Buscar

Leia o relato dos bastidores da reportagem sobre a Transposição do Rio São Francisco

Da Redação
6 de fevereiro de 2014
12:00
Este artigo tem mais de 10 ano

A proposta de pauta sugerida ao Reportagem Púbica foi percorrer o Eixo Leste do Projeto de Integração do São Francisco, verificar o andamento das obras e levantar problemas que devem ser resolvidos antes da chegada das águas ao destino final, no Estado da Paraíba.

As visitas aos canteiros de obras devem ter a autorização do Ministério da Integração Nacional. Iniciamos o contato via assessoria de comunicação social; depois passamos a conversar com a responsável no Ministério. De acordo com nossas solicitações, ela sugeriu um roteiro de quatro dias. A equipe foi acompanhada todo o tempo por supervisores técnicos locais. Saímos de João Pessoa, na Paraíba, no dia 8 de dezembro de 2013, de carro, para Salgueiro, a 500 km de distância. Era o início de uma jornada de seis dias de viagem (incluindo a volta) em estradas não pavimentadas, num total de 1.480 km.

Na segunda-feira, a representante da empresa CMT Engenharia e o gaúcho Eduardo Melloni, da empresa Ecoplan, fizeram uma apresentação geral do projeto da transposição e, depois do almoço, visitamos a Estação de Bombeamento 1 e o canal de captação das águas, no Lago de Itaparica (rio São Francisco). Pernoitamos em Petrolândia, município-base de onde foram contratados a maioria dos trabalhadores do ponto de partida do Eixo Leste. A manhã seguinte começou quente, e a representante da CMT nos acompanhou até o canteiro de obras, onde encontramos outro supervisor que percorreu conosco cerca de 20 km. Ele se negou a responder perguntas, alegando não ter autorização para conceder entrevistas à imprensa.

O dia foi de muito sol e poeira, e pouca água. Este é o trecho onde as obras estão mais adiantadas. Almoçamos no canteiro de obras próximo a Custódia, onde conhecemos o analista de infraestrutura Marcílio Lira, campinense, do Ministério do Planejamento, que serviu de porta-voz dos argumentos do Ministério sobre novas licitações, e nos levou aos povoados de Caiçara e Salgado, cujas áreas rurais são cortadas pelos canais da transposição.

Na quarta-feira, dia 11 de dezembro de 2013, encontramos com outro supervisor de obras, Adílson Leal, também da Ecoplan. Antes mesmo de pegarmos a estrada de apoio das obras, paramos em Rio da Barra, outra comunidade próxima dos canais, onde não corre água das torneiras nas residências há mais de cinco anos. Ali também entramos em contato com agricultores que tiveram suas casas indenizadas. Passamos por mais reservatórios, estações de bombeamentos, aquedutos até que finalmente alcançamos o local de onde partirá o túnel que cruzará o limite entre Pernambuco e a Paraíba, no Eixo Leste.

O calor e a poeira não eram mais novidade. O que nos surpreendia era a esperança da população de algum dia poder abrir as torneiras de suas casas e verem água potável escorrer sem parar. A busca por água de boa qualidade já está na rotina do povo: a espera pelo dia que vem o caminhão pipa, a caminhada até as cisternas públicas com os recipientes, o retorno para casa de carroça ou à pé, carregando os baldes; o banho de bacia e as tarefas da cozinha sendo realizadas usando uma caneca.

Monteiro é uma cidade pólo do Cariri paraibano com graves problemas de saneamento. Quando estávamos fotografando o Rio Paraíba de cima da ponte na entrada da cidade, um cidadão se aproximou e questionou o objetivo do trabalho. Era um ex-funcionário da Companhia de Esgotos da Paraíba, a Cagepa, que trabalhava em Monteiro e tinha conhecimento da deficiência de toda a rede de esgotos da cidade. Prontamente, ele nos conduziu por uma série de locais que comprovaram a necessidade urgente de renovação da antiga rede de esgotos, onde os dejetos são lançados sem tratamento no rio Paraíba.

De Monteiro, seguimos o curso do rio Paraíba até o reservatório Poções. De lá continuamos em direção à Camalaú, região onde o rio deverá ser perenizado. A paisagem remetia ao conceito de “Seca Verde”: um sem-fim de arbustos esbranquiçados e o leito seco de um rio.

Na quinta-feira o pernoite foi em Campina Grande, de onde partimos para Itabaiana, outro município com sérias dificuldades no tratamento de esgotos. Ali participamos de uma das reuniões do Fórum de Defesa do Rio Paraíba, presidida pelo ambientalista João Batista da Silva, que expôs outra ameaça ambiental ao rio Paraíba: a extração mecanizada de areia do leito do rio.

De Itabaiana seguimos para o canteiro de obras do ramal da transposição Vertentes Litorâneas – Acauã-Araçagi, onde tivemos o acompanhamento de Bruno Moura, engenheiro do consórcio Acauã, formado pelas empresas Queiroz Galvão, Via e Marquise. Visitamos um trecho de 20 kms, de Itabaiana até o reservatório Acauã, de onde a água será captada para desaguar em Araçagi, a 112 km dali.

Em Acauã demos por encerrado o trajeto, mas continuamos com investigações posteriores, com entrevistas a fontes complementares a reportagem que vocês leem agora.

Leia mais

Transposição do rio São Francisco: via de mão única

Uma viagem ao canteiro de obras

Na Contramão da Transposição

O povo contra os areeiros

Uma viagem ao canteiro de obras

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes