Escolhida para assumir o Ministério dos Direitos Humanos após o ex-ministro Silvio Almeida ter sido afastado devido a acusações de violência sexual, a trajetória profissional, política e de militância da deputada estadual de Minas Gerais Macaé Evaristo (PT) é atravessada pela pauta da educação. Filha de mãe professora e pai ex-combatente e artista, Macaé tem história na política partidária e assume o ministério por indicação do PT de Minas.
Ela retorna a Brasília depois de dez anos. Entre 2013 e 2014, foi titular da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (MEC) durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Na biografia Macaé Evaristo, uma força negra na cena pública, escrita pelo fundador do Observatório de Favelas, Jailson de Souza e Silva, e pela fundadora e diretora da Redes da Maré, Eliana Souza Silva, a ministra reflete sobre o período que passou pelo governo federal.
“A experiência em Brasília foi muito importante para eu descobrir o que é a capacidade de interferência, de pressão, de construção e desconstrução que pode ser feito via Legislativo – aliás, hoje, eu me pergunto se os governos Lula e Dilma governaram, de fato. Afinal, qual é o sentido dessa governabilidade? O que ela implica? Porque todas as gestões que eles fizeram sem ter maioria no Legislativo construíram uma maioria sem identificação política com nossa agenda”, reflete no livro.
Apesar de ter ocupado altos cargos ao longo de sua trajetória, Macaé não se dissociou da sua base política em Belo Horizonte. Frequenta rodas de samba no centro e na periferia da capital, gosta de festas, carnaval e congado. “Ela é uma pessoa alegre, de bem com a vida. Eu acho que isso é uma coisa também muito importante pra alguém que vai lidar com coisas muito duras”, disse Eliana Souza Silva em entrevista à Agência Pública.
Macaé foi secretária municipal de Educação de Belo Horizonte, entre 2005 e 2012, nas gestões municipais de Fernando Pimentel (PT), Marcio Lacerda (PSB), e foi secretária estadual de Educação do estado entre 2015 e 2018, quando Pimentel foi eleito governador. Macaé foi a primeira mulher negra a ocupar esses cargos.
À frente das secretarias de Educação, a nova ministra acumulou ações de improbidade administrativa, conforme reportagens publicadas pelo Estado de S.Paulo e pela Folha de S.Paulo. Ela nega as acusações.
Durante sua gestão em Minas, ela enfrentou greve de professores por melhores salários, a ocupação das escolas que mobilizou os estudantes durante a presidência de Michel Temer (MDB) e a frustração com o governo Pimentel, que narra em sua biografia: “A população elegeu um governo de esquerda, mas ele não teve essa identidade”.
No MEC, Macaé coordenou a implantação de programas de cotas para ingresso de estudantes de escolas públicas, negros e indígenas no ensino superior. “Em Brasília, apesar daquela loucura que é o Congresso, a necessidade de construir e de operar naquela Câmara, inúmeros partidos, mil interesses diferentes, havia, no âmbito do Ministério da Educação (MEC), um grupo com maior potencial agregador do ponto de vista de concepção de projeto e de estratégia. […] A minha experiência aqui no estado foi muito diferente, foi a mais fragmentada de todas, não se criou uma identidade”, acrescentou.
Macaé foi vereadora de 2021 a 2023 e deixou o cargo após se eleger deputada estadual em 2022. Na Assembleia Legislativa de Minas, ela era membro efetivo das comissões de Educação, Ciência e Tecnologia, de Cultura e de Ética e Decoro Parlamentar. Foi coautora de dois projetos pró LGBTQIA+ e do estatuto da igualdade racial estadual. Ela ocupou o cargo até receber o convite do presidente Lula para o Ministério dos Direitos Humanos.
Política desde o berço
O gosto pela política, assim como pela educação, foi herança da mãe, Maria Antônia Cesário Evaristo, que, segundo Macaé, se tornou a principal referência do PT de São Gonçalo do Pará (MG), onde nasceu, em 1965, a 120 km da capital. Ela se descreve na biografia como “uma criança atípica”. “Preta, mas com mãe professora e pai intelectual, mesmo sendo de origem muito pobre”, conta.
Sua mãe “sempre teve uma obsessão com o acesso à escolarização para as filhas”, o que, segundo Macaé, a teria impedido de entregá-las para famílias abastadas criarem após a morte precoce do pai delas, Osvaldo Catarino Evaristo.
O prefácio da biografia foi escrito por sua prima, a escritora mineira Conceição Evaristo. “E qual a importância de se fazer conhecer histórias de vida como a de Macaé Evaristo? Em parte, já dissemos: histórias de mulheres negras informam questões que a sociedade brasileira, como um todo, precisa pensar também porque a atuação das mulheres negras, desde a escravização dos povos africanos e seus descendentes no Brasil, são exemplares de modos afirmativos de ‘segurar’ a vida apesar de… E ainda, para informar sobre nossos feitos, como sujeitos históricos – mulheres negras – na nação brasileira”.