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Guerra por controle remoto: conheça os fabricantes de drones

Dez anos depois do primeiro ataque aéreo realizado por um avião sem tripulantes, empresas se reúnem em Londres

Reportagem
22 de novembro de 2011
12:50
Este artigo tem mais de 12 ano

Por Chris Wood

O general da reserva dos EUA Kenneth Israel tinha pouco tempo para um punhado de manifestantes contra aviões não tripulados que se reuniam do lado de fora de um hotel luxuoso em Londres. Lá dentro, acontecia uma conferencia do setor que fabrica essas armas. Onde, perguntou ele, estão os protestos contra as armas que matam soldados aliados todos os dias nos fronts de guerra?

“Onde está a moral em usar indiscriminadamente bombas caseiras? Vocês acham isso uma guerra justa? Até hoje nenhuma matéria foi escrita sobre a mortalidade das bombas caseiras”, ele disse ao Bureau of Investigative Journalism, parceiro da Pública. “Os aviões sem tripulantes são tão imorais quanto as bombas caseiras que estão sendo usadas regiões onde, no final, civis acabarão perdendo suas vidas”.

Ex-subsecretário de defesa dos Estados Unidos, Israel agora ocupa o cargo de vice-presidente da empresa de armamentos Lockheed Martin, onde desenvolve projetos secretos.

Ele esteve em Londres em meados de novembro para presidir uma conferência sobre veículos não tripulados – os famosos aviões de ataque por controle remoto.

Dez anos atrás o primeiro ataque aéreo controlado remotamente era acertava o Afeganistão. A data precisa ainda é um segredo de estado, já que o ataque foi conduzido pela CIA. Mas provavelmente o alvo era Mullah Akhund, o número três do Talibã, atacado por uma aeronave do tipo por volta do dia 8 de novembro de 2001. Akhund sobreviveu, mas outros morreram.

Uma arma decisiva

Na última década aviões sem tripulantes se tornaram a arma decisiva na guerra contra o terrorismo.

Mas até hoje não se sabe precisamente quantas pessoas foram mortas por esse tipo de ataque. Uma investigação feita pelo Bureau descobriu pelo menos 2.300 mortos por ataques comandados pela CIA somente no Paquistão.

Já com relação ao vizinho Afeganistão, as forças armadas dos Estados Unidos não revelam a quantidade de mortos, mas reconhecem que entre eles há civis. As forças britânicas, por sua vez, dizem que mataram cerca de 125 supostos militantes e quatro civis com este tipo de ataque.

Já na Somália, Iêmen, Iraque e na Líbia – países em que houve operações com aviões sem tripulantes – não se tem nem ideia de quantas pessoas foram mortas, ou se eram militantes ou civis.

Os aviões de ataque representam apenas uma parcela do total de 6 bilhões de dólares a serem gastos este ano com veículos controlados remotamente. Há mais de 800 modelos disponíveis, que variam de micro robôs espiões a gigantes veículos infláveis.

Mas tem crescido a importância dos veículos de ataque. O evento que ocorreu na semana passada foi o décimo primeiro encontro anual sobre aviões não tripulados organizado pela empresa de conferência SMI Group.

O organizador do evento, Pete Andersen, que organizou a conferência, explica que com nos últimos encontros houve um visível aumento no interesse por aeronaves de ataque. “No começo (os modelos) eram muito baseados em inovação e criatividade”, diz ele. “Depois as plataformas se tornaram mais belicosas, com maior capacidade de carga explosiva, e nós tivemos que nos adaptar”.

Lucrando com a guerra por controle remoto

A empresa americana General Atomics é provavelmente a que mais lucrou com essa primeira década de guerra por controle remoto. A empresa fabrica dois modelos de aviões – o Predator (“predador”) e o Reaper (“ceifador”, uma referência a “ceifador de vida”) – que são usados tanto pelos militares dos EUA quanto do Reino Unido.

Mas o valor total desse vultoso lucro é ainda um segredo, já que a companhia, um empreendimento privado sediado em Delaware, nos EUA, não publica nenhuma informação financeira, nem mesmo seu faturamento ou lucro anual.

O representante da empresa em Londres, Stephen May, parece bastante simpático e popular no meio do publico da conferência. Mas ele perde a simpatia ao saber sabe que há um membro da imprensa presente: “Está no nosso contrato que não podemos discutir a belicosidade dos produtos. Não posso falar com você”, ele diz para o repórter.

Mas durante o seu discurso, May é bem mais aberto: “A cada segundo de cada dia, mais de 58 aeronaves da nossa série Predator estão voando em algum lugar do mundo”, diz.

A empresa fabrica cerca de 180 aeronaves não tripuladas de combate por ano – entre 50 e 60 delas são Reapers. Além dos EUA, apenas dois países – o Reino Unido e a Itália – têm permissão para comprar esses veículos.

Isso não significa que são os únicos a usar essas armas. Israel tem empregado veículos controlados remotamente, de fabricação própria, desde pelo menos 2006.

Aviões-espiões e simuladores que parecem videogame

Grande parte da conferência em Londres foi focada em vigilância. Um tenente-coronel fez um panorama das experiências recentes do Canadá com veículos não-tripulados, mas sem poder de fogo, no Afeganistão, afirmando que “folhetos de propaganda às vezes mentem”.

