O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global voltou a crescer timidamente após a pandemia, e o crescimento global do desenvolvimento humano projetado neste ano deve ser o menor em 35 anos. O relatório de Desenvolvimento Humano de 2025, divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), afirma que “a distância entre países com IDH muito alto e muito baixo, que vinham diminuindo há décadas, voltaram a se ampliar nos últimos quatro anos”.
“A IA muda o jogo no campo do desenvolvimento. Se ela for vista apenas como uma extensão turbinada das tecnologias digitais anteriores, voltadas à automação do trabalho, o trabalho humano tende a ceder ainda mais espaço às máquinas, corroendo as opções de desenvolvimento”, afirma o documento. O futuro, descreve o estudo, vai depender das escolhas políticas, da infraestrutura e da capacidade dos países de absorver e implementar essa tecnologia.
Entre os possíveis benefícios da tecnologia citados no documento estão a melhoria de diagnósticos médicos por meio da análise de grandes volumes de dados; a personalização de sistemas educacionais; e o aumento da produtividade em setores como agricultura e energia, com uso de sensores inteligentes e algoritmos de otimização.
O relatório destaca a desigualdade no acesso à pesquisa e ao desenvolvimento, no qual os países de alta renda concentram a maior parte das publicações científicas e das inovações tecnológicas em IA. Além disso, as maiores capacidades de computação em nuvem — fundamentais para treinar e operar modelos avançados de IA — estão concentradas em um pequeno número de potências, como Estados Unidos, China e Reino Unido.
A desigualdade digital é também um entrave. Dados recentes da União Internacional de Telecomunicações (ITU – International Telecommunication Union, em inglês) apontam que cerca de 68% da população mundial tem acesso à internet, mas que 32% seguem desconectados.
O documento defende que o avanço da inteligência artificial ocorre em um cenário já marcado por incertezas globais, como crises climáticas, tensões geopolíticas e retrocessos democráticos. O desequilíbrio no acesso à tecnologia se soma a esses desafios, criando o que o relatório chama de “dualidade de incertezas”. O relatório da ONU demonstra preocupação com uma criação de “dois mundos”, apenas um deles com acesso às inovações tecnológicas.
Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2024, 29 milhões de brasileiros não acessam a internet. Desses, 82,7% vivem em regiões urbanas, 59% são pretos ou pardos, 55% pertencem às classes D e E, e 55% são mulheres. Quase metade dos desconectados tem mais de 60 anos.
De acordo com a coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano (UDH) do PNUD Brasil, Betina Ferraz, apesar do Brasil ainda ter um grande caminho a percorrer, o país não se encontra no “patamar dos desertos”: “O avanço de novas tecnologias sempre pode ser um vetor que acirre as desigualdades, mas os países estão atentos a esses fatores. […] O Brasil já tem praticado conhecimento e inteligência artificial para determinados setores que são chave para o Brasil, como saúde e educação.”