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Checagem

Desemprego de 40%? Blefe, Bolsonaro!

“Qual é o problema que está acontecendo no Brasil? Não bastasse nós termos aqui a maior taxa de desemprego do mundo, em torno de 40%, o governo apregoa 7%. Mas, vejam só, 26% do povo brasileiro vive de Bolsa Família, e o governo considera esse pessoal empregado.” – Jair Bolsonaro (PP-RJ), em plenário, na quarta-feira (12)

Checagem
14 de agosto de 2015
13:00
Este artigo tem mais de 8 ano
Falso

As metodologias mais comuns utilizadas para mensurar o nível de desemprego no Brasil apontam para números bem distantes da taxa mencionada pelo deputado Jair Bolsonaro. Segundo a última Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados referentes ao mês de junho de 2015, a taxa de desocupação ficou em 6,9%.

Essa taxa ficou praticamente estável em relação ao mês anterior (em maio, a taxa foi de 6,7%), mas houve um crescimento sensível em relação ao mesmo mês do ano passado. Em junho de 2014, a taxa de desocupação era de 4,8%. Ou seja, em um ano, a taxa cresceu cerca de 44% e o resultado foi o pior para o mês de junho desde 2010, segundo os dados do IBGE. Considerando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios contínua (PNAD), também do IBGE, a taxa de desocupação no trimestre móvel de março a maio de 2015 foi de 8,1%. Houve crescimento de cerca de 15,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) deixou de divulgar a taxa média de desemprego de todas as regiões metropolitanas analisadas a partir de julho de 2014 e passou a divulgar somente as taxas de cada região separadamente. A mudança ocorreu porque o órgão deixou de analisar a região metropolitana de Belo Horizonte em seus estudos e, por ser uma região economicamente importante do país e com grande concentração de empregos, houve a opção de só divulgar separadamente as taxas de desemprego (hoje o Dieese analisa as taxas de emprego de São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre, Distrito Federal, Recife e Salvador). A última taxa divulgada com a média nacional foi há um ano, em junho de 2014, quando o Dieese divulgou que a taxa de desemprego era de 10,8%.

É impossível que a taxa tenha chegado aos 40% apregoados por Bolsonaro pela metodologia do Dieese. “Isso não existe. Isso é uma aberração. É uma invenção de Sua Excelência. Hoje, a projeção de desemprego nacional pela metodologia do Dieese deve estar entre 13% e 12,9%. O que é bem distante desse número”, afirma a coordenadora nacional da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, Lúcia Garcia.

Segundo o site Trading Economics, que compara índices econômicos de países no mundo inteiro, só cinco países possuem taxas de desemprego acima dos 40%. São eles: Quênia, Haiti, Bósnia-Herzegovina, Congo e Djibuti. Todos eles têm situações econômicas muito piores que a brasileira.

Além disso, grande parte dos beneficiários do Bolsa Família trabalham. O benefício é dado a famílias cuja renda chega até R$ 154, mas não necessariamente todas estão desempregadas. Aliás, segundo o governo, a maior parte delas trabalha. Em dezembro passado, Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, afirmou com base nos dados do ministério que coordena o programa que 75% dos beneficiários do Bolsa Família trabalhavam. Ou seja, não vivem só do Bolsa Família, nem estão desempregadas.

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em sessão na Câmara.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em sessão na Câmara. Foto: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados

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Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 99816-3949. Acompanhe também no Twitter e no Facebook. Desde o dia 30 de julho de 2018, os selos “Distorcido” e “Contraditório” deixaram de ser usados no Truco. Além disso, adotamos um novo selo, “Subestimado”. Saiba mais sobre a mudança.

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