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Documentos revelam que, apesar de trabalharem em conjunto, brasileiros não confiam nas autoridades paraguaias

Reportagem
29 de junho de 2011
19:00
Este artigo tem mais de 13 ano

Oficiais brasileiros não confiam nas autoridades paraguaias na hora de repassar dados sigilosos sobre o combate à criminalidade na Tríplice Fronteira. “O Brasil já compartilhou informações com o Paraguai em alguns casos, e as informações foram comprometidas”, diz um documento confidencial da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção vazado pelo WikiLeaks.

O texto foi escrito por diplomatas americanos após uma reunião com conselheiros políticos da Embaixada do Brasil no Paraguai.

A conversa aconteceu em junho de 2005 e girou em torno dos esforços que Brasil e Estados Unidos vinham dedicando, então, ao combate às atividades criminosas transnacionais que acontecem na região onde convergem os territórios de Brasil, Paraguai e Argentina.

Segundo a Embaixada norte-americana, “o Brasil continua empenhado no combate ao contrabando na fronteira, mas não enxerga muitas evidências de que o Paraguai compartilha o mesmo compromisso”. De acordo com o documento, tal avaliação serviu de base para que os diplomatas de Brasil e Estados Unidos concordassem em somar esforços no terreno diplomático para pressionar o governo paraguaio, então comandado pelo presidente Nicanor Duarte Frutos, a intensificar o combate ao crime.

Tríplice fronteira

A Tríplice Fronteira é famosa por abrigar atividades de contrabando de armas, tráfico de drogas, pirataria, falsificação e lavagem de dinheiro. Para os Estados Unidos, porém, a região guarda uma característica ainda mais preocupante – e controversa.

Washington acredita que alguns membros da numerosa comunidade árabe que vive nas cidades fronteiriças fazem parte da rede internacional utilizada para financiar o terrorismo no Oriente Médio.

Por isso, na esteira dos ataques de 11 de Setembro de 2001, o governo George W. Bush ativou um mecanismo chamado Diálogo 3+1 sobre Contra-Terrorismo, que consiste em encontros periódicos entre os Estados Unidos, Brasil, Paraguai e Argentina para discutir a segurança e o controle das movimentações financeiras na Tríplice Fronteira.

Conforme costumam fazer em reuniões diplomáticas, no encontro que mantiveram em 2005 os diplomatas brasileiros negaram que a Tríplice Fronteira seja uma região dedicada ao financiamento do terrorismo, e condenaram as acusações dos Estados Unidos.

Para o Brasil, ou Washington compartilha informações e evidências de que existe atividade terrorista na Tríplice Fronteira, ou deixa de denunciá-las publicamente.

Entretanto, os conselheiros políticos da Embaixada brasileira em Assunção disseram que o Brasil também se preocupa com os atos ilícitos que ocorrem na Tríplice Fronteira – e requisitaram maior colaboração de Washington para mitigá-las.

“O Brasil possui conhecimento mais profundo sobre a região e as pessoas envolvidas, mas os Estados Unidos possuem informação própria e expertise para oferecer.”

Pressão conjunta

Os diplomatas brasileiros também ofereceram ajuda aos Estados Unidos para pressionar o Paraguai a aprovar uma lei contra a lavagem de dinheiro enviada ao Congresso em maio de 2004, ou seja, 16 meses antes da reunião.

Isso porque o Paraguai não havia cumprido com algumas promessas feitas a funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em dezembro de 2004. Na ocasião, membros do governo teriam garantido que o Congresso aprovaria a lei contra lavagem de dinheiro em alguns meses e que, em seguida, o presidente Nicanor Duarte Frutos iria enviar ao congresso um projeto de lei sobre terrorismo.

“Dez meses depois, o Paraguai não tinha feito nada disso, apesar da pressão internacional. O diplomata brasileiro entendeu a frustração dos Estados Unidos com o Paraguai e disse que o Brasil está aberto para fazer mais pressão sobre o país, tanto através do Comitê das Nações Unidas sobre Contra-Terrorismo como do Diálogo 3+1 sobre Contra-Terrorismo.”

Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela Agência Pública.

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