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Como a população está vendo a Copa de 2014? Para saber, ouça o rap "Megaeventos" criado por vários coletivos de hip hop do Rio de Janeiro

Reportagem
20 de janeiro de 2012
08:00
Este artigo tem mais de 12 ano

A batida começa e em poucos segundos a voz do rapper Cacau Amaral rasga o som em verdades rimadas a respeito dos megaeventos.

Palavra por palavra, ele questiona qual será o legado da Copa do Mundo de 2014 e denuncia a mercantilização do amor ao futebol. Diz que pagamos um preço alto pelo abismo entre a favela e o asfalto e o rap segue, mixando pedaços do discurso  no qual o deputado Romário (PSB) cobra satisfações da CBF e da Fifa, enquanto as vozes de outros mc’s engrossam o coro.

O Levante e Criz Pinheiro, do Coletivo de Hip Hop Lutarmada, Kdo e Simey Black desafiam: “Morte, despejo, política de repressão / tudo isso para os visitantes não perderem a diversão / Enquanto a Fifa, a CBF e os empresários engordam suas poupanças / Olha que engraçado é você quem paga a conta!” Até uma fala indignada do jornalista Juca Kfouri entra no ritmo: “98,5% dos gastos para a Copa do Mundo no Brasil, gastos previstos em 23 milhões de reais, mas que vão dar aí uns 100 milhões, sairão de empresas governamentais”.

O rap Megaeventos, que você escuta na íntegra aqui, foi resultado de um encontro temático organizado pelo coletivo Lutarmada hip hop e do Recid-Rj (Rede de Educação Cidadã) no Rio de Janeiro, para discutir um assunto que já sacode a vida dos moradores das comunidades de cidades que sediarão a Copa do Mundo e as Olimpíadas há algum tempo. Quem explica mais sobre isso é o rapper carioca Gas-PA, que além de músico é militante político e desenvolve trabalhos de base e cursos de formação na periferia do Rio com o coletivo Lutarmada. Olha só:

Como surgiu o rap? Quem participou e como ele foi feito?

Na ordem em que se apresentam na música: Cacau Amaral, um dos produtores do filme 5Xs Favela, o Levante  e Criz Pinheiro do Coletivo de Hip-Hop Lutarmada, Kdo e Simey Black. O rap foi resultado de um encontro temático organizado por nós do Lutarmada e do Recid-RJ sobre os megaeventos. Já é tudo tramado, quem entra já sabe que no final vamos fazer uma música sobre o tema! Já tinhamos feito outro neste mesmo calibre. Só que o tema era a ditadura militar. Fizemos até um videoclipe para contribuir com a campanha pela abertura dos arquivos da ditadura. Em breve essa música sobre os megaeventos também terá seu videoclipe! As pessoas que cantam participaram dos três dias de encontro, transformaram o que acumularam em letra de música e o resultado está aí.

Por que os megaeventos? Como a Copa e as Olimpíadas estão interferindo diretamente na sua vida?

A mídia burguesa faz propaganda dos megaeventos a partir de seus interesses que, lógico, são antagônicos aos da nossa classe. Precisamos de material nosso de propaganda que reflita sobre tudo isso que a mídia esconde e o que nós, artistas e militantes, temos a oferecer é nossa arte.

A aproximação dos megaeventos já há muito tempo interefere não só na minha vida mas na vida de todo o proletariado. A instalação de UPP’s em comunidades vizinhas aos equipamentos esportivos é uma prova disso! Junto com essa militarização vem a regularização de alguns serviços que antes os moradores acessavam clandestinamente e só por isso essas pessoas conseguiam se manter nessas localidades, geralmente mais próximas ao local de trabalho. Tendo que pagar por esses serviços como água e luz, mais o aumento do aluguel, essas pessoas são obrigadas a deixar suas casas.

É a chamada “expulsão branca”. Algumas pessoas podem achar que o “gato” de luz, por exemplo, é imoral. Mas quase ninguém sabe que as grandes empresas pagam menos da metade do que pagamos pelo kWh. Considerando que consumimos para suprir as nossas necessidades básicas e as empresas consomem para gerar lucro para elas mesmas, o certo seria elas pagarem mais do que nós! Mas até agora eu só tratei da expulsão branca. Também tem a remoção forçada de comunidades inteiras para locais distantes e sem infraestrutura, tem o custo de vida nas cidades que sediarão os jogos da Copa já aumentando sensivelmente. Mas o pior ainda está por vir. A repressão ao povo pobre – em especial ao preto – aumenta vertiginosamente como foi no ano do PAN…

O que vocês pretendem fazer com o rap agora?

Gravar o clipe e soltar por aí! Acho que nele tem informações relevantes para despertar no nosso povo  um olhar crítico para estes eventos, para além do oba oba estimulado pela mídia burguesa. De antemão, já é um contraponto aos rap’s que podem aparecer exaltando a realização dos mega eventos, como aconteceu com o Pan…

O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.

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