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Em 2006, advogado do comandante do massacre do Carandiru conversou com diplomatas americanos

Reportagem
9 de julho de 2011
14:34
Este artigo tem mais de 13 ano

Homem no comando da repressão à revolta do Carandiru em 1992, Cel. Ubiratan Guimarães é personagem principal de dois telegramas do consulado americano em São Paulo assinados pelo cônsul-geral, Christopher McMullen.

Uma das mensagens, de setembro de 2006, comenta seu assassinato e relata um encontro de um membro do corpo diplomático americano com seu advogado, Vicente Cascione. “Em uma distorção da lógica convencional, o advogado de Guimarães disse ao oficial político da embaixada que a a corte ter condanado Guimarães seria uma violação dos direitos humanos, porque ele simplesmente seguiu ordens dos líderes estadual e municipal lançando o assalto à prisão”, comenta o documento.

De acordo com a defesa de Guimarães na conversa com o diplomata americano, o coronel não estava no comando direto da operação por ter sido ferido por uma cápsula de gás explosivo e teria sido feito de bode espiatório pelo governo e pela imprensa por 14 anos.

Ubiratan Guimarães elegeu-se deputado estadual. Os diplomatas notam a ironia em seu número de candidatura ter sido 111, o mesmo de prisioneiros mortos no Carandiru (Ubiratan dizia ter escolhido o número por ser o mesmo do cavalo que usava no começo de sua carreira como policial).

Cel. Ubiratan Guimarães foi encontrado morto em seu apartamento nos Jardins numa noite de domingo, 10 de setembro de 2006. “Comandantes policiais da investigação disseram na segunda que eles não podem deduzir qualquer motivo ou cenário por trás do assassinato, incluindo um ato de vingança pelo papel de Guimarães no massacre do Carandiru ou um crime passional”, explica o segundo telegrama.

Cláudio Lembo, então governador paulista, descartou publicamente a teoria que o assassinato poderia ter tido conexões com o crime organizado. Apesar disso, os diplomatas levantam esta hipótese na mensagem. “Uma ligação com o PCC é fácil de ser suposta porque a gangue é cogitada de ter assassinado José Ismael Pedrosa – o diretor do Carandiru na época do massacre – em outubro de 2005”, demonstra o documento que cita como exemplo a morte pelo PCC de seis guardas de prisão no decorrer de uma semana em julho daquele ano.

A investigação concluiu que a namorada do coronel, a advogada Carla Cepollina, foi a autora do disparo que o matou. Ela ainda não foi julgada.

Claramente crítico a Ubiratan, o documento mostra reproduz a opinião da juíza Maria Cristina Cotrofe Biasi, que havia condenado o coronel em primeira instância a 632 anos de prisão. A decisão foi revertida na justiça estadual em 15 de fevereiro de 2006, seis meses antes do assassinato do coronel. “A decisão da instância superior é… uma vergonha. Vergonha sobre a corte superior. Eu estou perplexa”, teria dito a magistrada.

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