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Julian Assange fala sobre a publicação dos arquivos sobre os detentos de Guantánamo.

Reportagem
25 de abril de 2011
16:05
Este artigo tem mais de 13 ano

“Os Arquivos de Guantánamo, que o WikiLeaks começou a publicar, jogam luz sobre essa monstruosidade da era Bush que a administração Obama decidiu continuar”, afirmou Julian Assange com exclusividade para a Pública nesta segunda-feira.

A declaração de Assange resume a importância do vazamento mais recente da organização, que começou a ser publicado ontem à noite. São milhares de fichas de prisioneiros ou ex-prisioneiros de Guantánamo, em Cuba, e outros documentos relacionados, emitidos pela JFT-GTM (Força-Tarefa de Guantánamo) e enviados na forma de memorandos ao US Southern Command (Comando Sul dos Estados Unidos).

As fichas relatam o estado de saúde dos atuais presos, refazem a teia investigativa que os levou à prisão e revelam que boa parte dos acusados foram incriminados com base em depoimentos de outros presos obtidos sob tortura dentro e fora de Guantánamo – nas prisões secretas da CIA. Uma revisão cuidadosa dos documentos revela que o mercado de recompensas promovido pelos Estados Unidos levou à detenção de inocentes por acusações formuladas por informantes interessados em prêmios em dinheiro.

Também revelam como são feitos os “pareceres”, que recomendam a permanência ou não dos presos em Guantánamo, não apenas pela força-tarefa mas também pelos responsáveis pela investigação criminal e psicólogos encarregados de avaliar a maneira que devem ser utilizadas as informações obtidas em outros interrogatórios.

“A publicação dessas informações é importante para o público, para os prisioneiros e ex-prisioneiros, e para os juízes que se ocupam desses casos. Muitos estão presos há anos sem acusação formal e com base em testemunhos falsos”, disse Assange.

“Está na hora de reacender a discussão pública sobre a prisão de Guantánamo, na esperança que finalmente se possa fazer alguma coisa para trazer justiça para esse estabelecimento”, afirmou o fundador do WikiLeaks, que qualificou Guantánamo de “estabelecimento de ‘lavagem de pessoas’.

A comparação com a lavagem de dinheiro, em que bancos internacionais “escondem” recursos suspeitos, é empregada por Assange pelo fato de Guantánamo esconder da sociedade a verdadeira história dessas prisões para justificar a política criminosa de prisão sem julgamento e os meios ilícitos empregados para prendê-los.

Publicação

Na conversa com a Pública, Assange fez questão de destacar que os veículos parceiros nesse lançamento são o Washington Post, dos EUA, o El Pais, da Espanha, o Telegraph, do Reino Unido, a revista Der Spiegel , da Alemanha, o francês Le Monde, da Franca, o Aftonbladet, da Suecia e o italiano La Repubblica.

Isso por que, apesar de não estarem entre os parceiros oficiais, os jornais New York Times, dos Estados Unidos, e Guardian, do Reino Unido, publicaram ontem reportagens baseadas nos mesmos documentos secretos, entregues por uma outra fonte, que preferiu permanecer anônima. Segundo a Pública apurou, por causa disso, o vazamento foi adiantado porque os dois jornais pretendiam “furar” o WikiLeaks.

É o capítulo mais recente da novela que envolve o WikiLeaks e esses dois jornais.

No início do ano passado, o Guardian contratou uma jornalista inglesa que obteve os documentos relativos às embaixadas americanas de um colaborador do WikiLeaks. Naquele momento, o jornal desistiu de publicá-los antes da organização, porque Assange ameaçou processá-lo com base em um contrato assinado pelas duas partes.

Depois disso, Julian rompeu com o Guardian, que publicou um livro sobre o Wikileaks considerado tendencioso pelo fundador da organização. Assange também se irritou com a publicação do processo contra ele movido na Suécia, incluindo detalhes sobre as relações que manteve com as mulheres que o acusam de delitos sexuais. “Transparência é para governos e não para pessoas”, disse ele na época.

Também com o New York Times, as relações têm sido conturbadas. Em janeiro, o editor Bill Keller escreveu um artigo em que chamava Julian de “arrogante, cabeça-dura, conspiracional e estranhamento crédulo”, alem de dizer que ele “cheirava mal”. Não foi o primeiro problema:  depois da publicação dos documentos das embaixadas americanas, Keller passou a chamar Assange e o WikiLeaks de “fonte” em vez de uma organização jornalística. A  diferenciação tem consequências legais, pois os jornalistas são protegidos pela quarta emenda constitucional americana.

No início de abril, durante um congresso de jornalismo na Universidade de Berkeley, na California, Keller e Assange – este por skype já que está sob prisão domiciliar – , participaram de um debate em que o fundador do WikiLeaks acusou o jornal de trabalhar a favor do governo americano. “O papel da imprensa é obrigar as organizações poderosas a prestar contas, e não encobrir seus erros”, disse.

Keller continuou chamando o WikiLeaks de “fonte” durante todo o debate. Mas brincou:  “A grande vingança de Julian e que eu terei que passar anos da minha vida participando de debates sobre o WikiLeaks”.

Leia o que dizem os documentos de Guantánamo

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