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Entrevista

Partido da Mulher Brasileira não levanta a bandeira feminista

Para presidente do PMB, Suêd Haidar, missão do partido é aumentar a participação da mulher na política; dirigente é contra o aborto e condena debate sobre a violência contra a mulher nas escolas

Entrevista
17 de dezembro de 2015
18:21
Este artigo tem mais de 9 ano

Apesar de o momento político ter levado diversas mulheres a se manifestarem pela garantia dos seus direitos nas ruas e nas redes sociais – com as campanhas #primeiroassédio e #meuamigosecreto –, o recém-criado Partido da Mulher Brasileira (PMB) não é feminista. “Ele é um partido feminino”, explica Suêd Haidar, presidente da legenda que surgiu há quase três meses, em 29 de setembro, em entrevista à Agência Pública.

O PMB é o 35º partido registrado no Brasil e tem como bandeira o aumento da participação das mulheres nas instituições políticas. Mas, em seu curto tempo de existência, o PMB já foi alvo de polêmicas. Dentre 22 parlamentares filiados até agora, há apenas duas deputadas federais. No dia 10 de novembro, o senador Hélio José (DF) fez um discurso no plenário para anunciar a sua filiação e foi bastante criticado por uma de suas afirmações. “Eu, como homem, tenho o prazer de estar neste partido, para lutar pelos direitos sociais de todas as pessoas que vivem nesta terra, principalmente as mulheres. O que seria de nós, homens, se não fosse uma mulher ao nosso lado, para nos trazer alegria e prazer?”, disse.

A presidente explica que usará o Fundo Partidário do PMB para a criação de escolas políticas e formação de militância. Haidar esclarece que a legalização do aborto e a inclusão das discussões de gênero nos planos educacionais não são pautas do PMB. “Essa questão da violência contra mulher não pode ser, nesse momento, e em nenhum momento, discutida numa sala de aula com crianças de 10 anos de idade”, declara Haidar. “Isso não existe.”

A maranhense de 59 anos construiu uma trajetória política de base, foi filiada ao PDT e ao PCdoB, onde se lançou como pré-candidata ao Senado em 2010. Ela conta que sua candidatura não foi formalizada e que foi usada para preencher a nominata para o partido obter tempo de televisão. Foi isso que a motivou a criar o PMB. Hoje ela não possui cargo legislativo. Mora há 38 anos no Rio de Janeiro e, desde 2008, deu início às andanças pelo país para angariar apoio para a criação do partido.

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O PMB conta com 19 parlamentares homens e duas mulheres na Câmara (Foto: Reprodução)

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, houve uma negociação na criação do PMB. Esse acordo definiu que metade do fundo partidário destinado ao partido iria para os diretórios regionais e os parlamentares poderiam manejar os recursos desses diretórios caso entrassem no PMB. Isso é verdade?

Isso não é verdade. O fundo partidário é pra quê? Não é pra fazer política partidária, fazer o crescimento e o desenvolvimento do partido, qualificar as pessoas, fazer programa de televisão? Enfim, fazer esse caminhar do partido? O que não podemos fazer é pegar o fundo partidário e comprar um helicóptero. Isso jamais poderemos fazer. [No mês passado, segundo a Folha, o PROS gastou R$ 2,4 milhões do Fundo Partidário para comprar um helicóptero]. O que não podemos fazer é pegar o fundo partidário e aplicar num banco lá no exterior. Agora, se está na lei que nós temos que usar o fundo partidário para fazer o crescimento e o desenvolvimento do partido, se existe isso no nosso estatuto, nós vamos cumprir. Claro que as pessoas não estão tão satisfeitas em função de alguns parlamentares terem migrado [para o partido], parlamentares que vieram para o partido e aceitaram a nossa proposta, que aceitaram a nossa filosofia e vieram. Nós não saímos oferecendo pacotes de nada para ninguém. Infelizmente, quando é um projeto novo, alguma coisa nova, claro que é desafiador e as pessoas que perdem não aceitam. Estamos abertos para receber todos os homens e todas as mulheres de mandatos de todo o território brasileiro. Nós não podemos impedir o detentor do mandato de vir para o nosso partido. Eles querem vir e nós vamos agregar a todos. Só o caminhar vai determinar se essa pessoa continuará ou não ou se o partido continuará também caminhando com essa pessoa ou não. Isso nós vamos trabalhar muito claro, em conjunto.

Uma coisa que chama a atenção é que o corpo do PMB é formado por homens. Não é um pouco contraditório o Partido da Mulher Brasileira ser formado por uma maioria de homens? O partido chegou a dialogar com as mulheres da Câmara?

Não é contraditório que o Partido da Mulher tenha no seu corpo uma maioria de homens. São ao total 19 homens e duas mulheres. Nós estamos dentro do percentual da estrutura que temos atualmente na Câmara. De acordo com os dados da composição da Câmara, hoje nós temos lá 513 parlamentares e nós só temos 53 mulheres parlamentares. No PMB, nós temos uma proporção praticamente igual à da Câmara. Não podemos obrigar as deputadas a migrarem para o PMB. A pessoa tem que acreditar no partido, no projeto, na bandeira. Precisa se identificar, abraçar a causa, a ideia, o projeto. O projeto de inserção da mulher na política é de longo prazo. Não é de hoje que nós percebemos isso e, por isso, nós mulheres nunca deixamos de lutar. Se não mudarmos a composição da Câmara, nós teremos sempre a maioria de homens em qualquer partido, qualquer agremiação. E o Partido da Mulher Brasileira não pode coibir a entrada de nenhum homem dentro do nosso partido. Agora, vamos trabalhar muito para que agora em 2016 nós consigamos atingir um número maior de vereadoras e de prefeitas e vamos trabalhar para que em 2018 nós possamos ter aí um quadro mais ativo e mais participativo dentro do cenário na Câmara dos Deputados. Nós vamos trabalhar para atingir esse objetivo.

