“Estou menos inclinada a dar dinheiro”, conta a a eleitora Laska Nygaard, de 40 anos, de Saint Paul, no estado de Minnesota, que votou em Barack Obama e ajudou com 75 dólares na última campanha. Na época, estava determinada a colocar um democrata no cargo, e “havia um sentimento que entre as pessoas comuns como eu poderíamos conseguir algo se trabalhássemos e juntássemos nosso pequeno dinheiro”.
A advogada Nygaard, esposa e mãe de dois filhos, afirma que ela e alguns de amigos hoje acham mais inteligente doar seu dinheiro em prol de mudanças nas suas comunidades em vez de se preocupar com candidatos a Washington. Apesar das conquistas de Obama até agora, diz, ele não parece “encorajador o suficiente e durão o suficiente” para derrotar as políticas republicanas ou superar as vantagens financeiras de campanha que a oposição vai ter.
“Não tem jeito de enfrentar as todo-ponderosas corporações”, diz ela. “Parece um tsunami de dinheiro”.
A coordenação da campanha eleitoral de Obama não guarda segredo sobre a sua preocupação de que, sem a significativa ajuda de doadores ricos e influentes e dos grupos independentes, os republicanos dominem o levantamento de fundos eleitorais. Isso é ainda mais preocupante por causa de uma decisão da Suprema Corte americana segundo a qual propaganda política financiada de maneira independente por corporações e sindicatos deve ser protegida pela Constituição – e não pode ser restringida.
O processo foi movido pela organização conservadora Citizens United em 2008, que queria veicular um vídeo contra Hillary Clinton. Venceu.
Em 2008, a candidatura “outsider” de Obama para o salão oval foi construída sobre a promessa de que as vozes dos americanos comuns iriam superar os interesses poderosos cheios de dinheiro de Washington. Além da internet, essa mensagem ajudou a campanha a levantar 24% dos 746 milhões de dólares — um recorde nacional — provenientes de doações individuais de 200 dólares ou menos. Durante as disputadas primárias, pequenos doadores — que podem permanecer anônimos de acordo com as regras da Comissão Eleitoral — foram responsáveis por 30% das contribuições individuais a Obama e o ajudaram a provar que tinha o apoio popular, e que aquele era o momento certo para vencer.
Anos depois, a equipe de Obama já percebeu o desafio representado por eleitores como Nygaard: numa situação de alto desemprego, de revolta dos eleitores e de perda de cadeiras no Congresso por parte dos democratas, o presidente pode ser incapaz de reavivar o apoio entusiasta e idealista que atraiu dos doadores de primeiro viagem.
Agora, sua equipe “terá que confiar mais nos grandes doadores e nos maiores arrecadadores de fundos” prediz Peter Buttenweiser, um arrecadador de fundos da Filadélfia que levantou cerca de meio milhão de dólares em 2008. “Isso porque ela não tem mais uma presença tão marcante na internet como tinham antes”.
Emails: doadores pedem pra sair
Até o dia da votação em 2008, a campanha de Obama havia reunido mais de 13 milhões de endereços de e-mail. Mas, desde então, muitas dessas pessoas pediram que o braço político do presidente, a coalizão Organizando para a América, deletasse seus nomes do banco de dados para se livrar dos inúmeros emails.
Umm delas foi Amanda Geno, de 30 anos, de New Haven, no estado de Connecticut, para quem os inúmeros emails alegres e genéricos que recebia durante o primeiro ano do mandato lhe pareciam muito “fora da realidade”. Para ela, Obama pode até vencer em 2012, mas somente se contornar esse “problema de mensagens”. Além disso, a campanha vai ter que explicar em detalhes o que os apoiadores ajudaram a conquistar de fato.
Na teoria, Geno acredita que uma pequena doação para qualquer candidate, como os 50 dólares que ela deu a Obama em 2008, é uma maneira “importante” de participar e também de “mostrar que está ‘comprando ações’ daquela idéia”. Mas 2012 pode suscitar o debate sobre quem é de fato dono da campanha e o que está em jogo de verdade. “Vivemos em um país em que a justiça deu ganho de causa à Citizens United, no qual eu não creio que uma doação individual faça muita diferença”, ele completa. “É assustador”.
