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Amijubi, Fuleco ou Zuzeco? Publicitários e pelo menos 34.462 torcedores não gostaram nada dos nomes sugeridos pela Fifa para a mascote da Copa de 2014

Reportagem
28 de setembro de 2012
09:00
Este artigo tem mais de 12 ano

“Temos certeza de que ela será amada não apenas no Brasil, mas no mundo todo.” Esta frase, que mais parece ter saído de um concurso de miss, foi dita pelo secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke ao oficializar o desenho estilizado de um tatu-bola – animal típico brasileiro e o mais ameaçado entre os tatus – como nova mascote da Copa do Mundo de 2014.

Em um segundo momento, com a garantia de que os nomes escolhidos não estavam registrados em nenhum dos cinco continentes, a entidade apresentou Amijubi (junção de amizade e júbilo), Fuleco (junção de futebol com ecologia) e Zuzeco (junção de Zuza com teco-teco, ops, das palavras azul e ecologia) como os candidatos para nomes oficial do tatu e os colocou para a votação popular. Assim, até o dia 25 de novembro, os torcedores terão o privilégio de escolher um deles para representar o Brasil durante o mundial.

Quase dá para ouvir a voz empostada de um narrador famoso: “Lá vaaaai o nosso Amijubi entrando em campo! A Brazuca vai rolar!”.

Como era de se imaginar, grande parte da população rejeitou os nomes. Nas redes sociais houve protestos criativos. “IBAMA processa a FIFA e alega que batizar um tatu de Amijubi, Fuleco ou Zuzeco é bullying” disse um tuiteiro. “Fuleco ou Zuzeco?! Mesmo em extinção, se eu fosse tatu-bola, com qualquer um desses nomes, eu me matava”, ironizava outro. “Amijubi, Fuleco e Zuzeco são os nomes para o mascote da Copa de 2014. Você sabe o que eles significam em português? Nada”, tuitou m usuário estrangeiro, em inglês.

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34 mil contra Amijubi

“Quando eu vi os três nomes, fiquei chocada, achei que fosse brincadeira”, conta a jornalista Elis Monteiro, autora da petição “Queremos um nome decente para o Mascote da Copa de 2014”, realizada através do site Avaaz, e que angariou nada menos de 34.462 assinaturas em nove dias.

O abaixo-assinado exige que um quarto nome escolhido pela população dispute a votação junto com as opções dadas pela Fifa. “O que eu quero que seja discutido é o seguinte: por que esses nomes? Por que não podemos participar? A Fifa tem o direito de escolher o nome que quiser, mesmo que nenhum deles tenha identidade com o país? Esses nomes nem significam nada em português”, questiona Elis.

Indignada, a jornalista foi procurar o COL e a Fifa para ver se havia possibilidade de diálogo. “O COL me ignorou solenemente, disse que não tinha o que ouvir ou conversar. Eu respondi dizendo que era uma atitude antipática com um grande número de pessoas e que não era uma postura condizente com a era digital”.

A Fifa enviou a Elis Monteiro um release, o mesmo que  mandou a todos os jornalistas que se atreveram perguntar a respeito dos nomes sugeridos. A nota diz que “A Fifa e o Comitê Organizador Local vêm acompanhando os comentários da população do país e estão verdadeiramente contentes com a maneira como o público brasileiro já assumiu para si a propriedade deste mais recente membro da equipe de 2014”.

A entidade reafirma as boas intenções com os nomes da mascote: “Quando o primeiro plano foi elaborado, chegamos a cogitar um procedimento aberto pelo qual membros do público poderiam sugerir nomes. No entanto, esse procedimento não foi possível devido à complexidade do registro de diversos nomes e da legislação de propriedade intelectual.” A nota diz também que Fifa e COL analisaram “mais de 450 denominações possíveis” antes de chegar aos três. “Estamos contentes com esses três nomes porque eles representam alguns dos elementos mais importantes da Copa do Mundo da Fifa 2014. Ao associar o tatu-bola com nomes que tratam de futebol, ecologia, alegria e comemoração, realmente acreditamos que a mascote representa fortemente o significado desta edição da Copa do Mundo da Fifa”.

