Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Checagem

Haddad exagera e Bolsonaro erra em frases sobre educação

Números foram superestimados por candidato do PT, enquanto presidenciável do PSL citou informações falsas

Checagem
26 de outubro de 2018
15:18
Este artigo tem mais de 6 ano
Alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal realizam atividades: candidatos têm propostas distintas para a área
Alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal realizam atividades: candidatos têm propostas distintas para a área

Os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) têm projetos bastante diferentes para educação. Ex-ministro da área durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), Haddad propõe, em seu plano de governo, ampliar o ensino integral, aumentar o apoio a estados e municípios e também federalizar de escolas do ensino médio em áreas vulneráveis, entre outras medidas. Bolsonaro tem como propostas o aumento de investimentos federais no ensino básico, a revisão de currículos para impedir “doutrinação e sexualização precoce” e a criação de escolas militares nas capitais de cada estado.

O Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública – analisou quatro frases sobre educação ditas pelos dois presidenciáveis em entrevistas depois do primeiro turno. Haddad exagerou os dados sobre investimento por aluno quando assumiu a pasta de educação e também o número de cidades que ganharam universidades federais. Bolsonaro usou informações falsas nas duas falas verificadas: ao afirmar que o PT acabou com o curso técnico no ensino médio e ao dizer que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mede o conhecimento em tabuada de crianças de 9 anos.

Fernando Haddad (PT)

“Quando eu cheguei no Ministério da Educação, o investimento por aluno na educação superior era dez vezes superior ao investimento por aluno na educação básica.” – Fernando Haddad (PT), em entrevista à Rádio Globo.

Exagerado

Em entrevista à Rádio Globo no dia 18 de outubro, o presidenciável Fernando Haddad (PT) disse que, quando assumiu o Ministério da Educação (MEC), o investimento por aluno no ensino superior era dez vezes maior em comparação ao investimento por aluno na educação básica. A frase, no entanto, foi classificada como exagerada.

Haddad assumiu o MEC em 29 de julho de 2005. De acordo com os indicadores financeiros educacionais do Instituto Nacional de Estudos  e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), naquele ano o investimento público na educação básica era R$ 1.408 por aluno, enquanto o gasto por universitário era de R$ 10.872 – sendo 7,72 vezes maior que o estudante não graduado no ensino médio. Se o valor fosse dez vezes maior, como informado pelo candidato, seria de R$ 14.080 – número 29,5% superior ao real.

Na mesma entrevista, o candidato disse que, quando encerrou sua gestão na pasta, conseguiu reduzir a diferença de investimentos nas duas modalidades para pouco mais de quatro vezes, o que é verdadeiro. Ele permaneceu no cargo até o dia 24 de janeiro de 2012. Utilizando os dados anuais para 2011, o governo gastou R$ 4.229 para cada aluno matriculado na educação básica. Em contrapartida, R$ 18.770 foram investidos por estudante do ensino superior. Dessa forma, o universitário de fato passou a custar 4,43 vezes mais do que o aluno da educação básica.


“Eu levei universidades federais para 126 cidades brasileiras.” – Fernando Haddad (PT), em entrevista ao SBT.

Exagerado

Uma das realizações sempre comemoradas por Fernando Haddad (PT) é a criação e expansão de universidades e institutos de ensino superior federais durante sua gestão no Ministério da Educação, de julho de 2005 a janeiro de 2012. No entanto, durante a campanha eleitoral o candidato exagerou ao dizer que levou universidades federais para 126 cidades.

Segundo dados enviados pelo Ministério da Educação, foram criadas 14 universidades federais e inaugurados 115 novos câmpus no país entre o final de 2004 e o final de 2011. O número de municípios atendidos foi de 127 para 235, um aumento de 108 cidades – 18 a menos do que o candidato disse (uma diferença de 14,2%).

Durante os 13 anos de governo PT, do final de 2002 ao final de 2015, foram inauguradas 18 universidades e 176 câmpus. Nesse período 166 municípios passaram a ser atendidos, totalizando 287 cidades com unidades de ensino superior público federal, 327 câmpus e 63 universidades federais. Como ministro, portanto, Haddad foi responsável por 77% das universidades federais e 65% dos câmpus inaugurados durante os governos do PT.

Jair Bolsonaro (PSL)

“[Os governos do PT] acabaram com o curso técnico no ensino médio.” – Jair Bolsonaro (PSL), em entrevista à rádio Jovem Pan.

Falso

Ao criticar a falta de investimento nos cursos técnicos no ensino médio, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que os governos do PT acabaram com essa modalidade na educação básica. A afirmação, entretanto, é falsa.

