Os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) têm projetos bastante diferentes para educação. Ex-ministro da área durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), Haddad propõe, em seu plano de governo, ampliar o ensino integral, aumentar o apoio a estados e municípios e também federalizar de escolas do ensino médio em áreas vulneráveis, entre outras medidas. Bolsonaro tem como propostas o aumento de investimentos federais no ensino básico, a revisão de currículos para impedir “doutrinação e sexualização precoce” e a criação de escolas militares nas capitais de cada estado.
O Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública – analisou quatro frases sobre educação ditas pelos dois presidenciáveis em entrevistas depois do primeiro turno. Haddad exagerou os dados sobre investimento por aluno quando assumiu a pasta de educação e também o número de cidades que ganharam universidades federais. Bolsonaro usou informações falsas nas duas falas verificadas: ao afirmar que o PT acabou com o curso técnico no ensino médio e ao dizer que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mede o conhecimento em tabuada de crianças de 9 anos.
Fernando Haddad (PT)
“Quando eu cheguei no Ministério da Educação, o investimento por aluno na educação superior era dez vezes superior ao investimento por aluno na educação básica.” – Fernando Haddad (PT), em entrevista à Rádio Globo.
Em entrevista à Rádio Globo no dia 18 de outubro, o presidenciável Fernando Haddad (PT) disse que, quando assumiu o Ministério da Educação (MEC), o investimento por aluno no ensino superior era dez vezes maior em comparação ao investimento por aluno na educação básica. A frase, no entanto, foi classificada como exagerada.
Haddad assumiu o MEC em 29 de julho de 2005. De acordo com os indicadores financeiros educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), naquele ano o investimento público na educação básica era R$ 1.408 por aluno, enquanto o gasto por universitário era de R$ 10.872 – sendo 7,72 vezes maior que o estudante não graduado no ensino médio. Se o valor fosse dez vezes maior, como informado pelo candidato, seria de R$ 14.080 – número 29,5% superior ao real.
Na mesma entrevista, o candidato disse que, quando encerrou sua gestão na pasta, conseguiu reduzir a diferença de investimentos nas duas modalidades para pouco mais de quatro vezes, o que é verdadeiro. Ele permaneceu no cargo até o dia 24 de janeiro de 2012. Utilizando os dados anuais para 2011, o governo gastou R$ 4.229 para cada aluno matriculado na educação básica. Em contrapartida, R$ 18.770 foram investidos por estudante do ensino superior. Dessa forma, o universitário de fato passou a custar 4,43 vezes mais do que o aluno da educação básica.
“Eu levei universidades federais para 126 cidades brasileiras.” – Fernando Haddad (PT), em entrevista ao SBT.
Uma das realizações sempre comemoradas por Fernando Haddad (PT) é a criação e expansão de universidades e institutos de ensino superior federais durante sua gestão no Ministério da Educação, de julho de 2005 a janeiro de 2012. No entanto, durante a campanha eleitoral o candidato exagerou ao dizer que levou universidades federais para 126 cidades.
Segundo dados enviados pelo Ministério da Educação, foram criadas 14 universidades federais e inaugurados 115 novos câmpus no país entre o final de 2004 e o final de 2011. O número de municípios atendidos foi de 127 para 235, um aumento de 108 cidades – 18 a menos do que o candidato disse (uma diferença de 14,2%).
Durante os 13 anos de governo PT, do final de 2002 ao final de 2015, foram inauguradas 18 universidades e 176 câmpus. Nesse período 166 municípios passaram a ser atendidos, totalizando 287 cidades com unidades de ensino superior público federal, 327 câmpus e 63 universidades federais. Como ministro, portanto, Haddad foi responsável por 77% das universidades federais e 65% dos câmpus inaugurados durante os governos do PT.
Jair Bolsonaro (PSL)
“[Os governos do PT] acabaram com o curso técnico no ensino médio.” – Jair Bolsonaro (PSL), em entrevista à rádio Jovem Pan.
