O ouvidor das Polícias de São Paulo, Mauro Caseri, criticou a atuação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário de Segurança Pública, o deputado federal Guilherme Derrite (PL). Segundo ele, essa não é uma gestão “que vê, nas ações policiais, a vida como algo de maior importância”.
A afirmação foi feita pelo ouvidor, à Agência Pública, durante o Seminário Internacional de Segurança Pública, Racismo e Interseccionalidade, que começou nesta sexta-feira, 19 de setembro, e segue até sábado, na sede do Sindicato dos Químicos, no Centro de São Paulo.
Caseri foi um dos convidados do painel de abertura do evento, que discutiu políticas públicas que devem ser debatidas e levadas aos parlamentares de todo país, com o intuito de promover a segurança pública, debatendo o racismo institucional.
A crítica veio após o ouvidor relembrar a Operação Verão, da PM, que foi uma das mais letais da história do estado de São Paulo. Na época, o governador Tarcísio disse estar “nem aí” e que podiam ir até à “Liga da Justiça”, após ser comunicado que organizações sociais brasileiras o denunciaram às cortes internacionais. “Eu acho que foi uma fala super infeliz e não é esse o caminho”, disse Caseri.

A fala de Caseri ocorreu no momento em que o estado de São Paulo registra o aumento do número de mortes em decorrência de intervenções policiais. Em 2024, esse número cresceu 61% em relação à população, frente à 2023, fazendo com que o estado ficasse à frente dos números do Rio de Janeiro e da Bahia, segundo o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As câmeras corporais foram amplamente defendidas pelo ouvidor tanto durante o painel, quanto em entrevista à Pública. Ele também sugeriu o aumento do uso de “armas não letais”, que podem ser uma forma de conter ações violentas, em caso de pessoas desarmadas.
Também presente no evento, o coronel Carlos César Albuquerque Pereira, da Polícia Militar da Bahia, apontada como uma das mais letais do país, justificou que o alto número de mortes em virtude dos conflitos armados entre facções rivais no estado.
“A tentativa de domínio de território acontece muito mais entre as facções então eles terminam matando um ao outro, cometendo homicídio e a polícia intervém nessas localidades onde está tendo esses confrontos entre eles e termina tendo um confronto também com a própria polícia”, disse o coronel.
No ano passado, a Polícia Militar da Bahia foi responsável por 1,5 mil mortes, segundo o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Ainda dentro dos debates sobre violência policial durante o evento, Douglas Martins, ex-secretário adjunto de políticas de promoção da igualdade racial do governo federal, defendeu que organizações sociais, como o movimento das Mães de Maio, devem ser interlocutoras das discussões sobre políticas públicas de segurança.
“Toda vez que a letalidade policial, chega como uma ‘blitzkrieg’ [uma referência metafórica aos militares da Alemanha Nazista que usavam táticas rápidas de reação violenta], vão surgir as mães. Eu quero nesse encontro, que esses grupos façam parte das políticas públicas de segurança”, disse Martins.