Foram 11 postulantes à presidência e mais de 100 milhões de reais gastos para tentar convencer o eleitor a votar neste ou naquele candidato. Ainda assim, 38.797.556 eleitores não votaram em ninguém para a presidência do Brasil, quase 3 milhões a mais do que os eleitores que votaram no segundo colocado, Aécio Neves, e apenas 4,4 milhões a menos dos votos obtidos pela primeira colocada, a presidente Dilma. Uma marca grande demais para atribuí-la simplesmente às pessoas que não puderam votar ou se confundiram na hora de marcar seu voto.
O fenômeno foi constatado pela mídia e abordado por especialistas e analistas que, de modo geral, atribuíram a abstenção pura e simples – responsável pela maior fatia dos que não escolheram ninguém (27,7 milhões de eleitores) – à indiferença ou recusa do voto obrigatório. Já os votos brancos (4,4 milhões), e principalmente os nulos (6,6 milhões), mereceram mais cuidado: eles seriam resultado de uma insatisfação com os concorrentes ao cargo ou mesmo de uma recusa do sistema eleitoral como forma de participação política.
Do ponto de vista prático, não comparecer as urnas, votar nulo ou branco tem exatamente o mesmo efeito – apenas os votos válidos são contabilizados no resultado do pleito. Mas do ponto de vista político, será que eles significam a mesma coisa?
A Pública acredita que não é possível ignorar a vontade de quase 40 milhões de eleitores que se recusaram a escolher candidatos nessas eleições, principalmente depois dos protestos que levaram milhões às ruas há pouco mais de um ano. Por isso, convidamos os leitores que não compareceram às urnas, votaram branco ou anularam seu voto a explicar qual a força política que o moveu nessas eleições. Para as duas últimas categorias, fizemos uma enquete que durou apenas um dia, a terça-feira 7 de outubro.
A participação foi intensa. Foram 207 respondentes, e o motivo mais apresentado como justificativa para a invalidação do voto foi “não confio em nenhum candidato/partido”, por 119 pessoas (57%). Os participantes podiam escolher mais de uma opção.
Veja abaixo o resultado final:
A discussão também tomou a página da Pública no Facebook, e aqueles que votaram em nulo ou branco defenderam suas posições. Foram muitos testemunhos interessantes – vale a pena ouvir o que pensam esses eleitores! Selecionamos alguns deles:
Paulo Selega Cardinali: “Desde 2002 não votava, sempre me abstive pois esse sistema representativo com quociente partidário, voto obrigatório, financiamento privado, impossibilidade do recall político, reeleições sem limite, geram campanhas exclusivamente midiáticas. A legislação eleitoral não valoriza o debate e sim o ataque entre os candidatos com regras em excesso, bem ao gosto do aparelho estatal. Nessa eleição votei nulo para dep estadual, senador e governador. Nenhum candidato valia o meu voto”.
Pedro Fontana: “Nesse segundo turno meu voto será nulo. A explicação é baseada que o voto elege qual será a liderança da sociedade, deve ser estipulada para a pessoa que representa os interesses de quem está votando. Nenhum dos dois candidatos representa meus interesses”.
Taís Peyneau: “Não é meu caso, mas meu voto foi “de protesto” mais q de afinidade. Outro indício forte da falta de representatividade interessante de investigar, sobretuto neste segundo turno: pq tanta gente vai votar pra que o outro candidato a presidência não se eleja, mais que por afinidade com aquele em que está votando. É o meu caso e o de praticamente todo mundo com quem tenho conversado”.
Márcio Gadoti Cardoso Borracha: “A inexistência de propostas reais de mudança. Não existe vontade de mudar, pricipalmente da elite brasileira, pois a política é comandadda pelo dinheiro e quem tem poder econômico quer que tudo fique como está, o rico na casa grande e o pobre na senzala. O pior de tudo é que milhões de brasileiros possuem a Síndrome de Estocolmo gravada em seu DNA, não sabe ter vida autônoma, precisa das migalhas ofericidas pelos sinhozinhos!”
Toni Francis Simples: “A atual conjuntura do sistema político não me agrada… tinha até um ou dois candidatos que me indentifiquei… mas anulei meu voto por protesto… quero mudanças reais em favor do país e não de classe, raças ou credos….”
Carlos Alberto Cardoso: “Anulei o voto porque não aceito o “jogo de cartas marcadas” que aí está. Os planos de saúde bancam a campanha dos candidatos que estiverem entre os três primeiros lugares nas pesquisas de intenção de voto. Que dizer: quem vencer, já está comprometido”.
Jéssica Oliveira Pereira: “Minha vontade de anular se dá pela não identificação com a democracia representativa. O voto acaba sendo um fingimento de cidadania. Ir às urnas, fazer campanha no facebook e depois viver no seu comodismo não é política pra mim. Vejo muito mais opções de participações políticas no dia a dia do que no ato do voto”.
Laurimar Rosa de Lima: “Desilusão, desprazer, desgosto, desconfiança, falta de credibilidade, levaram o Cidadão a anular o voto. Anulação é demonstração de insatisfação; que não acredita mais no cenário político brasileiro. Em uma nação de 202 milhões; 40 milhões de votos desperdiçados, é uma situação muito séria. Isto prova que o cidadão não aceita mais, os atuais personagens políticos como representes”.
Gabriel Morganti Contini: “Acho que o voto nulo ou em branco é o verdadeiro voto de protesto. Eu uso para mostrar nas urnas que não acho nenhum dos candidatos adequado para o cargo e espero que surja alguém que realmente tenha ideias novas e que as ponha em prática, não reciclagem de ideias conhecidas, repetidas a cada quatro anos…”
Viviane Viana: “Pura desesperança. Não acredito no candidatos que existem, não acredito no modelo de política que temos hoje, não acredito no voto obrigatório. Não quero contribuir para um inchaço no número de representantes absurdos que nós temos, que são completamente despreparados ( principalmente em cargos como Deputados e vereadores) que possuem benefícios e renda vergonhosos de tão altos bancados com nossos impostos. Sou completamente desiludida com a possibilidade de qualquer mudança que seja, de origem popular ou vinda de algum governante”.
E você, o que tem a dizer sobre essa opção política?