Buscar
Coluna

Macetando o apocalipse

Como se empolgar com as eleições com candidatos despreparados para o clima de fim de mundo que ronda o planeta?

Coluna
5 de outubro de 2024
06:00

Quer receber os textos desta coluna em primeira mão no seu e-mail? Assine a Newsletter da Pública, enviada sempre às sextas-feiras, 8h. Para receber as próximas edições, inscreva-se aqui

O domingo de eleições municipais em todo o país chega rodeado de incertezas, marcado pela violência de alguns candidatos e pela mediocridade da maioria deles durante a campanha. Um cenário desalentador para escolher quem vai comandar as cidades onde moramos e vivemos em um dos momentos mais desafiadores para a humanidade. 

Já não bastasse a crise climática que bagunça termômetros e vidas, a expansão da guerra no Oriente Médio promete ainda mais morte e sofrimento e traz de volta a ameaça nuclear. Afinal, se o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, diz que não apoiará o bombardeio de instalações nucleares do Irã por Israel, é porque essa possibilidade está no horizonte.

Tudo o que não podemos esperar é moderação por parte de Benjamin Netanyahu. Até porque, embora digam condenar a guerra, os países mais ricos já se posicionaram claramente a favor da ofensiva do governo israelense. 

Do Conselho de Segurança da ONU à imprensa ocidental, o que mais se vê é apoio a Israel. As 40 mil vítimas civis em Gaza parecem esquecidas, como se o atual cenário nada tivesse a ver com isso. A invasão do Líbano, assim como os 2 mil cidadãos mortos por Israel no país, merecem no máximo um lamento formal – são “efeito colateral” da guerra pretensamente justa de Israel contra os “terroristas” do Hamas e do Hezbollah. 

Uma eloquente demonstração de que os conceitos de justiça e humanidade se perderam definitivamente ao menos entre os que comandam o mundo em colapso.

As tragédias do clima e da guerra se encontram neste terrível mês de outubro, tema do mais recente episódio do videocast “Bom dia, fim do mundo”. Ou melhor, se chocam: como direcionar recursos e os esforços internacionais para a crise climática quando as bombas explodem diante da total falência das negociações multilaterais?

Palavras como redução voluntária de emissões, justiça climática e transição justa nunca soaram tão utópicas diante da concretude distópica. Não é à toa que uma boa parcela dos 98% de brasileiros que se dizem preocupados com as mudanças climáticas simplesmente desistiu de ler, ouvir e assistir a notícias. Pesquisa da Reuters de junho deste ano mostrou que 47% dos brasileiros evitam o noticiário, uma alta de 6 pontos percentuais em relação ao ano passado.

Sabemos, porém, que não adianta ignorar os fatos nem atribuir o apocalipse a uma decisão divina irrevogável. Se parece quase impossível unir esforços pela paz e pela preservação da vida na Terra, esta também é a única esperança de, pelo menos, adiar o fim do mundo, como sugeriu Ailton Krenak. Uma voz indígena que indica caminhos, assim como a luta inspiradora de ribeirinhos, quilombolas, sertanejos e de tantos outros brasileiros obrigados a resistir cotidianamente a tentativas de extermínio, cultural e real.

Se conseguimos restabelecer a democracia no país, se temos hoje um presidente, que mal ou bem tenta sensibilizar a comunidade internacional para a importância de estabelecer mecanismos de governança global mais plurais e justos, isso se deve à capacidade de mobilização da sociedade. Temos conhecimento científico e ancestral, energia e criatividade para mudar o jogo. 

Otimista incorrigível, característica que me permitiu manter o entusiasmo pela profissão em mais de 40 anos de jornalismo em um país desigual e cruel em muitos aspectos, acredito que, juntos, podemos “macetar o apocalipse”, como ensinou Veveta em seu emblemático embate com Baby do Brasil. 

A começar pela escolha consciente de nossos governantes, dispensando provocadores e falsos profetas, nas eleições de domingo.

Boa festa da democracia para todos nós!

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Aviso

Este é um conteúdo exclusivo da Agência Pública e não pode ser republicado.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes