Buscar

Número de casas vazias é o dobro do déficit habitacional no Brasil

Reportagem
29 de junho de 2023
17:58
Este artigo tem mais de 1 ano

A cada 100 domicílios particulares no Brasil, 13 estão vagos. É o que revelam os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quarta-feira, 28 de junho.

Ao todo, o IBGE contou 11,4 milhões de casas e apartamentos vazios no país. A proporção aumentou comparada ao censo anterior: em 2010, eram 9 a cada 100.

Os dados estão entre os primeiros resultados do Censo Demográfico de 2022, que começaram a ser divulgados nesta semana.

O IBGE considera como domicílio  vago  quando o recenseador vai até o local e obtém a informação segura de que não existe morador ali.  “Por exemplo,  no momento da visita o imóvel está para alugar ou a venda”, explica Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE e professor universitário.

Funcionário do IBGE segura aparelho telefônico onde faz anotações para a realização do Censo 2022
IBGE contou 11,4 milhões de casas e apartamentos vazios no país

Cidade de São Paulo tem quase 600 mil casas e apartamentos vazios

O estado com a maior quantidade de domicílios vazios é São Paulo, com 2 milhões. Isso representa 12% das moradias particulares contadas pelo IBGE no estado. A capital também é o município com maior quantidade de moradias vazias: são 588 mil casas e apartamentos vagos. O número é o dobro do valor de 2010.

A cidade de São Paulo recentemente votou o seu plano diretor, que define regras e diretrizes para a urbanização. A Câmara de Vereadores paulistana aprovou no dia 27 a última versão do texto. Dentre as modificações, está a possibilidade de construção de prédios com mais apartamentos e mais altos na proximidade das estações de metrô e trem.

Em entrevista para a Agência Pública, a coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Débora Lima, criticou que o plano não irá resolver a falta de moradia para quem não pode pagar os altos valores de aluguéis ou financiamentos de regiões com infraestrutura. “O valor do imóvel é muito alto e o trabalhador não consegue pagar a parcela, não consegue dar entrada”, questiona.

Quando se compara o percentual de domicílios vagos em cada estado, o maior deles está em Rondônia, com 16%. 

Já entre os municípios, o maior percentual é visto em São João do Jaguaribe, no Ceará. Em 2010 a cidade tinha 9,3% dos domicílios não ocupados, hoje esse valor é de 29%. No entanto, a população da cidade diminuiu entre os dois censos; foram registrados 7.900 habitantes em 2010 e 5.855 em 2022.

Número de casas vagas supera estimativa de déficit habitacional

A quantidade de domicílios vazios é duas vezes maior que o déficit habitacional no país. Dados da Fundação João Pinheiro mostram que, em 2019, o déficit habitacional no Brasil era de mais de 5,9 milhões de domicílios. 

Segundo Frederico Poley, coordenador de Educação e Saneamento da fundação, o aumento de vagas não reflete necessariamente um aumento de moradias disponíveis. “O déficit [habitacional] tem muito mais a ver com a questão de acesso adequado à moradia. Às vezes o domicílio está lá, mas as pessoas não conseguem ter acesso a esse domicílio adequado”, diz. 

Ele também pontua que os domicílios vagos não resolveriam totalmente o déficit habitacional, pois além da falta de moradias, há o problema da qualidade delas. O cálculo do déficit inclui habitações com problemas de infraestrutura, como problemas de água, esgoto e energia elétrica.

Para a pesquisadora do LabCidade da Universidade de São Paulo (USP), Isadora Guerreiro, a situação é mais preocupante em cidades que tiveram aumento de população e ainda sim têm casas vagas e déficit habitacional, pois revelaria uma dinâmica imobiliária desregulada. “Se [o município] está ganhando população, mas aumentam os imóveis vazios, aí sim a gente tem um problema imobiliário que é: as casas estão ficando vazias e por algum motivo não estão indo para a população que cresce”, pondera. 

Funcionário do IBGE aberta campainha de domicílio durante realização do Censo 2022
A cada 100 domicílios particulares, 13 estão vagos

Esse é o caso do município São Gonçalo do Amarante, em Natal. O Censo de 2022  registrou cerca de 116 mil moradores na cidade, um aumento em relação aos 88 mil do censo anterior. Porém, a quantidade de casas e apartamentos sem moradores no município quadruplicou: de 2,7 mil em 2010 para mais de 11,4 mil em 2022.

Para Guerreiro, a maior parte da nossa política habitacional investiu na construção de novas unidades e não na requalificação de unidades mais antigas porque “é o que dá mais dinheiro para o setor imobiliário. Muitas vezes o que acontece, por exemplo, num programa como Minha Casa Minha Vida, que coloca pro mercado ofertar unidades e não tem um controle sobre isso, é uma oferta gigantesca numa cidade que está com uma enorme quantidade de domicílios vagos. O que se precisa é de um conjunto de soluções habitacionais  que esteja de acordo com o perfil de cada uma das cidades, das pequenas, das médias e das grandes. Algo que será possível com a disponibilização dos dados do Censo”, conclui.

Metodologia

Os dados foram obtidos nos sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e da Fundação João Pinheiro, padronizados e analisados com Google Sheets. Os dados tratados e seus cálculos podem ser vistos na planilha.

Reprodução
Helena Pontes/Agência IBGE Notícias

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Quer entender melhor? A Pública te ajuda.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes