Bruna Meireles Corrêa, 32 anos, foi morta com um tiro na cabeça pelo companheiro, um policial militar, identificado como Wladson Luan Monteiro Borges. O crime aconteceu em Belém (PA), em março deste ano, após um suposto desentendimento entre eles. O agente de segurança foi preso em flagrante pelo crime de feminicídio. No mesmo mês, um casal de policiais civis foi encontrado morto a tiros no Rio de Janeiro. Luciano do Nascimento Costa teria matado Gabriele Ferreira Santos, de 26 anos, e em seguida tirado a própria vida.
Os dois casos ilustram bem os significativos percentuais de feminicídios praticados por agentes de segurança pública, que foram registrados em um levantamento inédito do Instituto Fogo Cruzado. Entre 1º de janeiro e 20 de março deste ano, o número de mulheres assassinadas ou que sofreram tentativa de feminicídio por policiais militares ou guardas municipais cresceu nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, de Salvador e de Belém, áreas de atuação da iniciativa.
O Rio de Janeiro teve a maior alta – quatro dos cinco casos monitorados foram praticados por agentes de segurança pública. Em 2024, apenas um dos nove casos de feminicídio ou tentativa de feminicídios registrados pelo Fogo Cruzado na capital carioca tinha sido praticado por policiais ou guardas municipais.
Na região metropolitana de Salvador, um dos três feminicídios ou tentativas registrados no mesmo período foi praticado por um agente de segurança pública. Na região metropolitana de Belém, um único foi caso monitorado.
Se considerarmos a quantidade total de feminicídios ou tentativa de feminicídios, independente da autoria, as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e do Recife (PE) registraram a maior quantidade de casos entre as localidades monitoradas pelo Fogo Cruzado, entre os anos de 2023, 2024 e 2025 (até 20 de janeiro). Foram 38 no Rio de Janeiro e 31 no Recife.
De 2023 a 2024, Pernambuco foi o estado do Nordeste com maior quantidade de feminicídios, 69 casos, de acordo com o relatório Elas Vivem, divulgado pela Rede de Observatórios em março deste ano. O mesmo levantamento mostrou que, no Brasil, a cada 24 horas, ao menos 13 mulheres foram vítimas de violência no ano passado, nos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (MA, BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP).
O Fogo Cruzado também registrou 18 casos de feminicídios ou tentativas no período na região metropolitana de Salvador e 6 em Belém.
Marianna Araújo, uma das diretoras do Instituto Fogo Cruzado, diz que embora não existam levantamentos nacionais sobre o tema, “os dados mostram a expressiva participação de agentes de segurança em feminicídios ou tentativas de feminicídios”. Ela explica que o levantamento foi feito de modo colaborativo, com base em notícias divulgadas pela imprensa; informações de fontes oficiais e do público em geral, que são checadas. Os resultados apontam para um padrão dos casos, segundo Araújo. “É muito comum que a companheira também trabalhe nas forças de segurança e, com frequência, acontece em casa ou dentro do próprio quartel.”
Ela diz que a quantidade de casos pode ser muito maior, “pela carência de dados e pela subnotificações das situações muitas vezes não denunciadas”. “Até quando vamos naturalizar que os profissionais de segurança pública não sejam responsabilizados pelas mortes ou tentativas de violência que cometem?”, questiona.