Vídeos com falas reais ou distorcidas do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram o conteúdo mais compartilhado em aplicativos de mensagens durante todo o dia 10 de setembro, de acordo com a Palver, empresa especializada em análise de trends nas redes sociais, a partir da análise de 100 mil grupos de WhatsApp e 5 mil do Telegram. O pico ocorreu às 23h, quando cerca de 3 mil mensagens a cada 100 mil tratavam do tema.
Os cortes dão a entender que Fux teria supostamente votado para inocentar a todos do julgamento e que votar de forma divergente a ele seria se mostrar conveniente com a instauração de uma ditadura no Brasil. Contudo, o ministro, sozinho, não tem poder de anular o julgamento. Do total, 72% das menções nos grupos foram contrários à condenação de Jair Bolsonaro, enquanto 22% eram favoráveis.
“A grande maioria dos vídeos eram de cortes das falas de Fux sem manipulação, mas quase sempre junto com chamadas desinformacionais do tipo: ‘Fux anula julgamento de Bolsonaro’, ou ‘Bolsonaro é inocente'”, afirma Lucas Cividanes, coordenador de Inteligência da Palver. “Além disso, algumas mensagens davam a entender que Donald Trump e os EUA acompanhavam de perto os votos do julgamento.”
Vários influenciadores de extrema-direita se pronunciaram, mas se destacaram o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e o ex-deputado e ex-procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol. “Gayer foi estava em um movimento para impulsionar a hashtag ‘Honra a Toga’. Segundo ele, era preciso gerar mais repercussão que a hashtag ‘Fux apoia golpista’, pois a narrativa sobre quem ‘quem venceu’ dependeria disso. Já Dallagnol foi compartilhado por ressuscitar a frase ‘In Fux We Trust’, exposta durante a ‘Vaza Jato’, através de memes”, diz Cividanes.
De acordo com o Aos Fatos, políticos bolsonaristas como Nikolas Ferreira (PL-MG), Zucco (PL-RS) e Carlos Jordy (PL-RJ) agiram em conjunto para impulsionar trechos do voto do ministro, que ganharam mais de 1 milhão de interações nas redes sociais em menos de quatro horas.
Na bolha bolsonarista, predominou a narrativa de que Fux teria “acabado com a farsa” de julgamento imparcial, que ele “honra a toga” e que haveria uma suposta perseguição dos demais ministros da Corte, segundo a Palver.
Antes do início do julgamento, outra análise da Palver mostrou que debates nos aplicativos de mensagens estavam intensos, mas não “furaram a bolha”, ou seja, se restringiram a grupos de direita ou esquerda e não alcançaram o público geral de forma ampla.
Mesmo com maioria bolsonarista, redes progressistas defenderam condenação de Bolsonaro
Na esfera progressista, por outro lado, a maioria dos conteúdos fala sobre contradições no voto de Fux – incluindo o fato do ministro ter votado sim pelas condenações de outros condenados pelo 8 de janeiro – e apontavam a expectativa sobre o voto da ministra Cármen Lúcia, que, no dia seguinte, deu o voto que firmou maioria pela condenação do ex-presidente.
Segundo a análise, 22% dos conteúdos compartilhados no dia eram favoráveis à condenação de Bolsonaro.