Mr. Joesley Mendonça Batista e Mr. Wesley Mendonça Batista. Assim estão os nomes dos irmãos bilionários donos da J&F holding, que entre outras empresas é dona da marca JBS, na “lista VIP” da COP30, que garante acesso à zona azul da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025. E quem colocou os dois nessa seleção foi o Brasil. Isso mesmo, os irmãos Batista são convidados do anfitrião, no caso, o Estado brasileiro.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) publicou a lista preliminar dos participantes da conferência nesta segunda-feira, 10 de novembro. Nela, constam os nomes de Wesley e Joesley Batista como “convidados do país anfitrião”, representando a JBS.
Existem várias formas de ser credenciado para a Zona Azul, a área restrita da COP30, onde são realizadas as negociações diplomáticas entre os quase 200 países que assinaram a Convenção da ONU sobre mudanças climáticas. O país anfitrião tem direito a um número limitado de convidados – lista na qual estão os irmãos Batista, além de representantes da indústria petrolífera, como Petrobras e ExxonMobil, da mineração, como Vale, Samarco, Sigma e o Instituto Brasileiro da Mineração.
A lista de convidados do Brasil também inclui representantes de organizações da sociedade civil, como Instituto Alana, voltado para educação, e de povos indígenas e comunidades tradicionais, como a associação Yanomami Hutukara e o Conselho Indígena de Roraima. Contudo, quilombolas vêm se queixando há semanas pelo baixo número de credenciais para seus representantes no evento – e a lista liberada agora mostra que eles conseguiram apenas cinco credenciais indicadas pelo Brasil.
O Brasil também pode indicar uma série de pessoas para serem party overflow, que, assim, passam a integrar a delegação brasileira, ainda que não atuem como “negociadoras” (que são chamadas de “partes”). Nesse grupo estão desde representantes de ONGs e associações de comunidades tradicionais a empresas.
A Pública apurou que Wesley e Joesley não estavam na lista da COP anterior, realizada no Azerbaijão, apesar da JBS estar com três nomes de representantes credenciados. Por telefone, a reportagem foi informada que os empresários não estão participando da COP nesta terça-feira, mas não foi desmentido que eles foram credenciados.
JBS: multas ambientais e a crise climática
A JBS, dos irmãos Batista, a maior produtora de carne bovina do mundo e principal empresa do setor agropecuário, tem impacto direto no clima — e vem sendo cobrada e multada por isso.
Segundo a Pública apurou, apenas neste ano, a JBS SA foi alvo de quatro multas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Juntas, as quatro multas passam dos R$ 660 milhões, por infrações no estado do Pará, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. A multa mais cara, justamente no Pará, está ligada a mais uma etapa da Operação Carne Fria, que vem apurando desmatamento e criação de gado ilegais na Amazônia.
Neste ano, a Pública mostrou que a JBS pode ter exportado para a União Europeia carne bovina e couro produzidos com gado proveniente de fazendas ilegais no Pará. Relatório da Human Rights Watch (HRW) apontou que o gado irregular afeta a Terra Indígena Cachoeira Seca, lar do povo Arara, e o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Terra Nossa.
Em 2024, a Pública mostrou que um levantamento da ONG norte-americana EIA (Agência de Investigação Ambiental, na sigla em inglês) encontrou registros que a JBS teria comprado gado criado em fazendas ilegais na Terra Indígena Apyterewa, no próprio estado do Pará.
Além das irregularidades, as produtoras de carne representam um impacto direto no aquecimento global: se fossem um país, as 45 maiores empresas que produzem carne e laticínios – com a JBS nessa conta – seriam o nono maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, mostrou levantamento divulgado às vésperas da COP30.
O império dos irmãos Batista vai além da JBS. O grupo J&F também possui a produtora de celulose Eldorado, a mineradora Lhg Mining, a prestadora de serviços financeiros PicPay e a Âmbar, produtora de energia, que inclusive comprou termelétricas no Acre neste ano. Outro ativo da companhia é a usina de Candiota III, no Rio Grande do Sul, movida a carvão, o pior entre os combustíveis fósseis. A usina foi a maior emissora de gases do efeito estufa entre as térmicas do país (incluindo as movidas a gás e a diesel) em 2024, segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Além disso, Candiota III registrou a maior taxa de emissão por eletricidade gerada: 1.205 toneladas de gás carbônico equivalente por gigawatt hora. Mesmo assim, recebeu um subsídio estatal pela compra de carvão mineral, conforme a Pública mostrou.
*Atualização às 18h53 de 11/01/2025: incluída a resposta da assessoria da JBS.


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