“Nós temos a segunda força armada das Américas. Primeiro Estados Unidos, segundo Brasil. Temos dois milhões de atiradores e colecionadores. Nós temos disposição para a luta. Que eles venham!”, diz o ex-deputado federal bolsonarista Roberto Jefferson, presidente de honra do PTB, em um vídeo publicado no Instagram da Frente Evangélica Brasileira. O material, onde o político que cumpria prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica sugere uso de armas e violência contra adversários políticos, foi postado em 20 de outubro, dois dias antes de ser preso após iniciar um ataque a policiais federais. Jefferson disparou mais de 50 tiros de fuzil e três granadas contra os agentes que cumpriam mandado de prisão do STF.
Na postagem, Jefferson ainda fez ameaças diretas ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele também citou José Genoíno, ex-presidente do PT. “Vamos corrigir o erro da revolução”, disse, se referindo à ditadura militar, “que não podiam ter deixado vivo o Fernando Henrique, o Lula, o Genuíno, a Dilma.”
O vídeo recebeu 65 curtidas e foi reproduzido mais de 470 vezes. Ele foi divulgado enquanto o ex-deputado estava proibido de dar entrevistas e usar redes sociais. No dia seguinte à postagem, em 21 de outubro, Roberto Jefferson publicou um outro vídeo chamando a ministra Carmén Lúcia, do STF, de “prostituta”, “arrombada” e “vagabunda”. O material foi divulgado pela filha do ex-deputado, a também ex-deputada Cristiane Brasil (PTB). A decisão que ordenou a prisão dele por descumprimento de medidas impostas na ação penal da qual é réu, cita o conteúdo contra a ministra.
A Frente Evangélica Brasileira, que ajudou a divulgar as ameaças de Jefferson, é um grupo político que se apresenta como “interdenominacional, conservadora e patriota”. Ela diz reunir religiosos, empresários e políticos bolsonaristas, e promove eventos conservadores na Bahia. O próximo será dia 27, em Feira de Santana (BA), com participação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o ex-deputado Daniel Silveira — condenado a prisão por ataques ao STF, que recebeu indulto de Bolsonaro —, e o secretário da secretaria da Cultura, capitão da PMBA e ativista pró-armas André Porciuncula. Este ano, Porciuncula se candidatou a deputado federal na Bahia pelo PL, mas não se elegeu.
Durante a campanha, a mesma frente evangélica também promoveu eventos de campanha para o presidente Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, como um encontro de mulheres com a presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. O encontro aconteceu no dia 16 de outubro, em Feira de Santana.
Jacqueline Moraes Teixeira, antropóloga, professora do Departamento de Sociologia da UnB e pesquisadora do segmento evangélico, observa que a Frente Evangélica Brasileira “apesar de se apresentar como interdenominacional”, “reúne igrejas mais relacionadas a denominações de classe média, conservadores, sobretudo homens brancos”. “Não parece ser um movimento que tem uma capilaridade grande ainda. Tem, sobretudo, atuação localizada em Feira de Santana e envolvimento de políticos locais,” observa.
Um deles é o candidato bolsonarista ao governo baiano, derrotado no primeiro turno, João Roma (PL). A frente usou suas redes sociais para divulgar materiais do político, que participou de um evento realizado pelo grupo em maio deste ano. No encontro também estava o diretor da frente e coordenador do Ministério Família Projeto de Deus em Feira de Santana, Nelson Navarro. Além de evangelista, ele também se apresenta como palestrante motivacional e especialista em treinamento empresarial. Na página da igreja, que tem 16 mil seguidores no Facebook, há um post de divulgação da Frente Evangélica Brasileira em apoio a Bolsonaro, publicado em 28 de setembro, que diz: “BOLSONARO 22, PARA LIVRAR O BRASIL DO COMUNISMO, INIMIGO TERRÍVEL DO CRISTIANISMO!!!”.
Roberto Jefferson, pregador evangélico
Em maio do ano passado, a Frente Evangélica Brasileira realizou um evento conservador que teve Roberto Jefferson como principal preletor. Entre “glórias a Deus” e “aleluias”, Roberto Jefferson, que se batizou em uma Assembleia de Deus, no Rio de Janeiro, no ano passado, e vem sendo defendido pelo pastor assembleiano Silas Malafaia, fez um discurso acalorado contra o “marketing do gayzismo” e pela defesa da “família cristã”.
“A verdadeira liberdade está em poder crer na palavra de Deus. É a liberdade da qual não abrimos mãos e por ela verteremos o nosso sangue”, disse.
Ele estava acompanhado por lideranças evangélicas, como o pastor bolsonarista Joel Serra, presidente do Movimento Cristão Conservador, que foi candidato a deputado federal este ano pelo PTB. Serra mobilizou comitês de campanha para Bolsonaro pelo Brasil, nas chamadas Casas da Pátria. O pastor também levou apoiadores para a manifestação em apoio ao presidente, no dia 7 de setembro, na praia de Copacabana.
Este ano, Kelmon Souza, autointitulado padre Kelmon, substituiu Roberto Jefferson na disputa presidencial, fazendo uma espécie de dobradinha com Bolsonaro durante a campanha.
“Eu digo isso ao Bolsonaro… É lá que temos que ganhar, no Nordeste”, disse Roberto Jefferson durante o evento da Frente Evangélica no ano passado, confirmando sua proximidade com o velho aliado político e sua influência no planejamento da campanha de Bolsonaro, algo que o atual presidente e candidato à reeleição tenta negar. Depois do ataque aos policiais federais, Bolsonaro chegou a dizer que não tem foto com o ex-deputado e presidente de honra do PTB, informação que foi rapidamente desmentida.
A reportagem tentou contato com organizadores da Frente Evangélica Brasileira até a publicação, mas não recebeu respostas.