O porta-voz da OTAN explicou que 13 estados-membros estão trabalhando em um projeto conjunto de aviões de vigilância controlados remotamente. Até mesmo a NASA usa aviões do tipo para fazer pesquisas, diz ele.

Aqui, a troca de informação é crucial, já que qualquer avião desses pode carregar sensores (ou armas) construídos por uma dezena de empresas diferentes. Por isso, sentia-se que a atmosfera mais de cooperação do que de competição. “Pense nisso aqui como uma reunião, não como uma conferência”, disse o general Kenneth Israel a certa altura.

Do lado de fora do hall principal, tendas promovendo novas tecnologias competiam por atenção. Uma empresa holandesa tentava chamar a atenção dos participantes a um sistema de controle sonoro para mini-aviões sem tripulantes: bater palmas era suficiente para atirar morteiros. Outra réplica usava um joystick para perseguir uma lancha em uma tela. “Esse é meu momento Miami Vice”, dizia o vendedor ao mostrar um simulador de vôo.

A OTAN afirma que não vai usar – será?

Não é todo mundo que quer ter aviões de ataque controlados remotamente.

O general Stephen Schmidt, que comanda frota de aeronaves de alerta aéreo antecipado da OTAN reconhece que os veículos do tipo tiveram um papel importante na recente campanha na Líbia.

Porém, diz ele, a OTAN não tem a intenção de avançar mais no uso dessas armas. “A OTAN não está buscando ir nesta direção, de jeito nenhum. Nossos sistemas por controle remoto são usados somente para vigilância, estabilidade e segurança. Não há equipamentos de ataque e a OTAN não tem a intenção de buscar isso”.

Mas na batalha as linhas são mais tênues. Durante a captura do coronel Gaddafi na Líbia, um avião de alerta antecipado da OTAN forneceu direcionamento tático para uma aeronave de ataque francesa e um Predator americano, revela Schmidt.

Ou seja: a OTAN pode não estar pilotando aviões de ataque sem tripulantes – mas tampouco pode evitá-los totalmente.

Guerra global por controle remoto: Russia, China, Índia e Irã já estão construindo

Mas o uso dessas armas não deve ficar restrito a poucos países por muito tempo.

Há projetos de fabricação em andamento na Rússia, China, Índia, Irã e nos Emirados Árabes. E não são apenas Estados que estão desenvolvendo a tecnologia. Há rumores que o Hezbollah está tendo acesso à tecnologia iraniana. Já houve rumores, também, de que a Al Qaeda teria tentado hackear os controles de um avião de ataque não tripulado.

O clube exclusivo de hoje pode ser o pesadelo da proliferação da guerra por controle remoto de amanhã.

Para a dezena de manifestantes do lado de fora da convenção, essas aeronaves são basicamente uma tecnologia de fuga para locais que os políticos querem atacar, mas onde não ousam pisar.

Chris Cole, um ativista que comanda o blog Drone Wars UK, reconhece que nem toda a indústria de veículos sem tripulantes é voltada para a guerra. Mas a sua luta é contra aquelas empresas que são.

“Não aceitamos a ideia de que é possível uma guerra remota, sem nenhum risco. Há centenas, se não milhões de civis sendo assassinados em ataques controlados remotamente. Somente neste ano os EUA usaram esses aviões em seis países, em seis conflitos diferentes ao mesmo tempo. Muitos especialistas militares dizem que isso simplesmente não teria sido possível se não fosse por esses aviões. O medo é, se não há ‘riscos’, se não há ‘custos’ para os países em usar esses sistemas, então o seu uso só vai aumentar – e vai haver muito mais guerras no futuro”.

Um mercado em vertiginoso crescimento

No ano 2000, os Estados Unidos tinham menos de 50 aviões controlados remotamente – a maior parte usada para vigilância.

Pouco mais de dez anos depois, o Departamento de Defesa possui mais de 7.000 veículos não tripulados.

Em 2011 o Departamento requisitou 6,1 bilhões de dólares para o desenvolvimento e aquisição de aeronaves do tipo, além de mais 24 bilhões entre 2010 e 2015 para comprar novos aviões e aumentar a capacidade dos que já possui.

A maioria das aeronaves controladas remotamente servem para vigilância e reconhecimento de terreno, mas há uma demanda crescente para as de ataques preciso e mortal – como o Reaper e o Predator, criados pela empresa contratista americana General Atomics, que agora produz mais de 180 aeronaves de combate por ano.

A empresa Lucintel, de consultoria e marketing, avalia que o crescimento de veículos desse tipo é a “principal tendência por causa do baixo custo e a capacidade de conduzir operações de alto risco”.

Quem fabrica as aeronaves de ataque controladas remotamente

Aeronave: Harpy

Fabricante: Israel Aerospace Industries (Israel)

Aeronave: Harop

Fabricante: Israel Aerospace Industries (Israel)

Aeronave: Hermes 450

Fabricante: Elbit Systems Ltd (Israel)

Aeronave: Predator

Fabricante: General Atomics (EUA)

Aeronave: Reaper

Fabricante: General Atomics (EUA)

Clique aqui para ler a investigação completa: A guerra por controle remoto da CIA

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