o feijão em cima da mesa”, afirmou a deputada durante a audiência.

Diretora brasileira da comunidade 4 Day Week Global, organização sem fins lucrativos que promove a adoção da semana de trabalho de quatro dias ao redor do mundo, Gabriela Brasil explica que, para além do tempo de descanso, o debate beneficia também a produtividade no trabalho. 

“Nos países em que a redução da jornada já foi testada, a gente tem estudos que têm benefícios claros em várias áreas, como a sustentabilidade humana, incluindo saúde física, saúde mental, a sustentabilidade econômica. [É um projeto] que aborda uma preocupação, que pode ser implementado sem comprometer a produtividade, sem aumentar os custos”, afirma a pesquisadora. 

Dois lados na defesa da saúde econômica

Deputados da oposição estiveram presentes no plenário e criticaram a PEC, que, segundo o deputado delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), não teria estudos prévios e poderia elevar os preços do setor de serviços para o consumidor. “Aquele serviço que custava X vai passar a custar X mais. Por que ele vai custar X mais? Porque existe um gasto maior na contratação daquele funcionário. […] Esse a mais, esse X a mais, que vai ser repassado para o consumidor”, disse o deputado, que deixou o plenário sob vaias do público presente. 

Guilherme Boulos (PSOL-SP), por outro lado, defendeu que é necessário pensar como não prejudicar pequenos e médios empreendedores, mas que a oposição se utiliza desse público para tentar impedir a aprovação do projeto.

“Às vezes, na política, não é tão nítido a gente perceber o lado de cada um, porque os discursos se confundem, porque nem sempre aquele que tem lobby com grandes empresários, que está aqui para defender grandes interesses, deixa isso claro. […] Você separa o joio do trigo quando entra uma pauta concreta, objetiva, que quem defende o trabalhador está de um lado, quem é contra o trabalhador está do outro”, afirmou. A PEC segue em discussão na Câmara e ainda não tem data para ser votada.

Edição:
Guilherme Cavalcanti/Agência Pública

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