Experts em financiamento de campanha afirmam ser muito cedo para prever como será o envolvimento dos pequenos doadores na próxima eleição. “Com essa decisão judicial, o que nos resta é o embate entre os pequenos doadores versus os financiadores empresariais e corporativos”, diz Fred Wertheimer, presidente da Democracy 21, organização que apóia reformas no sistema de financiamento de campanha.
Sem uma primária acirrada, os doadores populares aos democratas devem minguar, enquanto os candidatos republicanos podem ter um aumento de pequenas contribuições vindas de um eleitorado mais motivado.
Vale observar três fatores: primeiro, os candidatos republicanos podem alcançar a mesma expertise em internet de Obama, podendo assim buscar pessoas que dar dinheiro com mais facilidade. Segundo, as eleições de 2010 já demonstraram o impacto que os ativistas ultraconservadores podem ter na arrecadação de fundos para os candidatos republicanos. E terceiro, os pequenos doadores podem fazer a diferença porque o partido republicano estendeu o calendário das primárias para poder dar mais tempo aos candidatos com menos recursos.
O professor da universidade Colby College, Anthony Corrado diz que o ano de 2008 foi realmente notável em termos de pequenas contribuições, mas apenas por causa do total doado para a eleição de Barack Obama – além do uso da campanha da internet para conquista-los. “Quando você fala de pequenos doadores, está falando de doadores mais ideológicos”, ele complementa. “Eles doam porque acreditam”.
Obama levantou quantias surpreendentes de pequenos doadores, mas ainda assim precisou muito dos grandes financiadores. Segundo Corrado, a campanha democrata de 2008 se equiparou à de George W. Bush em 2004 com relação à porcentagem de pequenas contribuições, embora Bush tenha recebido um montante total menor.
Pequenos doadores esperam o chamado
De acordo com cientistas políticos, os doadores individuais só abrem suas carteiras quando o custo de participar não é muito alto, mas os incentivos são vistos como grandes. E na maioria dos casos, sua participação está condicionada a serem chamados a ajudar. É por isso que a internet é essencial.
A ideia pioneira da campanha de 2008 foi o uso das redes sociais, que davam aos apoiadores uma razão para se tornarem militantes, contando que suas famílias e seus amigos estariam no mesmo time.
“Qualquer candidato que ignorar as inter relações entre pequenos doadores e a importância da mobilização está sendo tolo” diz Michael Malbin, diretor executivo do Campaign Finance Institute, uma organização que estuda o financiamento eleitoral.
Essa pode ser a primeira eleição na qual os republicanos vão entender essa relação, e poderão levá-la a um novo patamar.
O aposentado Eldon Marsh, de 74 anos, de Universal City, no estado do Texas, quer um republicano na Casa Branca e diz que se sentiria compelido a ajudar tanto para derrotar Obama quanto para apoiar um opositor. Dessa maneira, uma pequena doação pode se tornar um voto antecipado e uma forma de protesto, diz ele.
Marsh doou cerca 150 dólares para a campanha presidencial de John McCain em 2008, mas ficou desapontado com a escolha de Sarah Palin como candidata à vice-presidência.
“Será uma campanha cara e nenhum pequeno contribuinte vai conseguir ganhá-la”, diz ele. “Mas se você simplesmente se sentar e ficar calado, não vai poder reclamar depois.”
Harold Michael Harvey, de Atlanta, diz que a decisão sobre Citizens United deveria ser um chamado para pessoas que querem ter impacto nas eleições usando seu dinheiro e o seu tempo. Ele doou 150 dólares a Obama na última campanha.
“Se você é um pequeno doador nessa eleição, vai ter que fazer mais”, diz Harveyd. “Você terá que por a mão na massa e cair na estrada, visitando comunidades e ajudando a conseguir votos”.
“O dinheiro não vai ser suficiente.”