Um tuíte de Jair Bolsonaro (PL), na manhã de sábado (29), ajudou a alçar como tema principal das redes de seus apoiadores uma fala tirada de contexto do adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre MEIs (microempreendedores individuais). Levantamento do Radar Aos Fatos mostra que mentiras e ataques relacionados ao assunto somaram mais de 500 mil interações no Facebook entre sexta à noite (28) e domingo (30).
Tentativas de desmentir as versões falsas tiveram menos de 10% desse alcance (46 mil). Mais da metade (57%) das interações aconteceram após a postagem de Bolsonaro sobre o tema.
Além disso, a tendência se repetiu no Instagram, onde publicação de Bolsonaro concentrou quase 70% das interações sobre o assunto.
Durante o debate da Globo, na noite de sexta (28), Lula criticou mudança na metodologia do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) feita pelo governo de Bolsonaro.
“A primeira coisa que o povo brasileiro tem que compreender é que eles mudaram a lógica da medição de emprego. Eles colocaram o MEI como se fosse emprego [formal]”, afirmou.
Ao menos 22 posts no Instagram mostravam um corte descontextualizado da fala do petista e pedia votos para Bolsonaro. “Lula quer acabar com o trabalho de mais de 13 milhões de brasileiros”, dizia o vídeo, que também foi replicado por Bolsonaro no Twitter.
No Twitter, Bolsonaro afirmou que, “diferente de Lula”, tem orgulho dos MEIs e que eles “não são menos trabalhadores”. A publicação atingiu mais de 200 mil curtidas e compartilhamentos.
A versão falsa também foi amplificada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que sugeriu que o petista teria a intenção de cobrar novos impostos sobre microempreendedores individuais.
O post de Flávio Bolsonaro foi excluído após o ministro Alexandre de Moraes determinar a exclusão de posts que diziam, sem provas, que Lula acabaria com o MEI. Até a exclusão, o conteúdo atingiu mais de 28 mil curtidas e compartilhamentos no Facebook.
Aplicativos de mensagem
Distorções da fala de Lula também apareceram em correntes de aplicativos de mensagem durante a véspera das eleições.
Uma corrente que circulou em quatro grupos de WhatsApp dizia que Lula acabaria com o MEI para cobrar imposto sindical da categoria. O pagamento de contribuição sindical deixou de ser obrigatório com a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer (MDB), mesmo para trabalhadores contratados pela CLT. Outra corrente misturava em imagem diferentes acusações falsas sobre o petista, como que ele também acabaria com o Pix e planeja legalizar as drogas.
Esta reportagem foi feita numa colaboração entre Agência Pública, Aos Fatos e Núcleo Jornalismo para a cobertura das eleições de 2022. A republicação só é permitida com a atribuição de crédito para todas as organizações.