Ao criticar a falta de investimento nos cursos técnicos no ensino médio, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que os governos do PT acabaram com essa modalidade na educação básica. A afirmação, entretanto, é falsa.
A assessoria de imprensa do candidato não indicou as fontes. O ensino médio integrado ao técnico foi regulamentado em 2004 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assinado por Fernando Haddad, então ministro da Educação, por meio do Decreto nº 5.154, seguindo a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
De acordo com o Censo Escolar, elaborado pelo Inep, o número de docentes da educação profissional de nível técnico aumentou de 6.742 para 18.104 professores de 2003 a 2015 – um crescimento de 168,52%. Durante o governo do PT foram criados 277 estabelecimentos federais para essa modalidade de ensino – um aumento de 200,72%.
Somente a partir de 2007 o Inep incluiu no Censo Escolar a categoria de ensino médio integrado na modalidade de educação profissional, segundo a assessoria do Inep. Naquele ano, existiam 27.204 jovens cursando o ensino médio técnico federal.
Ao longo dos oito anos seguintes, o número de matrículas aumentou. Em 2015, existiam 133.562 matrículas nessa modalidade – um aumento de 390,96%. Em relação ao total de turmas, durante o mesmo período, houve um crescimento de 37,92% – de 3.386 para 4.670 salas de aula.
“Você vai tomar uma tabuada de uma criança de 9 anos de idade, 70% não sabe. Quem disse isso são as provas, como o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes].” – Jair Bolsonaro (PSL), em live no Facebook do empresário Luciano Hang.
Em live no Facebook de seu apoiador Luciano Hang, diretor das lojas Havan, Jair Bolsonaro (PSL) criticou a situação atual do ensino público no Brasil. Como evidência, o candidato disse que 70% das crianças de 9 anos no país não sabem matemática simples, como a tabuada. Ele apontou como fonte o Pisa. As provas, no entanto, não mostram esse resultado, porque são aplicadas em estudantes mais velhos. Já o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) aponta que 33,1% dos estudantes entre 9 e 11 anos têm conhecimento considerado insuficiente em matemática, sem especificar em qual dos conteúdos. Por isso, afirmação foi considerada falsa.
O Pisa compara o desempenho educacional entre países. As provas do programa são aplicadas para estudantes do 7º ano do ensino fundamental, na faixa etária dos 15 anos – portanto, mais velhos do que aqueles alunos a que o candidato se referiu. Além disso, a avaliação não classifica as pontuações obtidas conforme o grau de conhecimento na área de ensino, apenas faz o ranking com os resultados dos países.
O Brasil obteve 377 pontos em matemática no último Pisa, realizado em 2015. A média global foi de 490 pontos. Entre os 70 países participantes da avaliação, a pontuação brasileira ficou em 65º lugar. Esse resultado não indica a porcentagem de alunos que tiveram desempenho insatisfatório em matemática ou que desconheciam a tabuada, como o candidato falou.
O exame que mede a qualidade do aprendizado dos alunos dessa maneira é o Saeb. Segundo a última prova realizada em 2017, 71,7% dos estudantes de último ano de ensino médio tiveram resultado insuficiente em matemática. A faixa etária desses estudantes fica entre 16 e 18 anos, não 9 anos como disse o candidato. Entre estudantes do 5º ano do ensino fundamental, de 9 a 11 anos, a porcentagem que obteve resultado considerado insuficiente em matemática foi de 33,1%.
Ainda assim, essa parcela não corresponde ao número de estudantes dessa faixa etária que não sabe a tabuada. Entre os conteúdos cobrados estão, além da multiplicação, números fracionados, divisão, reconhecimento de figuras geométricas, interpretação de tabela e gráficos. Para ter resultado considerado insuficiente, o aluno deve ter acertado até 3 pontos na prova, de 10. Portanto, um aluno pode ter desempenho insuficiente conhecendo a tabuada, caso não saiba os outros conteúdos.