Buscar

Ensaio fotográfico mostra como vivem 1200 famílias que ocupam um terreno na cidade famosa pelas cataratas

Ensaio
8 de fevereiro de 2018
09:06
Este artigo tem mais de 6 ano

Quando fui passar uma semana na Ocupação Bubas, em Foz do Iguaçu, muitos amigos só me perguntaram se eu tinha medo de roubarem meu equipamento.

Mas o que eu vi por ali é que a Ocupação Bubas é uma família surgida da indiferença com os pobres. E, como toda família, é marcada também por diversidade: uns moradores têm mais grana, outros têm mais vontade de se dar bem; um tem preguiça, outro tem mais predisposição para “tretar”, um terceiro tem mais azar, ou bebe demais. Assim é Bubas.

Foz do Iguaçu não é só a cidade das Cataratas do Iguaçu, ela é rodeada por Puerto Iguazú, na Argentina, e Ciudad del Este, no Paraguai. Na tríplice fronteira, é um leva e traz de produtos para abastecer comércios formais e informais do Brasil. Segundo relatos que ouvi por ali, nos últimos dez anos os agentes da Receita Federal intensificaram a fiscalização contra os muambeiros e, assim, muitos moradores se viram em declínio financeiro. Resultado: já não podem arcar com a cesta básica, aluguel, água e luz. Esse é o caso da quase totalidade dos moradores da Ocupação Bubas.

Desde 2013, cerca de 1.200 famílias começaram a ocupar uma antiga área de plantação de soja. Segundo análises feitas pela Universidade da Integração Latino-Americana (Unila), através de fotos de áreas da região, há anos o terreno não estava sendo usado.

A organização foi espontânea, cada um respeitando o lote do outro. Três lideranças emergiram e cuidam dessa grande família: Rose, Maria e Cumpadre. Eles mantêm a comunidade sob suas rédeas; poucos são os filhos revoltados que fogem do controle e quebram o padrão de comportamento local, fazendo que a tranquilidade seja a norma a ser seguida. Problemas? Tem. Mas em qualquer local com mais de dois indivíduos, em algum momento, haverá conflitos de interesses.

Em 2017, o juiz Rogério Vidal Cunha, titular da 2ª Vara da Fazenda Pública de Foz do Iguaçu, emitiu uma sentença indeferindo a liminar favorável à reintegração de posse e revogando a medida que determinava a saída das famílias. A regularização fundiária depende agora de arranjos políticos entre o estado e o proprietário, Francisco Buba Júnior, que afirma estar disposto a negociar.

Durante dois anos, Bubas cresceu sob o esquecimento da cidade. Em setembro de 2015, após uma chuva de granizo que danificou praticamente todas as moradias, uma onda de comoção elevou-os à atenção de grande parte da população, que levou doações e ajudou na reconstrução dos barracos. Em 2014, após uma proposta de remoção para uma área afastada da cidade, grupos ligados às Brigadas Populares e à Unila intervieram para explicar aos ocupantes o direito à cidade, a importância da memória afetiva e a autonomia. Hoje, uma voz praticamente uníssona ecoa na ocupação: “Não queremos nada de graça, queremos pagar”.

Não fui para Foz do Iguaçu pelas cataratas – escrevo em minúscula mesmo – fui pela Ocupação Bubas, sem nenhum medo de roubarem meu equipamento. Encontrei uma família.

Os ensaios fotográficos da Agência Pública não podem ser republicados. Todos os direitos reservados.

Não é todo mundo que chega até aqui não! Você faz parte do grupo mais fiel da Pública, que costuma vir com a gente até a última palavra do texto. Mas sabia que menos de 1% de nossos leitores apoiam nosso trabalho financeiramente? Estes são Aliados da Pública, que são muito bem recompensados pela ajuda que eles dão. São descontos em livros, streaming de graça, participação nas nossas newsletters e contato direto com a redação em troca de um apoio que custa menos de R$ 1 por dia.

Clica aqui pra saber mais!

Se você chegou até aqui é porque realmente valoriza nosso jornalismo. Conheça e apoie o Programa dos Aliados, onde se reúnem os leitores mais fiéis da Pública, fundamentais para a gente continuar existindo e fazendo o jornalismo valente que você conhece. Se preferir, envie um pix de qualquer valor para contato@apublica.org.

Ensaios

O copyright das imagens publicadas nesta seção é dos fotógrafos aqui creditados. Os ensaios não estão disponíveis para republicação. Para entrar em contato com os autores das imagens envie um e-mail para contato@apublica.org.

Faça parte

Saiba de tudo que investigamos

Fique por dentro

Receba conteúdos exclusivos da Pública de graça no seu email.

Artigos mais recentes