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Bolsonaro foge de tomar posição sobre candidatos ao governo de 5 unidades da Federação

Saiba quais governos o presidente deixou de dizer claramente aos seus eleitores quem eles deveriam apoiar

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1 de outubro de 2022
12:00
Este artigo tem mais de 2 ano

O assunto veio à tona no debate presidencial da Rede Globo na noite desta quinta-feira (29), quando a candidata Soraya Thronicke (União Brasil) cobrou publicamente uma posição do presidente Jair Bolsonaro sobre a disputa ao governo de Mato Grosso do Sul no próximo domingo. Ao longo de toda a campanha, Bolsonaro omitiu sua preferência, com medo de atingir uma parceria com o PSDB no Estado. Porém, pressionado ao vivo em rede nacional, Bolsonaro enfim declarou apoio ao candidato Capitão Contar (PRTB).

“[…] É simplesmente assim, abandona os candidatos. Capitão Contar, que a vida inteira fez [campanha], lhe apoiou, o senhor não apoia; não apoia ninguém que lhe apoiou antigamente. Enfim, é assim: o traidor da pátria”, acusou Soraya.

Minutos depois, Bolsonaro reconheceu que “não tinha tomado partido no tocante a eleições a governador do Estado”. Não explicou o motivo. “A partir desse momento, da forma como a senhora candidata se dirigiu à minha pessoa, eu quero apelar a todos de Mato Grosso do Sul, votem no capitão Contar para governador.”

A indefinição de Bolsonaro colocada em xeque por Soraya não ficou restrita ao Mato Grosso do Sul nessas eleições. Pelo contrário, foi uma prática adotada por Bolsonaro que causou turbulência em várias candidaturas pelo país afora, pois os candidatos usaram o nome de Bolsonaro sem que esclarecesse sua verdadeira predileção, dele, de seu partido ou da coligação que o PL integra. Ele próprio chegou a usar o seguinte termo, por três vezes, em suas lives semanais quando falou sobre outras disputas ao Senado nos Estados: “Em cima do muro”.

Levantamento feito pela Agência Pública nas seis lives realizadas por Bolsonaro no mês de setembro para pedir votos a diferentes candidatos no país – as quais ele chamou de “horário eleitoral gratuito” – mostra que o presidente deixou de dizer claramente aos seus eleitores quem eles deveriam apoiar aos governos do Acre, de Alagoas, do Amapá, do Maranhão e de Rondônia. Em dois outros casos, ele só se manifestou claramente na reta final, o que impediu que os candidatos usassem sua fala no horário eleitoral. Só na última live, nesta sexta-feira (30), ele exibiu um cartaz do governador Ibaneis Rocha. “Boa sorte, Ibaneis”, disse, laconicamente.

No caso de Mato Grosso do Sul, a dúvida só acabou no debate da TV Globo. Sobre a disputa no Rio Grande do Sul, Bolsonaro começou setembro falando que não ia se comprometer e só no meio do mês disse que apoia seu ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL). No Acre, apoiadores do senador licenciado Márcio Bittar (União Brasil) distribuíram na sexta-feira (30) um vídeo no qual Bolsonaro aparece dizendo que “estamos juntos” e que vão “subir a rampa” eleitos, mas Bolsonaro não explicitou esse apoio em suas lives. Na live desta sexta-feira, ele exibiu um panfleto da mulher de Márcio, Marcia, que é candidata ao Senado, mas nada falou do marido.

Ao anunciar o apoio a Contar durante o debate na TV Globo, Bolsonaro traiu a aliança feita entre o seu partido no Estado, o PL, com o PSDB, que lançou o nome de Eduardo Riedel. Quem explicou esse ajuste foi a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, candidata ao Senado na chapa de Riedel. Ela foi às redes sociais nesta sexta-feira para tentar corrigir a lambança presidencial. “Reitero meu apoio a Eduardo Riedel. No início desse processo fechamos uma coligação, incluindo o PL, partido do nosso presidente. Essa decisão foi tomada em conjunto com todas as lideranças partidárias nacionais e estaduais e aprovada pelo presidente Bolsonaro”, afirmou Tereza.

A estratégia dúbia de Bolsonaro repete o comportamento adotado nas eleições municipais de 2020, quando ele também não deixou clara sua posição sobre várias disputas a prefeito.

