
“Existe um imóvel de 400 m², instalado em um terreno de 720 m², desocupado, na Rua Paula Ney, 446, Vila Mariana-SP, avaliado em mais de R$ 2.800.000. A construção, da década de 70, faz parte do espólio do pai de um rico médico infectologista. Um legítimo membro da burguesia, da elite. Esse médico, por acaso, é o Dr. Marcos Boulos, pai do ‘sem-teto’ Guilherme Boulos, o socialista nascido em berço de jacarandá que vos manobra.” – Trecho de postagem publicada em perfil não-oficial de Alexandre Frota no Facebook no dia 1º de maio.
A publicação aponta o número 446 da Rua Paula Ney como o endereço da casa. No local, nossa reportagem encontrou o stand de vendas de um empreendimento da incorporadora Mitre Realty, que erguerá na área um prédio residencial. Pelo serviço Google Street View, entretanto, é possível encontrar imagens das fachadas dos três imóveis que antes ocupavam o terreno – um deles, o de número 446. O fato de ele não mais existir já indica que o post não é verdadeiro.

O Truco também foi buscar informações sobre o histórico da casa. Em sua certidão, o primeiro registro dá conta de que, em 1966, os proprietários eram o casal libanês Philippe Boulos, comerciante, e Mona Boulos, dona de casa. Em 1969, Philippe faleceu e, em 1975, a Justiça determinou que o imóvel ficasse para a viúva e seus três filhos, os arquitetos Seme Philippe Boulos e Felipe Boulos Junior e a advogada Kátia Boulos. Os herdeiros passaram a ser donos da propriedade em 2007, cinco anos após a morte da mãe, quando outra sentença judicial estabeleceu que a parte de Mona fosse partilhada entre eles – à época, todos eram casados.
Em janeiro de 2018, Seme, Felipe e Kátia venderam o imóvel pelo valor de R$ 8.400.135,46 à construtora Mitre Vila Mariana Empreendimentos, que, três meses depois, em abril, juntou sua matrícula à de outras duas casas, também derrubadas para dar origem ao terreno onde será construído o novo edifício. Nos registros não há menções ao nome do infectologista Marcos Boulos, professor-titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e pai de Guilherme. O post, portanto, citou outra informação falsa.
Em suas redes sociais, Guilherme Boulos já havia classificado a postagem como fake news, sem entrar em detalhes ou apresentar provas disso. Após analisarmos a certidão da propriedade e visitarmos o local, questionamos sua assessoria de imprensa sobre a relação entre o psolista e os Boulos apontados como ex-donos do imóvel da rua Paula Ney. A resposta foi de que, apesar do sobrenome igual, não há grau de parentesco entre as duas famílias. Essa informação também foi confirmada ao Truco pela família Boulos que era dona do imóvel.