Buscar

Inspirada nas autoridades monetárias, Autoridade Nacional para o Risco Climático deve atuar de maneira interdisciplinar

Reportagem
10 de novembro de 2022
17:33
Este artigo tem mais de 2 ano

Em entrevista à Agência Pública nesta quarta-feira (10), a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) falou sobre sua proposta de criação de uma Autoridade Nacional para o Risco Climático, que coordenaria de maneira interdisciplinar a ação climática do governo brasileiro. Foi a estreia da ex-ministra do Meio Ambiente, cotada para reassumir o cargo no governo Lula, na Conferência do Clima da ONU, a COP27, que acontece em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Segundo Marina, a ideia foi inspirada nas autoridades monetárias que “ficam de olho se estão sendo cumpridos os mecanismos de controle da inflação”. “Nesse caso, [a Autoridade supervisionaria] se estão sendo cumpridos os mecanismos de controle e redução das emissões [de gases do efeito estufa] para que o governo, nos seus mais diferentes segmentos responsáveis pela implementação dessa agenda, possa corrigir rumos, aprofundar políticas, e assim por diante”, explicou. “A ideia é evitar a inflação climática.”

Entre colaboradores da campanha de Lula, havia também a sugestão de construção de uma secretaria de emergência climática, que seria vinculada à Presidência da República. Questionada sobre o assunto, Marina afirmou que são duas propostas diferentes: a sua se refere a um órgão para “fazer o acompanhamento, a articulação da implementação e capacidade de resiliência do Brasil no plano nacional referente aos compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris”.  Há expectativas de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve chegar à COP27 na próxima semana, faça algum anúncio sobre as áreas de clima e meio ambiente de seu governo durante a participação na conferência. 

Encontro com Kerry

Durante o dia, Marina cumpriu diversas agendas no evento: se encontrou com a vice-presidente da Colômbia e ativista ambiental Francia Márquez e com o vice-presidente para a América Laitina e o Caribe do Banco Mundial, Carlos Felipe Jaramillo. Também se reuniu com o enviado especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, a quem sugeriu um mecanismo de financiamento envolvendo os dois países. “Falei que já temos uma cooperação com a Noruega e a Alemanha [o Fundo Amazônia] e que seria muito bem-vinda a possibilidade de um aporte de recursos também por parte dos Estados Unidos”, relatou.

Marina Silva com representantes mundiais na COP27
Marina durante encontro com lideranças, entre elas a vice-presidente da Colômbia Francia Márquez, no Brazil Climate Action Hub, na COP27

A deputada também destacou que os representantes dos EUA sinalizaram “fortemente” que o presidente Joe Biden vê com “muita expectativa” a vitória de Lula “para ampliarmos e aprofundarmos a cooperação em várias frentes”. Biden chega nesta sexta (11) à conferência.

Aliança para proteção das florestas 

Marina comentou ainda a retomada do multilateralismo que deve ocorrer durante o governo Lula. O Brasil já negocia com Indonésia e República Democrática do Congo um bloco de proteção das florestas tropicais no âmbito das negociações climáticas (os BICs, junção das letras iniciais dos três países), uma proposta defendida pela campanha de Lula nos últimos meses. A ex-ministra disse que o novo governo tem interesse na agenda de proteção de florestas por meio dos países “megaflorestais” – juntos, as três nações reúnem 52% das florestas primárias remanescentes no mundo. 

No entanto, critica o nome pelo qual a nova aliança tem sido apelidada – “Opep das florestas”, em alusão à Organização dos Países Exportadores de Petróleo. “A Opep é um cartel, um vetor de emissões. E, no caso, as florestas não são um cartel, [os países com florestas] trabalham muito com a ideia de cooperação, e em lugar de ser emissão é sequestro, estoque de carbono”, avaliou.

*Atualização: corrigimos o nome do representante do Banco Mundial com quem Marina Silva se encontrou.

*Essa reportagem foi publicada com o apoio da COP27 Climate Justice Journalism Fellowship do Climate Tracker.

*Colaborou Karina Tarasiuk

Reprodução Instagram

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes