No sábado anterior à operação policial mais letal do país, no Rio de Janeiro, que resultou em pelo menos 121 pessoas mortas, o pastor Cristiano Meneses usou a Bíblia para afirmar, em culto na Congregação Evangélica do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), onde pregou como Deus daria vitória aos policiais, entregando seus inimigos no vale.
“Vocês vão descer contra os inimigos no vale. Os [como se Deus falasse com eles] encontrarei onde termina o vale”, disse o pastor, fazendo referência ao trecho da Bíblia, em 2 Crônicas, que narra a batalha do reino de Judá contra invasores Moabitas.
A fala aparece em um vídeo publicado no perfil do Bope do Rio de Janeiro no Instagram, postado em uma collab com a Igreja Comunidade Batista do Rio, da qual o comandante do Bope, Marcelo Corbage, faz parte. No vídeo, Corbage dá seu testemunho sobre a preparação da operação, destacando o heroísmo dos policiais e levando a crer que eles estariam sendo guiados por Deus. A peça está circulando em grupos de cristãos e de pastores, e já tem milhares de comentários no Instagram, grande parte deles em apoio aos policiais.

“No sábado, que antecedeu a operação, alguns policiais me pediram pra fazer um culto, aqui no batalhão como a gente sempre faz todo final de mês”, diz. “Tivemos muitos policiais feridos, inclusive dois policiais heróis que tombaram no combate. Momento de muita dor. E eu me lembrei dessa passagem”, afirma o comandante, sem comentar, contudo, as centenas de mortes que resultaram da ação da polícia e a imagem aterradora de corpos enfileirados no complexo da Penha, que chocou o mundo.
Corbage assumiu o Bope em junho deste ano, após exoneração do coronel Aristheu de Góes Lopes. O afastamento foi determinado pelo governador Claúdio Castro (PL) depois de uma operação do batalhão de elite durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, zona sul do Rio de Janeiro, que terminou na morte do office boy Herus Guimarães Mendes, 24 anos, e feriu outras cinco pessoas.
O atual comandante do Bope já foi investigado por corrupção e teve sua empresa de segurança envolvida em um caso de racismo, segundo reportagem da Ponte Jornalismo. Em 2015, ele foi afastado do Bope sob suspeita de desviar dinheiro de uma facção criminosa. O inquérito não encontrou, contudo, indícios de crime ou transgressão disciplinar por parte do policial.
Em 2020, a empresa Moura Corbage Serviços Gerais, da qual ele era sócio, foi denunciada por racismo depois de abordar um jovem negro em um shopping. Um dos seguranças teria apontado uma arma para o rapaz, que estava no local para trocar um relógio que havia presenteado ao pai.
A Congregação Evangélica do Bope funciona desde 2017, promovendo cultos dentro da corporação. Os policiais cristãos se identificam como “caveiras de Cristo” ou “Tropa do Louvor”, e usam referências bíblicas para justificar as ações do batalhão. “O que rege essa unidade aqui é a Bíblia sagrada, toda ação que realizamos aqui, antes de realizar eu dobro meu joelho e peço sabedoria”, diz Corbage no vídeo.

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