Buscar
Nota

BH será a 1ª capital com tarifa zero de ônibus? PL ganha força mesmo com prefeito contra

3 de outubro de 2025
04:00

Nesta sexta-feira, dia 3 de outubro, os vereadores de Belo Horizonte têm nas mãos um dilema: eles podem avançar ou enterrar a proposta de tornar a cidade a primeira capital do país a ter tarifa zero para o transporte público.

A ideia não é inédita na cidade: em 2023, BH aprovou uma lei que deu gratuidade a parte do serviço, colocando 12 linhas sem tarifa que atendem 433 mil passageiros por mês e passam por bairros de favelas e vilas da cidade. No mesmo ano, uma proposição do movimento Tarifa Zero de gratuidade de todo o transporte sequer avançou nas comissões iniciais da Câmara.

Agora, o grupo diz ter 24 vereadores apoiando a proposta. Para ser aprovado, o projeto precisa ter 28 votos. Oficialmente, assinam o projeto apresentado pela vereadora Iza Lourença um total de 22 políticos. Segundo levantamento do grupo ativista Minha BH, seriam 24 a favor.

À reportagem, a vereadora disse que “estamos perto de conseguir os 28 votos”, mas reconheceu que a posição dos políticos está mudando a cada dia. “Os vereadores estão sendo bastante pressionados pela Prefeitura de um lado e pela população de outro”, criticou Lourença.

Para ela, o apoio atual foi possível porque a mobilização pela tarifa zero vem desde 2013, mas ela acrescenta que “o levante popular contra a PEC da Bandidagem deixou os parlamentos do país mais sensíveis às demandas populares”, diz.

A Agência Pública conversou com Roberto Andrés, urbanista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que explica que o apoio dos políticos deste ano aconteceu por uma pressão feita desde o início da legislatura por parte do movimento e de vereadores que apoiam a causa.

“O movimento soube aproveitar a nova legislatura e apresentou a proposta no primeiro dia. A Tarifa Zero é popular e os vereadores têm o termômetro das ruas. Quando começamos a coletar assinaturas no início do ano, a gente fez pressão nas redes e eles foram percebendo que fazia sentido. Uma coisa mudou no Brasil que, desde a pandemia, deu uma escalada de cidades com Tarifa Zero, estamos crescendo 30% ao ano, já são 138 – há cinco anos eram 40. Aqui na região Metropolitana de BH são oito cidades. Deixa de ser uma política utópica e passa a ser algo que as pessoas conhecem”, defende.

Os números favoráveis à proposta esbarram na oposição e no próprio prefeito de BH, Álvaro Damião, do União Brasil, que já deu diversas declarações contrárias ao projeto. “O problema não é ser contra ou ser a favor. O problema é quem vai pagar essa conta”, disse à Itatiaia em agosto. A reportagem pediu um posicionamento à assessoria da prefeitura, que respondeu que não irá comentar o projeto. O líder do governo na Câmara, Bruno Miranda (PDT), disse em entrevista que desde o início do ano, vereadores desembarcaram da ideia. “O governo entende que esse projeto, do jeito que está, não deve passar”, disse ao jornal O Tempo.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) também se adiantou à votação e divulgou no dia 1º de outubro um estudo que apontaria perdas de empregos e prejuízos a empresas na cidade caso a tarifa zero seja aprovada.

Como funciona o cálculo da tarifa zero

O PL 60/2025 quer tornar todo o transporte público municipal dos ônibus de BH gratuito. Para fechar a conta, o Tarifa Zero – que articulou junto aos políticos o projeto – propõe criar um fundo de transporte que seria custeado por empresas sediadas na capital com dez ou mais empregados. Essas empresas pagariam inicialmente cerca de R$ 185 mensais por empregado. Em troca, não teriam custos com o vale transporte.

A conta é justificada pelos dados apresentados pela própria prefeitura: 41% do dinheiro que paga o custo de manter os ônibus de BH rodando vêm do governo municipal; outros 32% vêm do vale transporte, que não seria mais pago com esse fundo; e o restante, 26%, hoje é pago pela tarifa, isto é, pelo dinheiro da população que não está vinculado ao trabalho. A proposta do grupo é que, já que a tarifa é uma parte menor, o modelo poderia ser substituído.

Edição:

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Vale a pena ouvir

EP 187 O futuro vai ser pior que o presente?

Viveiros de Castro reflete sobre os crimes do bolsonarismo, a crise climática e os riscos da inteligência artificial

0:00

Notas mais recentes

BH será a 1ª capital com tarifa zero de ônibus? PL ganha força mesmo com prefeito contra


Auditores vão ao STF após ministro Luiz Marinho frear ação da JBS por trabalho escravo


Brasileiros criticam autoritarismo dos EUA, mas sonho americano ainda seduz mais que China


Câmara vota isenção de IR, Tarcísio visita Bolsonaro e Fachin assume STF nesta semana


Condenado por golpe, Ramagem articulou lei que facilita intervenção dos EUA no Brasil


Leia de graça, retribua com uma doação

Na Pública, somos livres para investigar e denunciar o que outros não ousam, porque não somos bancados por anunciantes ou acionistas ricos.

É por isso que seu apoio é essencial. Com ele, podemos continuar enfrentando poderosos e defendendo os direitos humanos. Escolha como contribuir e seja parte dessa mudança.

Junte-se agora a essa luta!

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes