No dia 15 de julho deste ano, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o empresário Paulo Figueiredo Filho viajaram a Washington D. C. em mais uma etapa da ofensiva para a aprovação de sanções contra autoridades brasileiras nos EUA. Essa seria mais uma de muitas viagens que os dois fariam à capital americana neste ano. Até a publicação desta reportagem, já foram mais de dez idas da dupla à cidade em 2025. Desta vez, no entanto, além de reuniões com autoridades, os dois dedicaram um tempo para gravar uma live nos estúdios do Rumble – plataforma de extrema-direita bloqueada no Brasil, que move processo contra o ministro Alexandre de Moraes na Flórida.
Durante quase duas horas, Figueiredo fez perguntas ensaiadas a Eduardo Bolsonaro, entre elas, uma que ele disse que “seria incômoda”. “Caso os problemas da inelegibilidade do seu pai não sejam resolvidos você está pronto para ser o candidato à Presidência da República do Brasil em 2026?”, questionou. “Eu aceitaria o desafio com a condição de ter o apoio do meu pai. Por óbvio, ele é o candidato legítimo. Ele é que tem o voto. Se ele entender dessa maneira eu me candidataria, mas pra gente chegar nesse momento a gente passa pela anistia”, respondeu Eduardo.

A gravação serviu como lançamento da pré-candidatura informal de Eduardo e como prenúncio para o resultado das ações da dupla nos EUA. Nos dias seguintes, foi anunciado o cancelamento de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes – comunicada oficialmente no dia 30 de julho, mas que já estava encaminhada.
Desde então, Eduardo falou sobre a possibilidade de se tornar candidato à presidência em pelo menos mais sete entrevistas à imprensa e transmissões no seu canal de YouTube. Uma delas, ele anunciou sua pré-candidatura durante programa do ex-congressista Matt Gaetz, da emissora conservadora One American News. “Eu estou me apresentando caso meu pai não possa concorrer, eu posso em seu nome”, afirmou em inglês ao republicano.
Uma candidatura construída à base dos EUA
Para viabilizar a candidatura, que ainda não recebeu apoio formal nem do PL – partido de Eduardo – nem de qualquer outra legenda, o deputado federal utiliza a mesma estratégia chantagista das sanções. Em diversas declarações, ele levanta a possibilidade das eleições brasileiras não serem reconhecidas pelos Estados Unidos caso ele ou seu pai não possam ser eleitos.
“Não creiam vocês que o Trump vai reconhecer uma eleição no Brasil onde o líder das pesquisas da oposição não participa. Nem ele, nem o filho dele, onde vários candidatos vão ficar inelegíveis. É só esperar chegar perto da eleição. Isso aí não é democracia”, afirmou em entrevista ao podcast Inteligência Ltda em 21 de julho.
A estratégia é reforçada por seus aliados na ofensiva nos EUA. “A gente corre o risco de, não tendo o Bolsonaro entre os candidatos a presidente, talvez o governo Trump diga ‘olha, não vou reconhecer a eleição’. Isso é uma possibilidade que existe”, afirmou o comentarista Luís Ernesto Lacombe em live do Programa 4 por 4 transmitida em 17 de agosto.
“Hoje o único nome que temos na direita de fato, exceto pelo Jair Bolsonaro que é quem deve ser candidato, é do Eduardo”, reforçou Figueiredo em live transmitida no dia 28 de agosto.
O empresário chegou a brincar inclusive sobre a possibilidade dele próprio sair como candidato em 2026. “Vice-presidente é uma boa, hein? Não faz nada, só churrasco”, publicou em resposta a enquete virtual que o colocou como chapa de Eduardo Bolsonaro. “Se o Ciro Nogueira me encher o saco eu ainda saio candidato a senador por São Paulo”, ironizou em live transmitida no dia 14 de outubro, em referência a discussão que teve com o senador nas redes sociais.
Eduardo Bolsonaro: um pré-candidato que não cumpre o mandato atual
Atualmente, Eduardo foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) junto a Figueiredo pelo crime de coação – a acusação é que ele está nos EUA atuando para que o governo de lá interfira no processo que condenou o pai. A Defensoria Pública da União (DPU) pediu que o deputado seja notificado por carta. Ele já foi notificado por edital.
No dia 22 de outubro, última quarta-feira, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados arquivou uma ação que poderia cassar o seu mandato de deputado federal. Ele se licenciou por 120 dias quando foi aos EUA em março deste ano, mas desde que esse período terminou, em julho, suas faltas ao Congresso estão sendo registradas. De acordo com a Constituição, um parlamentar perde o mandato se deixar de ir a um terço ou mais das sessões de votações ao longo do ano.

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