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Nada ameaça mais o mundo do fim do que Trump

O Bom Dia, Fim do Mundo está de volta e faz uma análise sobre toda a confusão criada por Trump em só 2 meses de governo

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14 de março de 2025
06:00

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Caro leitor, cara leitora, 

Peço licença, mas queria aproveitar este espaço hoje para fazer um convite. O Bom Dia, Fim do Mundo, nosso videocast aqui da Agência Pública que debate os assuntos do momento pela perspectiva das mudanças climáticas, está de volta! A temática do programa está mais quente do que nunca, já que o ponteiro do relógio do juízo final está cada vez mais perto da meia-noite.

A segunda temporada começa nesta quinta-feira (13), e o assunto, obviamente, não poderia ser outro. Se tem algo que ameaça mais o mundo do seu fim é o segundo mandato de Donald Trump à frente dos Estados Unidos. 

Neste episódio, que já está no ar no YouTube e em todas as plataformas de áudio (aqui o link pro Spotify), Marina Amaral, Ricardo Terto e eu discutimos como Trump está desmantelando toda a política climática do país e minando os esforços globais para o combate ao problema, tanto com as ações domésticas quanto com sua política internacional. Parece realmente uma aposta no caos, no fim do mundo.

Prestes a completar dois meses de governo, ele já bagunçou a ordem mundial. Ao mexer em todo o tabuleiro geopolítico, deixando o mundo apavorado com o risco de uma nova guerra de proporções globais – e nucleares –, ele consegue fazer também com que outros países redirecionem seus esforços e tirem o pé do combate às mudanças climáticas. 

O exemplo mais recente disso é o movimento que a Europa está fazendo de se rearmar diante do risco de ter de enfrentar sozinha a Rússia. No começo do mês, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs um plano de mobilizar 800 bilhões de euros para a defesa do continente depois que Trump anunciou que tiraria o apoio à Ucrânia. 

“Estamos numa era de rearmamento, e a Europa está pronta para aumentar maciçamente seus gastos com defesa”, disse ela, em comunicado à imprensa. O problema é que já se imagina que esses recursos vão ser tirados de outros esforços, como do combate às mudanças climáticas. 

No início desta semana, quando divulgou uma carta ao mundo com a visão do Brasil sobre a Conferência do Clima da ONU que será realizada no país em novembro, a COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que preside a cúpula, alertou para o perigo do que ele chamou de “banalidade da inação”.

Na carta, ele escreve: “Este ano marca o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e de nossa aliança na criação das Nações Unidas. A filósofa germano-americana Hannah Arendt denunciou a ‘banalidade do mal’ como a aceitação do que era inaceitável. Agora, estamos enfrentando a ‘banalidade da inação’, uma inação irresponsável e também inaceitável”.

E continua: “Nesta década crítica, o Brasil convoca novamente nossa aliança de povos para, mais uma vez, deixarmos nossas diferenças de lado e nos unirmos para vencer o inimigo comum: a mudança do clima”. Leia mais sobre a carta nesta reportagem.

A preocupação dele faz todo sentido. Basta lembrar que o mundo reconheceu no ano passado, na Conferência do Clima de Baku, que seria necessário 1,3 trilhão de dólares por ano para promover ações de combate às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento para podermos realmente enfrentar o problema. Imagina se esses 800 bilhões de euros da Europa fossem para o clima e não para a guerra. 

E não são só esses 800 bi que estão sendo desperdiçados, digamos assim. Nos EUA, Trump não apenas está congelando os recursos que eram destinados para a transição energética do país – o que deve fazer com que as emissões americanas voltem a subir – como está suspendendo todos os repasses, que já não eram uma fortuna, para nações mais pobres. 

No programa, a gente pincela como Trump vem promovendo um ataque rápido e em várias frentes em toda a política climática interna e externa do país. Citamos algumas dessas ações, mas a realidade é que todo dia ele solta uma bomba nova, e seria impossível contar tudo no tempo do programa, então queria destacar mais algumas aqui.

Quando a gente já tinha gravado o programa, por exemplo, soubemos que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) está cortando cerca de 20 bilhões de dólares em financiamento para projetos climáticos de um programa criado pelo ex-presidente Joe Biden, dentro do Inflation Reduction Act (IRA). O recurso era voltado para organizações sociais, cooperativas de crédito, agências de habitação e projetos de energia solar. 

Isso, porém, é só o começo do que pode ser um desmonte sem precedentes. E talvez o pior desde que Trump assumiu o segundo mandato. O administrador da EPA, Lee Zeldin, anunciou nesta quarta-feira (12) o que chamou de “maior desregulamentação da história“.

O plano é revogar mais de duas dúzias de regulamentações ambientais históricas, como regras sobre poluição de usinas de energia a carvão, proteções para áreas úmidas e toda a base legal que permite regular os gases de efeito estufa, como o gás carbônico – o principal responsável pelo aquecimento global.

E ele ainda falou: “Estamos cravando uma adaga no coração da religião da mudança climática e inaugurando a Era de Ouro da América”.

De acordo com a imprensa americana, os anúncios não têm força de lei. Essas revogações todas vão depender de um longo processo de consultas públicas e a EPA terá de apresentar justificativas ambientais e econômicas para a mudança. Mas a perspectiva não é boa.

O The New York Times entrevistou Gina McCarthy, que teve o cargo de Zeldin na administração Obama, e ela definiu como o “o dia mais desastroso na história da EPA”. Segundo ela, a revogação “é uma ameaça para todos nós”. “A agência abdicou completamente de sua missão de proteger a saúde e o bem-estar dos americanos”, disse.

É ou não é um bom dia, boa tarde e boa noite para o fim do mundo? A questão é: será que algum país do mundo vai conseguir fazer frente a isso?

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