Não é o que mostram as novas leis que estão sendo aprovadas rumo à Copa – ecologia, pelo menos, não é o forte do evento.

Os tais 450 nomes foram sugeridos por uma agência de publicidade cujo nome a Fifa se recusou a divulgar.

A entidade passou um pente-fino na primeira lista, passando então 13 nomes para a semi-final. Quem escolheu os três finalistas foi um júri de notáveis composto por Bebeto, ex-jogador de futebol; Thalita Rebouças, escritora; Roberto Duailibi, publicitário, e os cantores Fernanda Santos e Arlindo Cruz. Mesmo assim, o sambista afirmou ao canal SporTV: “Eu não tenho nada a ver com os nomes. Eu recebi da Fifa 15 nomes [sic] e só ajudei a colocar em ordem. Era para ser um nome inusitado. Todos eram junções de duas coisas, com palavras em tupi-guarani ou em latim. Não fui eu que escolhi, quem vai escolher é o povo. Infelizmente, sobrou para o povo”, afirmou o artista, antes de ironizar um dos nomes sugeridos. “Eu não lembro de todos, mas eu tenho a lista. O primeiro nome era logo Amijubi. Eu li aquilo e pensei: ‘Ami… o quê!?”.

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Cadê seu timeco?

Entre os publicitários a coisa também não caiu bem. Vários profissionais questionam os critérios de escolha, o júri e os nomes. “A ilustração do tatu é legal, simpática e agradou pelo menos a quem perguntei. No caso dos nomes, a observação da Fifa foi de criar uma opção global, que seja de fácil pronúncia e que não represente nenhum tipo de ofensa em qualquer língua, como se isso fosse 100% possível”, diz Ronaldo Magalhães, da agência DezzDigital. “Fuleco, a mistura de futebol com ecologia. A terminação ‘eco’ está longe de ser associada de pronto com ecologia, pelo menos em matéria de futebol, quando particularmente menosprezo os times de meus amigos para perturbá-los. Cadê seu timeco? Agora, Amijubi foi de doer”, completa.

Alguns publicitários afirmam que os nomes têm pouca ou nenhuma relação com o público brasileiro. Também reclamam que o júri tinha apenas um representante do setor publicitário, Roberto Duailibi. Esta prática, aliás, ocorreu também na definição da logomarca oficial da Copa de 2014. Na época, a Associação dos Designers Gráficos do Brasil publicou uma nota oficial se dizendo excluída do processo de escolha e questionando os critérios da Fifa na escolha da logomarca.

“A logomarca, vamos chamá-la assim, da Copa 2014, foi escolhida por um ‘grupo de notáveis’, como Ivete Sangalo, Paulo Coelho, Gisele Bündchen e outros. Nenhum escritório de design foi chamado. E olhe que temos excelentes profissionais no ramo”, critica Paulo Hardt, diretor de Criação na FBHardt.

O diretor de marketing Waldir Ielpo, da UAB Motors, acha que os nomes podem levar a uma construção negativa da marca do mascote. “Primeiro, tem gente que vai levar como uma imposição da Fifa. Não houve a mínima participação popular. O nome é um dos aspectos mais fundamentais de todo o processo de construção de uma marca. O básico é que soe bem, e nenhum desses nomes soa bem”. Segundo ele, o problema das patentes seria possível de ser contornado. “Qualquer nome, mesmo que já registrado, pode ser comprado”.

Nós do Copa Pública nos solidarizamos com o tatu-bola. E para que ele não resolva entrar em sua carapaça azul (??!!) e fugir por aí disfarçado de Brazuca, criamos um um concurso cultural para você escolher um nome bacana, irônico, mais a cara da nossa Copa. Participe mandando sugestões até o dia 30 de outubro! Veja aqui como.

 

O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.

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