A assessoria de imprensa do candidato não indicou as fontes. O ensino médio integrado ao técnico foi regulamentado em 2004 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assinado por Fernando Haddad, então ministro da Educação, por meio do Decreto nº 5.154, seguindo a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

De acordo com o Censo Escolar, elaborado pelo Inep, o número de docentes da educação profissional de nível técnico aumentou de 6.742 para 18.104 professores de 2003 a 2015 – um crescimento de 168,52%. Durante o governo do PT foram criados 277 estabelecimentos federais para essa modalidade de ensino – um aumento de 200,72%.

Somente a partir de 2007 o Inep incluiu no Censo Escolar a categoria de ensino médio integrado na modalidade de educação profissional, segundo a assessoria do Inep. Naquele ano, existiam 27.204 jovens cursando o ensino médio técnico federal.

Ao longo dos oito anos seguintes, o número de matrículas aumentou. Em 2015, existiam 133.562 matrículas nessa modalidade – um aumento de 390,96%. Em relação ao total de turmas, durante o mesmo período, houve um crescimento de 37,92% – de 3.386 para 4.670 salas de aula.


“Você vai tomar uma tabuada de uma criança de 9 anos de idade, 70% não sabe. Quem disse isso são as provas, como o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes].” – Jair Bolsonaro (PSL), em live no Facebook do empresário Luciano Hang.

Falso

Em live no Facebook de seu apoiador Luciano Hang, diretor das lojas Havan, Jair Bolsonaro (PSL) criticou a situação atual do ensino público no Brasil. Como evidência, o candidato disse que 70% das crianças de 9 anos no país não sabem matemática simples, como a tabuada. Ele apontou como fonte o Pisa. As provas, no entanto, não mostram esse resultado, porque são aplicadas em estudantes mais velhos. Já o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) aponta que 33,1% dos estudantes entre 9 e 11 anos têm conhecimento considerado insuficiente em matemática, sem especificar em qual dos conteúdos. Por isso, afirmação foi considerada falsa.

O Pisa compara o desempenho educacional entre países. As provas do programa são aplicadas para estudantes do 7º ano do ensino fundamental, na faixa etária dos 15 anos – portanto, mais velhos do que aqueles alunos a que o candidato se referiu. Além disso, a avaliação não classifica as pontuações obtidas conforme o grau de conhecimento na área de ensino, apenas faz o ranking com os resultados dos países.

O Brasil obteve 377 pontos em matemática no último Pisa, realizado em 2015. A média global foi de 490 pontos. Entre os 70 países participantes da avaliação, a pontuação brasileira ficou em 65º lugar. Esse resultado não indica a porcentagem de alunos que tiveram desempenho insatisfatório em matemática ou que desconheciam a tabuada, como o candidato falou.

O exame que mede a qualidade do aprendizado dos alunos dessa maneira é o Saeb. Segundo a última prova realizada em 2017, 71,7% dos estudantes de último ano de ensino médio tiveram resultado insuficiente em matemática. A faixa etária desses estudantes fica entre 16 e 18 anos, não 9 anos como disse o candidato. Entre estudantes do 5º ano do ensino fundamental, de 9 a 11 anos, a porcentagem que obteve resultado considerado insuficiente em matemática foi de 33,1%.

Ainda assim, essa parcela não corresponde ao número de estudantes dessa faixa etária que não sabe a tabuada. Entre os conteúdos cobrados estão, além da multiplicação, números fracionados, divisão, reconhecimento de figuras geométricas, interpretação de tabela e gráficos. Para ter resultado considerado insuficiente, o aluno deve ter acertado até 3 pontos na prova, de 10. Portanto, um aluno pode ter desempenho insuficiente conhecendo a tabuada, caso não saiba os outros conteúdos.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Truco

Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

Leia também

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) chegando a seção eleitoral em 7 de outubro de 2018

Pesquisa falsa mostra Bolsonaro na liderança em todos os estados

Por

Mensagem de WhatsApp divulga resultados inexistentes de levantamento eleitoral do Instituto Paraná Pesquisas

Os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que têm propostas diferentes para combater a criminalidade

Bolsonaro e Haddad erram dados sobre segurança pública

Por ,

Candidatos à Presidência exageraram a maior parte das informações nas quatro frases checadas, extraídas de entrevistas feitas depois do primeiro turno

Notas mais recentes

Do G20 à COP29: Líderes admitem trilhões para clima, mas silenciam sobre fósseis


COP29: Reta final tem impasse de US$ 1 trilhão, espera pelo G20 e Brasil como facilitador


Semana tem depoimento de ex-ajudante de Bolsonaro, caso Marielle e novas regras de emendas


Queda no desmatamento da Amazônia evitou internações por doenças respiratórias, diz estudo


Dirigente da Caixa Asset deixa sociedade com ex-assessor de Lira após reportagem


Leia também

Pesquisa falsa mostra Bolsonaro na liderança em todos os estados


Bolsonaro e Haddad erram dados sobre segurança pública


Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes