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Enquanto a prefeitura do Rio tenta convencer moradores a deixar suas casas por outras com piscina com tobogã, fotógrafo retrata histórias de amor e superação na comunidade

Entrevista
8 de março de 2013
12:00
Este artigo tem mais de 11 ano

Na semana passada, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes visitou o estande decorado do conjunto habitacional “Parque Carioca” em Jacarepaguá, para onde pretende mandar os moradores da Vila Autódromo, antiga comunidade do centro do Rio de Janeiro que deve ser removida para dar lugar ao Parque Olímpico Rio 2016.

Ignorando o Plano Popular da Vila Autódromo, elaborado pela associação de moradores em conjunto com especialistas da Universidade Federal Fluminense – Falamos dele aqui – a prefeitura tenta, com um apelo totalmente diferente do resto das remoções feitas de forma violenta e arbitrária na cidade, convencer os moradores a conhecer o apartamento modelo do novo “condomínio”, que tem no projeto piscina com tobogã, quadras e espaços de lazer.

“Os agentes estão chegando na comunidade com panfletos, deixaram um ônibus à disposição dos moradores para que conheçam o lugar, mas a Vila Autódromo segue unida, a maioria não quer sair” diz Renato Cosentino, do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro. “O que está acontecendo lá é exceção, essa tentativa de convencimento, esse reassentamento chique. Estão fazendo isso para passar uma boa imagem para a mídia, mas a gente sabe que as remoções não seguem este modelo. Mesmo assim, os moradores têm medo do alto custo de manutenção, que será reateado entre eles, como em qualquer outro condomínio. Muitos também “não querem trocar suas casas por apartamentos de 50 metros quadrados”explica.

História para contar

Além da questão prática, há também o amor dos moradores pela comunidade e muitas histórias de vida que têm a Vila Autódromo como pano de fundo.

Uma destas histórias é contada no ensaio fotográfico “Vila Autódromo, Marcas da Vida”, feito por João Vitor dos Santos, formado pela Escola De Fotógrafos Populares, em parceria com o coletivo #entresembater. Andando pela comunidade, JV conheceu a família Santos Rocha, que mora há quase 20 anos ali. Resolveu mostrar seu cotidiano. Na vídeo-montagem feita com as imagens, JV coloca trechos dessa história contada pelos catadores Carlos e Evanilde, que já passaram por outras remoções e não pretendem deixar o local onde vivem com os seis filhos e uma neta há tantos anos.

Leia a entrevista que o fotógrafo deu ao Copa Pública e conheça a história dessa família na vídeo-montagem: 

Por que você escolheu a Vila Autódromo como tema do ensaio?

Conheci a Vila Autódromo em 2011. É uma comunidade reconhecida até internacionalmente por seu exemplo de resistência na luta pela moradia há pelo menos 20 anos. A escolha vem dessa luta, e por eu não enxergar justificativa para a remoção dos moradores daquela área, a não ser a especulação imobiliária e uma questão pessoal do atual prefeito, que já demonstra interesse por aquelas terras desde a época que era subprefeito da Barra da Tijuca. Acho que a história da Vila Autódromo mostra perfeitamente a luta dos moradores de favela para manterem suas casas.

E a familia que você fotografou? Como conheceu?

Conheci pelas minha andanças dentro da comunidade. A maioria dos moradores sempre me abordava quando me via com câmera fotográfica. É impressionante a necessidade das pessoas de lá terem suas histórias de vida serem conhecidas. A Família Santos Rocha me recebeu muito bem, e tem uma história de vida incrível.

Sua abordagem é mais humana, focada na história da familia. Por quê?

Percebi que os veículos de comunicação só tratavam as áreas ameaçadas de remoção por questões técnicas. Sempre se discutia se era invasão ou não, se os moradores seriam reassentados dentro da comunidade ou não, se receberiam indenização ou aluguel social, quanto mediam suas casas e as casas que lhes seriam entregues… A ideia do ensaio é tirar o concreto e as cifras e trazer o lado humano das histórias das pessoas que enfrentam essa luta pela moradia. Creio que seja um legado que o mestre João Roberto Ripper [criador da Escola De Fotógrafos Populares] costuma deixar para  seus alunos.

Você pretende continuar a série sobre essas familias?

Sim. Já continuo o ensaio na Vila Autódromo com outros moradores.

A família viu o resultado? O que achou?

A família participou do processo de construção do ensaio. Tive a oportunidade de pedir a opinião deles sobre as imagens, retornar com algumas fotos impressas para eles. O mais gratificante foi que no dia em que mostrei o ensaio pela primeira vez a outras pessoas, eles estavam presentes. E olha que foi na Maré, bem longe da Vila Autódromo! Foi realmente mágico poder ver a resposta positiva deles e contar com o apoio para dar continuidade no trabalho.

O que você acha da chegada dos megaeventos ao Rio?

Os grandes eventos que virão, na minha opinião, da forma e por quem estão sendo conduzidos, serão um capítulo muito triste na história da cidade, assim como outras reformas urbanas que devastaram as camadas populares ao longo dos anos.

Vila Autódromo, Marcas da Vida – Família Santos Rocha from JV Santos on Vimeo.

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