EP 66 Dos incels aos red pills: as redes de misoginia – com Marie Declercq
“Tudo o que eu tenho a te oferecer é a verdade e nada mais que isso.” Em uma cena chave do filme Matrix (1999) essa é a frase dita pelo personagem Morpheus no exato momento em que oferece a Neo a escolha entre uma pílula azul, que significaria um retorno a uma vida ilusória, e a uma pílula vermelha, que o levaria a entender a natureza de sua realidade. Apesar de trazer alegorias filosóficas e debates interessantes sobre o capitalismo, tecnologia e identidade, essa cena, que inclusive é dirigida por duas mulheres trans, Lilly e Lana Wachowski, anos mais tarde acabou sendo capturada por fóruns misóginos e ganhando um novo sentido que se liga muitas vezes à extrema-direita. Os chamados Red Pills são um dos muitos grupos que compõem uma rede denominada por especialistas como “Machosfera”. Esses grupos, que se ligam a diversas subculturas digitais e que têm em comum a presença de discursos de ódio às mulheres, se tornaram uma espécie de abrigo para diversos jovens que neles passam a ter contato com ideias neonazistas e fascistas. Como explicar esse fenômeno, sem cair em respostas rasas e generalizações? Há pessoas que estão há anos estudando e apurando esse assunto e que nos ajudam a entender como chegamos a esse ponto. É o caso da nossa convidada, a jornalista Marie Declercq, que conta nesse episódio de maneira didática, o que são muitos dos termos utilizados por esses grupos, como eles foram evoluindo desde os primeiros chats, passando por fóruns da Deepweb, até perfis em redes sociais e de vídeo, além de refletir sobre o que pode estar por trás do apelo que esses discursos têm e o despreparo da mídia em abordar esse assunto.
Esse programa foi gravado antes do atentado na creche em Blumenau, ocorrido no último dia 05 e não relaciona este atentado aos grupos comentados nessa entrevista.