Buscar
Agência de jornalismo investigativo
Reportagem

| Flashback da semana | Dilma no poço sem fundo

Decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) de retirar grau de investimento do Brasil agrava crise econômica

Reportagem
11 de setembro de 2015
11:00
Este artigo tem mais de 9 ano

A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) de tirar o grau de investimento do Brasil, espécie de selo de bom pagador, mostra que o poço não tem fundo para a presidente Dilma Rousseff. Depois de resistir a um agosto que se apresentava como uma tormenta, Dilma avança setembro colhendo as tempestades que plantou na economia. A decisão de enviar ao Congresso Nacional uma inédita proposta orçamentária com déficit de R$ 30,5 bilhões, apesar da contrariedade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi determinante para o rebaixamento da nota do país. E acrescentou mais um ingrediente à pressão dos oposicionistas pela saída da presidente.

A reação do governo à perda do grau de investimento deu mais munição aos oposicionistas e aumentou a desconfiança dos governistas em relação à capacidade de reação de Dilma. Da reunião marcada às pressas pela presidente com os ministros da chamada coordenação política, saiu apenas mais do mesmo: ou seja, promessa de apresentação de cortes de gastos e elevação de impostos para reequilibrar as contas públicas e atingir a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida pública) de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.

Dilma, em entrevista ao Valor PRO (serviço de informações em tempo real do Valor Econômico), minimizou o rebaixamento da nota do país, em contraste com as comemorações feitas pelo governo petista quando o país subia no ranking da confiança. “Você vai notar que de 1994 a 2015, só em sete anos, a partir de 2008, a nota foi acima de BB+. Portanto, essa classificação não significa que o Brasil esteja em uma situação que não possa cumprir suas obrigações. Pelo contrário, está pagando todos os seus contratos, como também temos uma clara estratégia econômica. Vamos retomar nesse caminho e retomar o crescimento deste país”, disse a presidente.

O ministro da Fazenda também tentou acalmar o mercado com sua fala mansa. “Uma das agências pode ter se precipitado. Quando a gente mostrar que o processo que já estava em andamento vai ter conclusão em algumas semanas, acho que talvez o afã de revisar a nota do Brasil arrefeça entre as outras agências e a própria avaliação do mercado irá se tranquilizar”, relativizou Joaquim Levy.

Depois de sucessivos rumores sobre sua saída do governo, o ministro da Fazenda sai, por contraditório que possa parecer, fortalecido de alguma maneira com a decisão da Standard & Poor’s. Afinal, Levy foi voto vencido dentro do governo nas discussões sobre o envio da proposta orçamentária. A rejeição de sua proposta, há duas semanas, foi interpretada como mais um sinal de desprestígio do ministro, que tem sido desautorizado pela presidente e questionado por outros integrantes do governo e da base aliada. Seu principal defensor e aliado tem sido o vice-presidente Michel Temer.

A decisão da agência de classificação de risco mostra que Levy tinha razão. Pior para os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e do Planejamento, Nelson Barbosa, que convenceram a presidente a empurrar para o Congresso a delicada tarefa de tapar o buraco orçamentário bilionário. Proposta que já havia causado novos atritos entre o Executivo e o Legislativo.

Economista e uma das figuras do governo mais próximas de Dilma, Mercadante é contestado pela oposição e por governistas, como o vice-presidente Michel Temer e até pelo ex-presidente Lula. Seu estilo considerado, por vezes, arrogante e autoritário tem causado turbulências no Planalto. Peemedebistas acusam o ex-senador petista de barrar indicações políticas e de dificultar o diálogo com o Congresso. Na sexta-feira (11), os jornais O Globo e Folha de S.Paulo informaram que Dilma procura um substituto para Mercadante. Só não pretende tirá-lo do governo. Deve ser remanejado para outra pasta. Encontrar alguém disposto a assumir a Casa Civil não será das tarefas mais simples. Cresce, entre os governistas, a sensação de que a oposição já esbravejava antes em seu discurso: a de que a casa caiu.

Enquanto o governo batia cabeça com o rebaixamento da nota do país, os oposicionistas, com apoio até de integrantes do PMDB, avançavam na articulação pró-impeachment, com o lançamento de um site com abaixo-assinado requerendo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O site www.proimpeachment.com.br está no ar desde quinta-feira (10). A iniciativa é encabeçada por deputados do PSDB, DEM, PSC, PPS e SD, e até do PMDB. Deputados ligados ao grupo acreditam que pelo menos 280 parlamentares já apoiam o afastamento da presidente. Para passar na Câmara, um eventual pedido de impeachment precisa ter o apoio de 342 deputados. Se as contas do movimento estiverem corretas, Dilma terá de redobrar suas atenções na Câmara sob o risco de descobrir que uma hora o poço chega ao fim.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes