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Desde abril, empresa gastou mais de R$ 670 mil em propaganda contra o PL 2630, segundo dados da Meta

Reportagem
9 de maio de 2023
19:21
Este artigo tem mais de 1 ano

O Google foi o maior anunciante político nas redes do Facebook e Instagram no início do mês de maio no Brasil. Segundo a Agência Pública apurou, o Google gastou mais de R$ 470 mil em anúncios contra o PL 2630, o chamado PL das Fake News, no Facebook e Instagram entre 30 de abril e 6 de maio. Ao todo, desde abril, o Google pagou mais de R$ 670 mil em anúncios, todos eles de postagens contrárias ao PL.

As campanhas funcionam da seguinte forma: o Google paga para a Meta — a empresa que é dona das redes Facebook e Instagram — para que postagens sejam impulsionadas como propaganda e tenham maior alcance. Ou seja, esses conteúdos aparecem com maior frequência e chegam a mais pessoas que usam as redes sociais. 

Para se ter uma ideia da dimensão dessa campanha, em apenas um anúncio entre os dias 1 e 3 de maio, o Google pagou de R$ 200 mil a R$ 250 mil — o PL das Fake News iria ser votado no dia 2 de maio. Com isso, um vídeo de 15 segundos que afirma que “o PL 2630 pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil” apareceu mais de 1 milhão de vezes para usuários do Facebook e Instagram no Brasil.

A peça de publicidade ainda afirma que “precisamos melhorar o texto deste projeto de lei” e convoca o usuário: “fale com seu representante nas redes sociais ainda hoje”. A postagem inclui um link do blog do Google no Brasil. Nele, um texto de Marcelo Lacerda, Diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas, diz que “o PL das Fake News pode aumentar a desinformação no Brasil” e que “o PL 2630 pode piorar a sua internet”.

O print mostra à esquerda uma postagem patrocinada do Google, e a direita os dados por trás do anúncio no Facebook.
Google pagou de R$ 200 mil a R$ 250 mil em apenas um dos anúncios contra o PL no início de maio

Antes dessa ação contra o projeto de lei, a última campanha do Google registrada no Facebook e Instagram tinha sido em novembro de 2022, sobre o mês da consciência negra. Nela, o Google pagou menos de R$ 100. O anúncio atingiu cerca de 35 mil telas.

O print mostra à esquerda uma postagem patrocinada do Google, e a direita os dados por trás do anúncio no Facebook.
Anúncio sobre mês da Consciência Negra custou menos de R$ 100 ao Google

Google mirou campanha em empresários, marqueteiros, advogados e políticos

Donos de empresas, diretores, chefes de marketing, profissionais de relações públicas, advogados, defensores públicos, juízes, vereadores e servidores públicos foram alguns dos públicos para os quais o Google mirou a sua campanha contra o PL das Fake News.

Isso se chama direcionamento detalhado. Quem anuncia no Facebook pode escolher incluir ou excluir determinados públicos a serem atingidos pelas suas postagens. 

Além disso, o Google segmentou a sua campanha para pessoas com os seguintes interesses: meios de comunicação, revistas, jornalismo de cidade, negócios e economia financeira.

O anúncio mais caro da campanha, ativo entre 28 de abril e 2 de maio, foi visto por mais mulheres que homens. São Paulo foi o estado onde o anúncio foi mais exibido.

Google fez campanha política sem rótulo

A campanha milionária do Google nas redes do Facebook inclui a veiculação de anúncios sem a devida identificação de conteúdo político, segundo dados da própria Biblioteca de Anúncios da Meta.

Explicando: no Brasil, quem deseja patrocinar campanhas no Facebook ou Instagram que tratem de assuntos sociais, eleições ou política precisa indicar que os anúncios falam disso. Esse rótulo aparece para a Meta e para os usuários das redes. Ao fim, todos esses dados vão para a Biblioteca de Anúncios da Meta, que está disponível para todas as pessoas.

Conforme a Pública apurou, metade dos anúncios do Google contra o PL 2630 nos últimos sete dias foram veiculados sem rótulo dizendo se tratar de uma campanha política.

Está nesse grupo dos “sem rótulo” o segundo anúncio mais caro feito pelo Google nos últimos dias: uma peça, exibida para mais de 1 milhão de telas e com o mesmo vídeo que diz que “o PL 2630 pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil” foi veiculada sem rótulo. O Google pagou de R$ 400 mil a R$ 450 mil apenas para impulsionar esse anúncio.

A Pública questionou a Meta se isso configura infração às regras da plataforma, que respondeu que não irá comentar sobre o assunto. Também perguntamos ao Google por que não informou que os anúncios tratavam de assuntos sobre questões sociais, eleições ou política.

Após a publicação da reportagem, o Google respondeu que não iria comentar “sobre os valores exibidos na ferramenta da Meta”. A empresa reconheceu que os anúncios haviam sido veiculados sem rótulo: “Por uma questão técnica, parte dos anúncios que rodamos nas plataformas da Meta estavam com a classificação incorreta. Assim que identificamos o problema, paramos a campanha e realizamos as correções necessárias”. A empresa ainda acrescentou que “a campanha está suspensa desde o dia 2 de maio, em cumprimento a uma ordem do Supremo Tribunal Federal”. A resposta completa está aqui.

Tramitação do PL está travada na Câmara dos Deputados

O PL 2.630, que ganhou o apelido de PL das Fake News, ainda precisa ser votado na Câmara dos Deputados. Na primeira semana de maio, a votação, que estava na pauta do dia, foi adiada. O texto inicial foi aprovado no Senado há três anos.

O principal ponto do projeto é obrigar as plataformas como Google e Meta a proativamente remover conteúdos que se enquadrem em situações como crimes contra o Estado Democrático de Direito, atos de terrorismo ou preparatórios, estímulo ao suicídio ou à automutilação e crimes contra crianças e adolescentes. O texto também regula transparência das plataformas, acesso a dados via API e a imunidade parlamentar. O projeto vale para plataformas com mais de 10 milhões de usuários no Brasil.

Além disso, o texto trazia mudanças sobre direitos autorais e remuneração de conteúdos jornalísticos compartilhados nas redes sociais. Segundo reportagens, o relator do projeto, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), deve retirar esses trechos do PL, para serem votados separadamente.

No dia 1º de maio, o Google exibiu em sua home um link contra o PL. Quem acessava a página — a home do Google é utilizada por 97% dos 160 milhões de brasileiros que usam a internet — via a afirmação de que “O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”. O link direcionava para o mesmo texto do Google que foi veiculado nos anúncios no Facebook.

Homepage do Google com link para artigo contrário ao PL das Fake News.
Home do Google com link para artigo contrário ao PL das Fake News

*Atualização às 16:00 de 10/05/2023: Inserimos o retorno do Google.

Reprodução
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