Em algumas das lives de setembro, Bolsonaro novamente mostrou como funciona a sua cabeça quando se trata de alianças políticas. Ao falar sobre o Rio Grande do Sul, por exemplo, no começo de setembro ele disse que não tomava partido porque se “dá bem” com os dois principais candidatos no campo do bolsonarismo (ambos aparecem abaixo do líder nas pesquisas de intenção de voto, o candidato à reeleição Eduardo Leite, do PSDB). Ou seja, a relação de um candidato com ele ou o seu governo se sobrepõe às combinações partidárias.

Dois bolsonaristas e fiéis defensores de Bolsonaro disputam o governo gaúcho, o ex-ministro de várias pastas no governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni (PL) e o senador Luís Carlos Heinze, um membro ativo da bancada ruralista e que atuou na tropa de choque governista durante a CPI da Covid.

Sobre sua indecisão, Bolsonaro assim se justificou na live: “A pessoa fala: ‘por que não fala do Onyx, por que não fala do Heinze?’ Eu me dou bem com os dois. Com o Heinze, meu velho colega de Parlamento, do PP. O Onyx, meu coringa aqui em Brasília. Duas pessoas fantásticas. Com dor no coração, eu fico em cima do muro. Mas quem for para o segundo turno, estaremos juntos com um dos dois”.

Ao mesmo tempo, contudo, e de forma espantosa, o presidente sugeriu que tem sim um nome, mas não falou qual. “Vocês sabem que eu tenho alguém de preferência, mas não vou falar aqui, até para não haver nenhum desequilíbrio, me acusarem de… [interceder] em pesquisa, pesquisa séria”.

Em outra live, ele voltou ao tema quando repassava os candidatos de sua preferência, Estado por Estado: “Rio Grande do Sul. Como tem vários candidatos ao governo nos apoiando, a gente vai ficar aí em cima do muro, apoiando todo mundo, para o Senado o nosso general Mourão”.

Na última live, na sexta-feira, Bolsonaro só pediu voto para Mourão, nem mencionou Lorenzoni.

Ao falar sobre a disputa no Maranhão, novamente Bolsonaro demonstrou que ele averigua o candidato que o apoia, e a partir daí ele decide seu apoio. Mas se vários nomes o apoiam, ele não decide, ou seja, sua própria campanha presidencial vem em primeiro lugar na hora da decisão. “No Maranhão tem três candidatos ao governo que são simpáticos a gente. Vamos ficar aí isento.”

Em outros casos, seu silêncio é total, ele nem chega a se explicar. Como na disputa Alagoas, na qual ele não declarou apoio ao seu amigo, o ex-presidente da República Fernando Collor (PRTB), mas também nunca indicou a razão. Collor, que utilizou a imagem e o nome de Bolsonaro em toda sua campanha eleitoral, disse a uma publicação de Alagoas que o presidente não o apoia explicitamente porque teme se indispor com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que por sua vez apoia outro nome ao governo, Rodrigo Cunha (União Brasil). Novamente, Bolsonaro não quer problema.

As indefinições de Bolsonaro se estendem a candidaturas de outros cargos. No caso do Distrito Federal, o problema foi enorme ao longo de toda a campanha. Duas ex-ministras, Damares Alves (PROS) e Flávia Arruda (PL), se lançaram ao mesmo cargo de senadora. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, chegou a declarar apoio a Damares, mas Bolsonaro se manteve, como ele diz, “em cima do muro”, ao longo de toda a disputa.

Na última terça-feira, Bolsonaro foi indagado por apoiadores na saída do Alvorada sobre quem ele apoiava ao Senado do DF. “Eu não vou responder, não… O Senado quem é que é. Eu não vou responder”. Bolsonaro estava sorrindo.

Sobre o Senado no Rio de Janeiro, várias vezes Bolsonaro explicitou, nas lives, sua política de não tomar partido. Segundo ele, há três nomes em disputa que são de sua preferência, Romário (PL), Daniel Silveira (PTB) e Clarissa Garotinho (União Brasil). 

“Não quero adiantar aqui, não quero problema”, disse Bolsonaro. Em outra live, reiterou: “Eu gostaria que tivesse um ou dois, mas tem três nomes disputando”. Numa terceira oportunidade, ofereceu a seguinte explicação: “Qual meu temor aqui, os três disputando, o PT corre por fora. Não vou fazer opção aqui”.

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