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Bolsonaristas apostam em Trump para blindar Bolsonaro de “perseguição política”

19 de fevereiro de 2025
17:10

Após a apresentação da denúncia contra Jair Bolsonaro (PL) pela Procuradoria-Geral da República (PGR), bolsonaristas têm apostado em Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, como o possível “salvador” de seu líder. O discurso da extrema direita nas redes que busca esperança no exterior se conecta com outros dois eixos de argumentação: que os crimes imputados a Bolsonaro seriam frutos de perseguição política e que instituições brasileiras seriam parciais. 

É o que aponta relatório da Palver, empresa especializada em análise de trends nas redes sociais, compartilhado com a Agência Pública. A pesquisa analisou as citações à denúncia da PGR desde 22 de novembro do ano passado até hoje (19) às 12h, em uma amostra que reúne mais 90 mil grupos no WhatsApp, 4 mil grupos no Telegram e 10 mil perfis no TikTok, além de outras redes.

De acordo com o documento apresentado ontem pela PGR, Jair Bolsonaro foi o “líder” de uma organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado no Brasil a fim de mantê-lo no poder. Entenda quais são as provas do relatório que baseou a denúncia. 

A pesquisa da Palver indica que a repercussão da denúncia foi mais forte entre bolsonaristas do que entre outros grupos que compuseram a amostra. Ainda que o estudo tenha sido conduzido em grupos e perfis de diferentes espectros políticos e temas, os três eixos temáticos principais trazem os argumentos da extrema direita sobre a acusação contra seu principal líder.  

Ainda que a denúncia tenha sido apresentada ontem à noite, o coordenador de inteligência e análise da Palver, Lucas Cividanes, avalia que “o tema já estava aquecido nas redes”, por se tratar de uma decisão esperada. No último dia, as menções cresceram mais de 35 vezes no WhatsApp e 100 vezes no Telegram. 

A esperança em Trump 

“A narrativa de que Bolsonaro é perseguido está sendo bastante explorada, procurando trazer elementos novos, como uma eventual participação de Trump”, explicou Cividanes à Pública. O estudo aponta que os apoiadores do ex-presidente questionam o fato de que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado e conectam as punições relacionadas àquele dia a uma “vingança política”, promovida por instituições supostamente parciais, como o Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns conteúdos caracterizam a apresentação da denúncia da PGR como uma tentativa de “desviar a atenção dos protestos marcados para 16 de março”, ainda que ela seja parte de um processo judicial em andamento há anos. 

Nesse cenário, uma suposta “intervenção do governo Trump” é vista como a esperança dos bolsonaristas, que fizeram postagens nesse sentido. A pesquisa elencou posts que se baseiam em notícia da Folha de S.Paulo que aponta que Steve Bannon, ex-estrategista- chefe de Donald Trump, teria conversado com Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, sobre estar preocupado com uma denúncia contra Bolsonaro. Além disso, a reportagem identificou que deputados, como Carlos Jordy (PL-RJ), que foi líder da oposição na Câmara em 2023 e 2024, citaram a apresentação de uma ação contra Alexandre de Moraes por uma empresa de Trump nos Estados Unidos como reação aos acontecimentos de ontem. 

A Pública tem acompanhado as articulações lideradas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no exterior e já mostrou, por exemplo, como uma comitiva de deputados tentou articular punições contra o Brasil no início do ano passado. 

A defesa de que só Trump e o apoio internacional poderão “salvar” a extrema direita no Brasil também perpassa o discurso dos deputados e influenciadores bolsonaristas. No início do ano passado, por exemplo, uma comitiva de deputados fez uma coletiva em Washington para denunciar uma suposta ditadura e pedir apoio internacional contra o Judiciário brasileiro. Ainda que a extrema direita deposite suas esperanças em possíveis ações de Trump, não fica claro de que forma ele poderia influenciar na Justiça brasileira, que é soberana. 

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