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Para a presidente do PMB, Suêd Haidar, o PMB é feminino e não feminista (Foto: Divulgação)

O PMB é um partido feminista?

Não… Ele é um partido feminino. Hoje é outro momento da política, um pouco mais moderno, a mulher está participando mais. Tivemos essa grande oportunidade na nossa vida de todos os movimentos feministas, de todos os segmentos feministas, que abriram todas essas portas para que hoje nós tenhamos essa oportunidade de falar aqui de política partidária e da inserção da mulher dentro das instituições partidárias até de uma forma um pouco diferenciada.

Como a senhora se posiciona em relação ao PL 5069/2013, do deputado Eduardo Cunha, que altera a forma de atendimento da mulher que sofre violência ou abuso sexual? [O projeto criminaliza, por exemplo, o profissional da saúde que indicar processos abortivos à mulher que sofreu estupro]

Em relação ao presidente da Câmara estar encaminhando hoje esse projeto em relação ao aborto… Eu sou contra o aborto. A diretriz do partido sempre será essa, contra o aborto. Nós não podemos sair afirmando que a mulher tem qualquer encaminhamento ou esteja matando vidas. Não é isso que nós queremos para nossas mulheres. O que nós queremos é um projeto afirmativo que venha dar o preventivo para a mulher. A mulher tem que estar preparada para se prevenir para que não chegue a necessidade dela matar vidas, que é chegando a fazer o aborto.

Mesmo em casos de aborto legal, como o estupro, por exemplo?

Em caso de estupro, sim. Em caso de uma deficiência, sim. Agora, um aborto provocado porque a mulher está com 18, 20 anos e ela não aceita mais a convivência com aquele parceiro, aí ela tá matando o filho dela. Nesse caso, é claro que nós somos contra o aborto.

Mas não ficou claro como a senhora se posiciona em relação a esse PL especificamente. Esse PL faz alterações na forma como essa mulher que é estuprada vai ser atendida e esse projeto vem sendo criticado, incentivou inclusive essas últimas Marchas das Mulheres…

Eu sou contra, não tem como. Eu também sou contra. Agora mesmo eu estou chegando em Brasília e vou me reunir com um grupo de pessoas para discutir justamente sobre esse projeto pra gente poder ter um posicionamento. Eu também não posso decidir isso sozinha enquanto nós não acabarmos de discutir essa questão. As pessoas atacam e dão suas opiniões, mas são opiniões individuais. Nós queremos sentar, discutir e tirar uma postura, uma opinião em grupo.

Outra questão polêmica na Câmara foi a da inclusão das questões de gênero e sexualidade nos planos educacionais. Acabou sendo barrado, mas existe um lado da militância que defende essa inclusão tanto pra gerar discussões sobre a sexualidade quanto como sobre a desigualdade entre os gêneros na sociedade. Como você se posiciona em relação a isso?

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“Ainda estamos formando nossos diretórios no Brasil”, afirma Suêd Haidar, presidente do PMB (Foto: Reprodução)

O partido foi registrado há pouco mais de dois meses e ainda estamos formando os nossos diretórios por todo o Brasil. Quando estivermos com todo o nosso corpo formado, nós poderemos definir todas as nossas diretrizes e programas. Mas uma coisa eu já posso te dizer com certeza: todas as pessoas estarão incluídas no nosso projeto pois não fazemos distinção de gênero e sempre iremos defender a necessidade de todos os brasileiros. Nós em momento algum podemos excluir os brasileiros de estarem participando do direito à vida. E a inclusão das pessoas de vários gêneros dentro do partido, nós vamos entender, vamos aceitar sim. Acho isso uma hipocrisia, as pessoas falarem que são contra o casamento gay. Isso a legislação já permite! Hoje esses parlamentares que estão aí batendo e criticando, foram eles mesmos que fizeram as leis. Então vamos respeitar as leis que já são um caso consumado no país. A legislação já determina. Agora, ficam queimando papel, ficam encontrando palavras pra ficar dias e dias discutindo, com coisas mais importantes acontecendo no país e naquela plenária pra serem discutidas.

Mas então a senhora é a favor de incluir nos planos educacionais essa discussão de gênero, essa discussão sobre sexualidade?

Não, não, nos planos educacionais, não! Jamais nós iremos definir para uma criança de dez anos qual o tipo de sexo que ele tem e o comportamento que ele tem que ter de dez anos em diante. Nós não podemos permitir nos planos educacionais, não.

Certo… Mas o que é previsto é a discussão de gênero…

Não, aí eu sou contra.

Mesmo que seja para mostrar essa questão de que a mulher sofre com o machismo, com menos espaço na sociedade, inclusive nas instituições políticas?

Não, sou contra, sim. Nós não podemos tirar o direito do pai e da mãe de estar conduzindo a sua família, estar dando uma diretriz à sua família e estar apresentando sua família à sociedade, da forma que ela entenda que tem ser. Sou contra isso, sim, porque essa questão da violência contra mulher não pode ser, nesse momento, e em nenhum momento, discutida numa sala de aula com crianças de dez anos de idade. Isso não existe.

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