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CIA prendeu opositores de Gadaffi, os torturou – e depois entregou ao ditador

Como os serviços secretos americano e britânico colaboraram com a captura de inimigos do regime de Gadaffi valendo-se de tortura e detenções ilegais

Reportagem
26 de setembro de 2012
09:00
Este artigo tem mais de 12 ano

O ex-presidente Bush e o diretor da CIA, Michael Hayden, afirmam que a técnica de afogamento por waterboarding – que consiste em jogar água sobre o rosto de uma pessoa imobilizada, causando a sensação de sufocamento – só foi utilizada em três prisioneiros.

Mas este número está sendo questionado por um dissidente da Líbia que fez uma descrição detalhada, alegando ter sido vítima de waterboarding durante um interrogatório realizado pela CIA em uma prisão secreta no Afeganistão.

Mohammed Shoroeiya contou à ONG Human Rights Watch que foi submetido à técnica de waterboarding inúmeras vezes durante um o fatídico interrogatório no Afeganistão. Ele afirma ter ficado amarrado a uma placa de madeira durante todo o tempo. “Depois eles começacam a jogar água… Jogam água até o ponto de você sentir que está sufocando… E não paravam até receber algum tipo de resposta”, disse. Outro líbio também descreve ter sofrido “uma prática de sufocamento próxima a waterboarding” nas mãos da CIA no Afeganistão.

Eles são alguns dos 14 entrevistados pela ONG Human Rights Watch para o relatório “Entregue em mãos inimigas“, que mostra como as agências de serviço secreto dos EUA e do Reino Unido prenderam dissidentes da Líbia por todo o mundo e os entregaram diretamente nas mãos do coronel Gaddafi. Muitos sofreram maus tratos antes de serem enviados de volta à Líbia, então comandada por Gadaffi.

Um dos detidos, Ibn al-Sheikh al-Libi, revelou informações durante um interrogatório da CIA que depois foram usadas para jutsiifcar a invasão do Iraque em 2003. Ele foi depois enviado à Líbia, onde morreu na cadeia em 2009.

Cinco destes homens foram enviados para prisões secretas das CIA no Afeganistão por até dois anos, onde ficaram presos em celas sem janelas, foram espancados, acorrentados, ficaram em receber comida e foram mantidos acordados por longos períodos com rock tocando em altíssimo volume. Eles nunca foram acusados formalmente de nenhum crime e no final foram enviados de volta à Líbia. Um deles descreve ter sido preso em uma cela no Marrocos.

Os relatos dos dissidentes são corroborados por documentos descobertos pela Human Rights Watch no escritório do chefe de inteligência de Gadaffi, Musa Kusa, após a queda do governo, que incluem faxes da CIA e do serviço secreto britânico, MI6, avisando ao governo da Líbia sobre as prisões dos dissidentes.

Dez dos 14 casos ocorreram pouco depois da reconciliação pública dos EUA e do Reino Unido com Gaddafi. Os detidos foram depois enviados de volta para o ex-ditador da Líbia apesar da reputação de torturas e detenções sem julgamento. Os documentos mostram que em dois casos os EUA pediram garantias diplomáticas que os prisioneiros não seriam torturados – mas essas garantias foram solenemente ignoradas.

Dois casos envolvem forças de segurança britânicas cooperando com a CIA para sequestrar dissidentes líbios. Ambos foram amplamente divulgados após documentos serem revelados no último ano. Abdul Hakim Belhadj e Sami Mostafa al-Saadi, que depois foram enviados à Líbia, estão agora processando o governo britânico.

A maioria dos entrevistados para o relatório eram membros do Grupo de Lutadores Islamistas Líbios, formado em oposição à opressiva e controversa repressão do governo de Gadaffi ao Islã.  Quase todos haviam fugido do país no final dos anos 80 e foram para o Afeganistão para lutar contra os soviéticos – uma luta apoiada pelos EUA – e também receber treinamento para lutar pela sua causa.

Mas, como mostra o relatório, depois de 11 de setembro os EUA não se preocupavam em distinguir entre militantes islâmicos lutando contra os EUA e lutando por outras causas. Assim, muitos dos dissidentes dos regimes autoritários do Oriente Médio foram presos em países como Hong Kong, Malásia e Mali. Eles foram transportados entre países asiáticos e do Oriente Médio para Guantánamo, onde ficaram sob custódia americana durante anos.

A investigação da Human Rights Watch contradiz com descrições detalhadas a posição oficial dos EUA sobre o uso de técnicas de tortura depois de 11 de Setembro.

Clique aqui para ler o relatório da Human Rights Watch report, “Entregue em mãos inimigas”. E clique aqui para ler a reportagem original, em inglês.

 

 

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