“Desemprego:
2002 (FHC): 10,5%
2010 (Lula): 5,3%
2014 (Dilma): 4,3%
2016 (golpe): 10,2%
2017 (Temer): 13,7%
Dados do IBGE” – Texto de imagem que circula em posts no Facebook, de autoria desconhecida.
Com a aproximação da campanha eleitoral, passaram a circular pelas redes sociais números sobre as taxas de desemprego nos mandatos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Os valores são usados para tentar mostrar qual governo tinha mais pessoas desocupadas e, com isso, defender um determinado candidato ou partido. Uma dessas publicações é uma imagem que traz dados entre 2002 e 2017, apontando Temer como o presidente com maior taxa de desemprego. A foto atribui a fonte dos números ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas a comparação é falsa.
O problema das informações citadas pela corrente está no fato de uma parte delas não poder ser comparada. Os dados do final dos governos Fernando Henrique (10,5% em dezembro de 2002) e Lula (5,3% em dezembro de 2010) e do final do primeiro mandato de Dilma (4,3% em dezembro de 2014) estão corretos e foram extraídos da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE. O levantamento verificava a desocupação em seis regiões metropolitanas – São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE) e Porto Alegre (RS) – com visitas em 44 mil domicílios.
Esses números mostram que a taxa de desocupação caiu 59% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2014. Ou seja, o desemprego foi bem menor tanto no final do segundo mandato de Lula como no do primeiro mandato de Dilma, quando comparado ao final do governo do tucano. Esses dados, no entanto, não podem ser confrontados com os de 2016 e 2017 que aparecem na imagem. Isso porque a Pesquisa Mensal do Emprego foi descontinuada em fevereiro de 2016 e a taxa de desocupação passou a ser calculada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que adota uma metodologia diferente. Os outros dois números foram extraídos dela.
Feita a cada trimestre, a Pnad Contínua é produzida a partir de visitas a 210 mil domicílios em 3.500 municípios de todas as 27 unidades da Federação. É uma amostra muito maior e mais abrangente. Para verificar a taxa mensal nos períodos entre as pesquisas, o IBGE combina dados da coleta anterior com os da atual, mantendo sempre fixo o período de três meses para a análise. Um estudo feito por técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o valor das taxas de desocupação tende a ficar em um patamar mais alto na Pnad Contínua em relação à Pesquisa Mensal do Emprego, embora a tendência se mantenha.
O porcentual de 10,2% de desocupação atribuído ao período do impeachment de Dilma é um número, na verdade, referente ao trimestre de dezembro-janeiro-fevereiro de 2016 – portanto, mais favorável à petista do que os posteriores. Na verdade, o afastamento da presidente ocorreu em maio daquele ano. De acordo com a Pnad Contínua, a taxa de desocupação em março-abril-maio foi maior e ficou em 11,2%. Já o índice de 13,7%, registrado no governo Temer em janeiro-fevereiro-março de 2017, foi o pior da série histórica e, por isso mesmo, o mais desfavorável até agora para o emedebista. A taxa caiu a 11,8% em outubro-novembro-dezembro de 2017 e voltou a subir em seguida, atingindo 12,6% em dezembro-janeiro-fevereiro de 2018.
Com base nos dados da Pnad Contínua, é possível dizer que a taxa de desocupação começou a aumentar no segundo mandato de Dilma e manteve-se alta no governo Temer. Mas é errado usar esses números misturados aos da Pesquisa Mensal do Emprego e, consequentemente, aos do final dos governos Lula e Fernando Henrique e ao final do primeiro mandato de Dilma. Esses dois conjuntos de índices adotam metodologias distintas e não podem ser comparados entre si.