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A Pública atravessou o Corredor Logístico de Nacala de oeste a leste para investigar, nas aldeias, o impacto dos programas brasileiros em Moçambique

Reportagem
10 de maio de 2016
16:26
Este artigo tem mais de 8 ano

Um cortejo ocupa a estrada na entrada da vila de Metangula fazendo o ar vibrar com os ilulus, os gritos de alegria dos macuas, o maior grupo etnolinguístico do norte do país, ao qual pertencem 47,5% da população de Niassa, também território dos ajauas (ou yaos) e dos nhanjas.

Envoltas nas tradicionais capulanas estampadas, as mulheres trazem a cabeça coberta por turbantes e véus islâmicos. Os homens usam o taqyah (a touca tradicional) e a túnica. É a comemoração do Eid Al-Fitr, o feriado que marca o fim do Ramadã, o mês sagrado de jejum dos muçulmanos.

A 150 quilômetros dali, na capital de Niassa, se vê também as cabeças cobertas das famílias que passam nas ruas tranquilas, com a maioria das lojas e restaurantes fechados. Segundo os dados do Plano Estratégico Provincial Niassa 2017 (PEP 2017), 61% dos habitantes da província se declaram muçulmanos, enquanto no país todo eles representam apenas 17,9%.

O Islã chegou a Niassa pelos mercadores árabes e suaílis que, a partir do século XII, vieram da costa norte em busca de marfim – os portugueses só entrariam na região 500 anos depois. A religião assumiu ritos e crenças preexistentes e se adaptou à família poligâmica dos macuas, tornando-se predominante em todo o norte de Moçambique.

Os dois principais projetos brasileiros se encontram no território macua, mais exatamente no Corredor de Nacala, o cinturão agrícola cortado pelo Corredor Logístico de Nacala (NCL), criado pela Vale para exportar carvão, mas estratégico para o ProSavana – um programa de cooperação triangular que une Japão, Brasil e Moçambique (leia a reportagem “Capitalismo selvagem à brasileira”). Como cereja do bolo, a Odebrecht construiu um aeroporto internacional em Nacala – a cidade portuária – com um financiamento de 125 milhões de dólares do BNDES.

Durante três semanas a Pública percorreu o Corredor de Nacala, partindo de Lichinga, onde fica um dos campos experimentais da Embrapa – que testa a adaptação de sementes trazidas do Brasil ao solo moçambicano. O objetivo do ProSavana é desenvolver a agricultura de Moçambique introduzindo as culturas de grãos que hoje dominam o cerrado brasileiro.

Seguindo o mapa e clicando nas cidades assinaladas, você acompanha a viagem e as descobertas da Pública, que investigou o impacto dos projetos brasileiros em Moçambique, nas aldeias onde quase ninguém fala português. A ajuda veio de lideranças locais da União Nacional dos Camponeses (Unac) e do jornalista moçambicano Jeremias Vunjanhe, que nos acompanhou por todo o trajeto. De Lichinga (no extremo norte) a Nacala (extremo leste), seguimos conversando com os camponeses nas aldeias do Niassa e de Nampula, visitando comunidades expulsas e afetadas pela cessão de terras a projetos de investimento estrangeiro, como o ProSavana. Encerramos a viagem na baía de Nacala, formada pelas águas do Índico, no ponto em que o corredor logístico da Vale embarca para a Ásia as mercadorias extraídas das minas e das terras do povo de Moçambique.

(Crédito da imagem destacada: Alexandre Campbell)

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