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Reportagem

Andrea Matarazzo, o "capo" da cidade de São Paulo

Em outubro de 2007, o ex-subprefeito da Sé recebeu o cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Thomas White, na sua sala da prefeitura paulistana.

Reportagem
28 de março de 2011
16:29
Este artigo tem mais de 13 ano

“Matarazzo age como chefe de facto de uma cidade de 11 milhões de habitantes e um orçamento de mais de 10 bilhões de dólares”, descreve White em um dos telegramas. A reunião aconteceu um andar abaixo do escritório do prefeito Gilberto Kassab.

O tucano é descrito como um “auto-promotor, satisfeito e confortável com a autoridade lhe é atribuida pelo prefeito e pelo governador e desfruta claramente do seu exercício”. Identificado na mensagem como “amigo e colega” de José Serra, Matarazzo diz aos americanos que ambos se esforçaram em reformar o sistema da Grande São Paulo, onde cada um dos subprefeitos eram ligados a um vereador sendo responsáveis apenas por cuidar dos aliados e dos interesses do político em seu distrito.

Matarazzo descreve seu trabalho como sendo o de manter o equilíbrio entre os 31 distritos enquanto os subprefeitos devem evitar corrupção e troca de favores. “Ele diz ter acabado com 3 projetos no bairro nobre do Jardins por serem operados por amigos seus”, relata o telegrama.

Kassab, apenas um “apêndice”

Segundo Matarazzo, 80% dos cargos da prefeitura eram controlados pelo PSDB. Quando refere-se ao “modelo de gestão diferente de Serra” como o princípio da administração da cidade, relega Kassab ao papel de “apêndice” e uma “reflexão tardia”. Apesar disso, Andrea reconhece que o prefeito estava fazendo um bom papel “em uma administração do PSDB”.

Em outra mensagem (enviada um dia depois) sobre a mesma conversa, Matarazzo desmente que haja um racha no PSDB paulista entre os grupos de Serra e Alckimin. Para ele, existia sim um grupo pró-Serra e outro anti-Serra que não lidava bem com a maneira “fazer o que tem que ser feito” que estava sendo implementada, além da personalidade difícil do líder tucano ao lidar com outros políticos. Andrea desmentiu boatos que Serra teria tendências nacionalizantes ou intervencionistas. “Os bancos odeiam Serra”, disse aos americanos.

O “cara mau” da prefeitura

No encontro, Andrea gabou-se de ter tirado os ambulantes de Santo Amaro (bairro onde fica o consulado americano em São Paulo) e de ter fechado várias vezes o Stand Center na Avenida Paulista, um lugar onde havia grande número de vendedores de eletrônicos. “Quando eles mostram que suas licenças estão em ordem e que eles estão dentro da lei então eu tenho que deixa-los reabrir”, teria dito Matarazzo. “Eu faço o cara mau!”, disse ele a Thomas White que notou no telegrama “algum gosto” por este papel por parte de Andrea.

Matarazzo disse que planejava livrar-se do sistema de licenças para ambulantes até o final daquele ano e acreditava que a cidade não precisava dos camelôs. “É uma máfia!”, disse Matarazzo que contabilizava 60% dos informais como sendo bolivianos ilegais vendendo pirataria e contrabando além de nigerianos traficando drogas. Segundo o subsecretário, os camelôs se dividiam entre receptadores empregados pelo PCC e contrabanditas ligados ao chinês Law Kim Chong.

A Cracolândia também era alvo das medidas agressivas as quais Matarazzo estava implementando. Andrea disse que haviam 25 novos projetos e uma variedade de incentivos para negócios na área além da criação de 23 mil novos empregos.

Para o subsecretário, havia uma “glamourização da favela” por parte da mídia e da industria do entretenimento, muito bem difundida no filme “Tropa de Elite”. “Todos adoram polícia-e-bandido, mocinhos e bandidos. Mas o público subestima o dano real causado pelo crime organizado”, Matarazzo explica.

De acordo com ele, a administração de Marta Suplicy havia apreendido apenas 30 mil CD’s piratas “Eu apreendi 1,5 milhão e este ano serão mais de dois milhões!”, gabou-se o subsecratário que soltou um mote: “O CD pirata de hoje é a bala perdida de amanhã”.

Um terceiro mandato para Lula

Matarazzo acreditava que dali até 2010 Lulaagiria indiretamente a fim de permanecer no poder. Isso se daria ou por uma emenda constitucional ou um plebicito. Se não desse certo, Lula procuraria alguém para apoiar e disputaria de novo em 2015 (sic). “Este cenário pressupõe uma emenda constitucional diferente, que o PSDB apoiaria, revogando a emenda da reeleição de 1997 e limitando o presidente a um mandato de cinco anos”, descreve o telegrama.

Matarazzo reconhece o ex-presidente como sendo “muito inteligente e um grande comunicador, mas muito primitivo e simplista, simpático às pessoas comuns”. De acordo com Andrea, Lula havia relaxado as condições de ingresso no Bolsa Família a ponto de um quarto da população poder requisitá-lo. “As pesquisas mostram que atacar Lula é um tiro pela culatra”, disse aos americanos.

Andrea considerava que Ciro Gomes seria o nome a ser apoiado por Lula como seu sucessor e seria o pesadelo do PSDB. O político do PSB é chamado por Matarazzo de “patologicamente insano, doente” e os americanos confirmam que outras de suas fontes – incluindo FHC – transmitiam esta mesma impressão mesmo que em um grau mais ameno.

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